Se a pessoa não está bem na vida, nos negócios, nos empregos, a culpa não é dela, é do chefe, da má sorte, da mulher, dos filhos, dos outros, que não ajudam, não auxiliam, não a entendem, naquele, enfim, em quem depositou o controle da sua vida. E depois de transferir as responsabilidades, mesmo depois de proceder assim, ainda acaba ficando desanimada, desinteressada de tudo, nervosa, cheia de problemas emocionais. Então cria uma espécie de álibi. A culpa nunca é dela. E acaba terceirando o contratempo para fugir dele.
Já devo ter contado isso por aí, mas nunca é demais repetir. Quando eu era criança, mesmo com a minha limitação física, meus pais nunca me davam colher de chá. Eu tinha que trabalhar, como tirar a poeira e lustrar o chão da casa, lavar e secar a louça sentado num banquinho diante da pia.
Muitos pais, naquele desejo de proteger os filhos, resolvem fazer as coisas por eles. Na verdade, essas crianças acabam se transformando em adultos medrosos, fracos, sem forças para enfrentar os problemas que surgirão pelos caminhos das suas vidas.
Mais tarde comecei a colecionar santinhos. Guardava todos numa caixa de sapatos separados por tamanho e presos com essas borrachinhas de amarrar dinheiro. Todas as noites eu escolhia um santo e pedia a ele para resolver o meu problema, que era fazer com que eu caminhasse como meus amiguinhos. Nem era um pedido muito complicado de ser atendido, mas não funcionou. Nenhum deles me atendeu. E olha que era uma caixa de sapatos completamente cheia daquelas imagens.
Depois que li Fausto, de Goethe, tentei mais uma vez. Nessa história, Fausto era um homem extremamente inteligente, mas que ainda não possuía tudo aquilo que queria. Certo dia conheceu um demônio chamado Mefistófeles, e faz com ele um acordo, assinado com sangue: vendeu-lhe a alma em troca de ter todos os seus desejos realizados pelo prazo estipulado,
Depois de ler a obra fiz mais uma tentativa, pedindo a mesma coisa que pedira aos santos. Também não funcionou. O diabo também não me deu bola.
Daí em diante optei por resolver os meus problemas sozinho. Seria eu quem tomaria as minhas decisões, com força de vontade e determinação, mais ninguém.
Ouvir conselhos é bom. Deve-se ouvi-los sempre. Mas decidir sobre o que se vai fazer é outra coisa. Quem escolhe o caminho que vamos dar às nossas vidas somos nós, mais ninguém. A decisão é nossa. E é uma decisão que implica em termos que assumir a responsabilidade decorrente, que não pode ser nunca transferida a terceiros.