Em geral, os livros didáticos usados no Brasil apresentam bem mais conteúdos negativos do que positivos em relação ao agronegócio. É o que constata recente publicação que se propôs a avaliar como o setor é abordado na sala de aula.
Organizado pelo projeto De Olho no Material Escolar e com análise da equipe da Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo (FIA-USP), o relatório “O retrato do agronegócio na escola” mapeou 746 citações negativas ao setor produtivo contra 472 menções positivas. Ou seja, diferença de quase 60%.
Para se chegar a essa diferença, a equipe do projeto teve como amostragem 94 livros didáticos, de dez editoras diferentes. Ao todo, foram mais de nove mil páginas analisadas em mais de três mil horas de trabalho — que contou na linha de frente com cinco analistas de tiragem de conteúdo e sete especialistas em agronegócio.
O setor rural brasileiro é dinâmico, de alta tecnologia, sustentável e de grande importância econômica para o País, além de destaque internacional. Mas muitas vezes o retrato do agronegócio nos livros escolares é o oposto: por falta de dados científicos atualizados, imprecisões e outros critérios questionáveis, ele é majoritariamente associado a destruição ambiental, exploração, doenças, conflitos e outros problemas. Essa é uma das conclusões de um novo estudo da FIA/USP, a partir da análise de quase cem livros didáticos utilizados nos ensinos Fundamental I e II e no Ensino Médio.
O estudo, solicitado pela Associação De Olho No Material Escolar, reuniu 12 analistas de conteúdo e especialistas do agronegócio, durante mais de 3 mil horas, para avaliar de forma isenta mais de 9 mil páginas de dez das principais editoras que fornecem livros para o Plano Nacional do Livro Didático (PNLD), utilizados nas redes pública e privada em todo o Brasil.
Foram identificadas 746 passagens negativas (ou “fortemente negativas”) sobre o setor rural nos livros da amostra, 60% a mais que menções positivas. Monocultura, desmatamento, uso de agroquímicos e problemas fundiários são temas recorrentes, sendo a absoluta maioria em textos autorais e opinativos, o que só reforça a preocupação da Associação.
“Para nós da De Olho no Material Escolar, é fundamental que crianças de todas as regiões do país tenham acesso a informações legítimas sobre sustentabilidade, tecnologia e inovação no campo e os impactos dessa prosperidade nas cidades. Por meio de uma educação atualizada, com base científica e transformadora, queremos estimular desde cedo nos estudantes sentimentos como encantamento e esperança com as novas oportunidades que vem se abrindo”, explica a presidente da entidade, Letícia Jacintho, que completa: “O setor tem grandes desafios, sim, mas a atividade evoluiu e queremos que fique clara aos alunos a realidade atual do agronegócio”.
Pontes – Criada em junho de 2021, a Associação atua em cinco frentes para construir pontes entre instituições acadêmicas ligadas ao segmento agroindustrial brasileiro e o setor educacional, especialmente as editoras de livros escolares, além de educadores, pais e estudantes. Antes de procurar a FIA/USP, o movimento teve diversas reuniões com representantes da área para conhecê-los, promover esse relacionamento e disponibilizar ferramentas tecnológicas e informações científicas que deem uma dimensão mais sistêmica da relação campo-cidade, por exemplo.
Outro ponto crítico é como uma imagem distorcida do setor pode ameaçar a sucessão geracional. Letícia Jacintho acredita que, com base em exemplos da agroindústria, é possível oferecer aos jovens uma perspectiva de futuro profissional e garantir a continuidade da produção, outra das linhas de atuação da Associação.
Crescimento – No ano passado, De Olho no Material Escolar teve um crescimento de 158% no número de associados e hoje está presente em 16 estados e mais de 90 cidades, além de contar com cerca de 30 empresas apoiadoras e o suporte de dezenas de entidades e profissionais envolvidos, incluindo o apoio direto dos principais centros de pesquisa brasileiros, como Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), que oferecem a base científica para a entidade.
Em 2022, a associação esteve nos quatro cantos do país compartilhando informações relevantes sobre o setor rural. Foram mais de 26 eventos, nas maiores exposições do país, e quase 9.000 alunos e mestres da rede pública e particular, do ensino fundamental e médio, convidados a conhecer a realidade da produção rural atual, no projeto “Vivenciando a Prática”.
Próximos passos – Agora o desafio é avançar ainda mais nessa nova relação positiva entre todos os envolvidos: editoras, educadores e estudantes, assim como toda a sociedade civil.
Mais informações sobre os eixos de atuação da De Olho no Material Escolar estão disponíveis em https://deolhonomaterialescolar.com.br/ .