Quando a Lilian estava comigo, tinha dias em que, em razão da sua doença, a minha vontade era de desaparecer no fundão de uma floresta e ficar lá, sozinho, absorvendo a minha solidão.
Passados alguns dias desde a sua partida a ausência dela transformou a minha vida. Por onde passo vejo seu rosto nas fotos espalhadas por todos os cantos. O silêncio invadiu a minha casa, e de tal forma que chega a doer. A cada movimento que faço parece que alguma coisa me impulsiona ao local onde ela estava, no quarto, deitada no sofá da sala, na cadeira de rodas na área dos fundos, então eu paro e volto.
Ouço ela me chamando para apagar a luz, me pedindo alguma coisa, ou apenas para dizer que me amava muito, que eu sempre fui o amor da vida dela. E agora, essa quietude sem sentido e a ausência dela são insuportáveis.
Vivemos juntos mais tempo do que vivemos na casa dos nossos pais. Foram 62 anos de feliz convivência, incluindo o tempo de namoro. Acho que dá para imaginar o que isso significa. Com ela eu vivia num paraíso.
Minha vida, agora, se transformou num filme que passa pela minha mente a todo o momento.
Vejo as cenas do início do nosso namoro, quando conversávamos sentados pelos cantos no pátio do antigo Colégio Madre Margarida, e daí em diante, tudo o que vivenciamos, tudo o que fizemos juntos, dos sonhos que tornamos realidade, e de forma especial dos momentos felizes. Tudo aparece na minha mente.
Lembro do encanto do sorriso dela, das suas broncas, de quando ficava perto de mim, dos abraços apertados, das músicas que ouvíamos juntos, das conversas no jardim sob a luz da lua e do brilho das estrelas, da vontade férrea que ela tinha de fazer as coisas acontecerem.
Sinto muita falta dela. A ausência dela me perturba. E mesmo nesse pequeno espaço de tempo já cheguei à conclusão de que vou viver o resto do meu tempo amando essa mulher que mudou completamente a minha vida.
Por tua causa, Lilian, a minha vida valeu a pena. Lamentavelmente vou ter que continuar, agora sozinho. O sol e as estrelas vão continuar brilhando, e quando eu olhar para cima, vou te ver sempre, sentada numa delas, dizendo baixinho só para mim ouvir que sempre serás minha.
Por isso, quando me virem sorrindo, quero que todos saibam que estou sorrindo porque a Lilian existiu e fez parte da minha vida.
Te amo.