William Somerset Maugham nasceu em Paris, em 25/01/1874, Filho de um diplomata britânico, o pai providenciou que seu nascimento se desse na Embaixada Britânica, evitando, assim, a obrigação de que se envolvesse em futuras guerras francesas. Tecnicamente, ele nasceu em território britânico. Ficou órfão muito cedo, se não me engano com dez anos, tendo sido educado por um tio, vigário de Whitstable.
Formou-se em medicina na Alemanha e em Londres, mas nunca chegou a exercer a profi ssão. Dentre suas diversas atividades, trabalhou como espião do Serviço Secreto Britânico e aproveitou esse tempo para escrever uma coleção de contos sobre um espião cabeludo, distante e sofisticado, chamado Ashenden, livro que posteriormente Ian Fleming citaria como uma de suas influências para criar o seu famoso James Bond.
Tornou-se um escritor famoso. No dia 22.10.1976 comprei dele o livro intitulado O Fio da Navalha, que reli na
semana passada. As anotações que fiz naquela época (as faço a lápis para não estragar o livro) são completamente diferentes das que fiz agora. Naquele tempo chamou-me atenção o personagem Larry Darnel, um homem desinteressado de riqueza e posição, que renunciou a tudo na busca, pelo mundo afora, do sentido
da vida e do Absoluto.
Na leitura recente me impressionei por Elliot Templeton, um homem rico, cujo único objetivo na vida era o de manter uma alta posição na sociedade, promovendo festas espetaculares, regadas a bons vinhos e comida farta, para as quais toda a alta sociedade era convidada e comparecia. Morreu sozinho, abandonado por todos aqueles que pensava fossem seus amigos, e pelos novos ricos, que mais jovens o consideravam um velho ultrapassado.
Larry adorava a solidão, uma cabana de madeira no alto de uma montanha no meio da floresta. Considerava maravilhosa a sensação de poder acender o fogo numa lareira quando fazia frio, de saber que não havia ninguém na vizinhança a perturbar a sua paz, de baixar o olhar e ver à frente dele o lago e os animais que dele se aproximavam para beber água. Alguns dias antes de falecer, Elliot disse a um dos poucos amigos que lhe restaram e que ainda frequentavam a sua casa a seguinte frase, que me marcou agora:
“Estou cansado do mundo. Cheguei a uma época da minha vida em que meu desejo é apreciar os encantos da natureza.” Aproveitando o que disseram Rui Barbosa e Elliot repito: depois de ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra; de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem- -se os poderes nas mãos dos maus…, cansei do mundo, cheguei a uma época da minha vida em que o meu desejo, agora, e apenas apreciar os encantos da natureza.
Encantado, 24/01/2023