Novembro Azul
“Engole esse choro, homem!” Quem nunca ouviu essa frase na infância? O menino que cai do balanço e segura o soluço para não parecer fraco. O adolescente que, em segredo, sente o nó na garganta após uma rejeição, mas engole seco para não “pagar de frágil”. E o adulto, ah, o adulto… que encara reuniões intermináveis e boletos impiedosos com a cara de quem está sempre “de boa”. Mas será que está mesmo?
Os homens carregam um superpoder que ninguém pediu: o da blindagem emocional. A sociedade, essa treinadora exigente, os molda desde cedo para a resistência. “Homem não pode sentir medo, nem insegurança, muito menos tristeza!” Só alegria e raiva estão no pacote socialmente permitido, e, de preferência, a raiva seja expressa de um jeito que reafirme sua força, tipo gritando no futebol ou discutindo sobre um carro quebrado.
Mas vamos combinar: ser forte o tempo todo cansa! O coração humano, esse órgão que trabalha incessantemente, também gosta de aliviar a carga de vez em quando. É como se houvesse um clube secreto dos sentimentos reprimidos que se reúne dentro dos homens. “Sejam bem-vindos, fantasmas da preocupação, ansiedade disfarçada de tensão muscular e aquele arrependimento que só aparece quando o travesseiro encosta no rosto.”
E o que fazer com isso tudo? Uns tentam sublimar no churrasco, outros encontram refúgio no som do motor de uma motocicleta. Mas, no fundo, todos querem uma coisa simples: espaço para sentir. Só isso. Sentir medo, tristeza, dúvida, vulnerabilidade. Chorar no meio de uma conversa sem medo de julgamento, abraçar alguém e não soltar rápido demais para não parecer emotivo, desabafar sem precisar mascarar com piadas.
Esse texto não é para apontar dedos, mas para fazer um convite. Vamos desprogramar esse “software masculino” que foi instalado à força. Vamos ensinar aos meninos que sentir não é fraqueza, é humanidade. E vamos dizer aos homens que está tudo bem dizer “não sei” ou “estou com medo”. Ser homem não precisa ser carregar o mundo nas costas – e, sinceramente, nem dá tempo para tanto, com a quantidade de contas que a vida já nos manda.
Então, da próxima vez que aquele nó na garganta aparecer, que tal deixar ele sair em forma de palavras ou, quem sabe, até lágrimas? Homem não chora? Talvez só não tenha tido a chance de aprender como. É hora de reescrever essa história – com mais sentimentos, menos pressão e, quem sabe, um chorinho de alívio no final. Afinal, até as tempestades limpam o céu depois de chover.