Em artigo anterior manifestei publicamente o desejo que tenho de afastar dos meus interesses pessoais tudo que se relacione a assuntos políticos. Do jeito que as coisas andam aqui no Brasil e no mundo, eu estou enojado, e para ser franco, já faz tempo que sinto necessidade de fazer em mim uma profunda higienização mental.
Obviamente, sempre que penso nisso lembro de Epicuro.
Depois de viajar muito, conversar com filósofos e também expor a eles suas ideias, Epicuro retorna a Atenas com a intenção de fundar uma escola de filosofia. Tinha, então, 35 anos. Dois de seus discípulos decidiram comprar e lhe dar de presente uma casa, afastada da cidade, aonde existia um grande jardim. Nesse local, com um grupo de pessoas com a mesma afinidade intelectual o filósofo fundou a sua escola.
Após a derrota na guerra do Peloponeso e já ao final da sua claudicante democracia, Atenas vê seu ideal de formação do homem político perder sentido, e por isso, a escola de Epicuro transformou-se num refúgio para os dias sombrios que se avizinhavam. Epicuro ensinava que os filósofos não deveriam se preocupar com os assuntos da polis (cidade).
Entendia a política como uma área conflituosa que na realidade só produz atrito e desventura. Entendia ser melhor que os homens, mulheres, cidadãos ou escravos, velhos e moços, todos, enfim, se recolhessem em um lugar seguro, um jardim longe da cidade, para que nesse lugar pudessem encontrar a paz, a alegria e os prazeres mais simples da vida, distante das confusões e das mudanças que os homens públicos produzem na História, geralmente de forma errada.
No seu jardim os cidadãos poderiam se relacionar de forma horizontal, sem distinções de qualquer espécie. Qualquer um poderia entrar ali para comer, beber – moderadamente, claro – discutir filosofia e a evolução da vida, em busca da eliminação dador e da felicidade.
É uma pena que na maioria das vezes, no decorrer da nossa existência, a gente perca tempo se envolvendo intensamente com política e com políticos, pensando que vamos mudar o mundo, quando a maioria deles geralmente nos decepciona, já que só visam obter vantagens pessoais e poder. No Jardim de Epicuro e na sua filosofia nós aprendemos que não precisamos de muita coisa para sermos verdadeiramente felizes.
Depois de tantos anos de envolvimento e vendo que nada se consegue modificar concretamente, é num lugar assim, como no jardim do filósofo, lendo meus livros, falando sobre eles e apreciando a natureza, reitero, que eu pretendo de viver o resto dos dias da minha vida, completamente indiferente e afastado dessa turbulência generalizada e inconsequente que me perturba.