William Golding (1911-1993) foi um escritor inglês de obras importantes no contexto literário mundial. Em 1954, publicou a sensacional novela “O Senhor das Moscas”, na qual analisa a origem da maldade humana.
A história se passa numa ilha deserta, num tempo e num lugar não especificado. Um avião transportando crianças entre 4 e 14 anos cai, todos os adultos morrem e só elas sobrevivem. Ali, sozinhas, sem pais, sem uma figura de autoridade, de hierarquia, sem exemplos resultantes da civilização, as crianças se transformam.
Três personagens se destacam: Half, um menino bonito, bem estruturado, é uma espécie de diplomata, bem-falante, convincente, democrático. Jack, porém, com a mesma compleição física, é diferente. É colérico, um guerreiro, nada diplomático, um caçador. A terceira figura é “Piggy”, chamado porquinho porque é um menino gordinho, pequeno, que usa óculos do tipo fundo de garrafa, o mais intelectualizado deles. É um erudito, um estrategista, um moderado, e se torna o conselheiro de Half. Passeando pela praia, Piggy encontra uma concha. Quando assoprada, ela produz um som muito potente. Ao voltar, entrega a concha a Half, que a faz funcionar. Ouvindo o forte ruído no ar, todas as crianças que estavam perdidas pela ilha se aproximam em torno dele, e ele se torna o líder do grupo.
Como primeiras providências, Half determina manter uma fogueira sempre acesa, para que, se alguém visse o fogo, viesse salvá-los e encontrar comida e um abrigo. Ele estabeleceu que os meninos não entrassem na floresta porque considerava isso perigoso. Já Jack formou um grupo contrário, que não aceitava as normas estabelecidas, se embrenhava na floresta para caçar e se tornou agressivo, perseguidor dos que não o obedeciam. O conflito acabou sendo inevitável e mortal. Jack acabou convencendo os meninos que o cara era ele, e a maioria o seguiu. Tornaram-se como que uns animais selvagens, sem nenhuma regra para contê-los.
Não dá para contar tudo aqui nesse pequeno espaço, claro, mas esse grupo ficou tão violento que acabou matando Piggy, o conselheiro moderado, e perseguindo os meninos que se postaram do lado bom da força.
Na história, William Golding contesta a teoria de Rousseau, de que o ser humano nasce bom e que é a sociedade que o corrompe. Rousseau defendia a tese de que os homens eram livres e felizes enquanto viveram no estado natural. Ele foi o filósofo que influenciou a Revolução Francesa (para mim, de triste memória). Foi Rousseau o escritor de um livro sobre a educação que tem o título de “Emílio ou Da Educação”, inspirador de educadores no mundo inteiro até hoje. Foi Rousseau que, casado com uma mulher que sempre tratou como se fosse sua empregada, com ela teve cinco filhos e os colocou, todos, repito, logo que nasceram, num orfanato. Esse é o educador que influenciou o mundo com suas ideias.
A conclusão que tirei da história é a de que a maldade humana é inata e chega ao nível da barbárie quando o objetivo é exclusivamente a busca pelo poder. Que o homem tem, desde a infância, princípios substanciais de bondade, mas também de maldade, que o perverte, seja ele culto, educado ou não. Quem sabe seja essa a origem do nosso “pecado original”.
A obra é uma aula sobre a causa da maldade humana e deixa questionamentos. Entre outros: a cultura nos transforma? Seria a infância sinônimo de inocência? Será que o ser humano se transforma num animal quando a agressão de outro atinge o limite da segurança pessoal, da sua própria vida?
E quem é “O Senhor das Moscas”? É a assustadora cabeça de um porco que Jack e seus seguidores instalam num monte, com moscas em volta, que eles dizem ser um demônio que só eles controlam.
Leiam a novela e tirem suas próprias conclusões. Vai valer a pena.