Volta às aulas
Todo ano a mesma discussão vem à tona início do ano letivo. Não somente em Encantado, mas nos municípios vizinhos, a briga dos pais pelos “direitos” dos seus filhos mais uma vez entra em debate. E o mesmo filme passa pela minha cabeça.
Há 30 anos não existiam creches e como todos outros, meus pais, precisavam trabalhar. Minha avó e minha, pra ajudar minha mãe tomavam conta de três netos, diariamente e incansavelmente.
Quando completei cinco anos foi inaugurada a Creche Pequeno Príncipe. Lá iniciei no pré e já sabia ler e escrever e pasmem, quem me ensinou foi minha mãe, costureira que havia cursado apenas a 7ª serie, e que na época trabalhava em Lajeado. Sim. Ela saia de casa as 6 horas da manhã e retornava por volta dás 19h30min. Quando chegava, além dos afazeres arrumava tempo para auxiliar na minha alfabetização.
No ano seguinte, veio a 1ª serie, na época o zoneamento era bem rígido e ninguém tinha direito de escolher a escola que gostaria de estudar. A minha escola de referência era a Érico Verissimo.
Sim, tive alguns problemas na escola e minha mãe tentou pedir transferência. A resposta foi que somente sendo expulsa teria como estudar em outro lugar.
Agradeço muito por não ter trocado, passado todos os problemas, posso afirmar que nessa Escola, que era tão discriminada na época, eu tive uma educação de qualidade.
Outra lembrança que tenho era da mensalidade cobrada, na época meus pais não tinham muitas condições, mas pra mim era uma alegria poder pagar todos os meses os R$ 5,00 do CPM. Coisa que hoje não é levado a sério, muitos pais acham que é obrigação do Poder Público arcar com todas as despesas da educação do seu filho, não penso assim, a colaboração dos pais na escola é o que a fortalece e junto com ela vem todo o engajamento e comprometimento do aluno.
15 anos depois, a vida me presenteia com um irmão, a Educação de Encantado já vivia outros tempos. Aos dois anos meu irmão foi diagnosticado com déficit de atenção e hiperatividade, teve vaga em creche mas não se adaptou. A opção que tivemos foi minha mãe trabalhar a noite e meu pai de dia, eu estudava pela manhã cuidava do meu irmão a tarde.
Logo chegou a fase da alfabetização dele, por ter problemas no aprendizado, fomos orientados a procurar uma escola de fácil adaptação. Como minhas primas estudavam no Farrapos, essa escola foi a nossa opção, lembrando que é estadual não tem direito a transporte escolar, e se tivesse não estaria dentro do nosso Zoneamento. Assim, por mais de oito anos a família (incluindo tios, primos), se revesou para levar e buscar ele na escola. A pé, de carro, bicicleta… Foi nossa escolha que ele estudasse naquela escola, então o transporte ficava por nossa conta. Mas não foi tão fácil como parece esse relato. Como irmã, abri mão de muitas coisas por ter o compromisso de as vezes levar e sempre buscar meu irmão na escola, durante todos esses anos. Mas isso é mais que obrigação da família, é também amor, doação.
Penso que é dever do Poder Público oferecer infraestrutura e profissionais qualificados para atender as necessidades de cada escola. O transporte escolar é concedido ao aluno matriculado em escola que esteja localizada a uma distância mínima de dois quilômetros do seu endereço de origem. Também é dever da escola promover um ambiente saudável, igualitário e que entenda e atenda às necessidades de cada aluno. É dever da escola, ensinar matemática, português, história, geografia, inglês, educação física. Mas é dever dos pais educar e auxiliar na formação de cada aluno. E pra finalizar eu preciso deixar essa reflexão:
A Escola, ‘aquela escola’ não salvará o seu filho, mas sim os ensinamentos que ele tem em casa. Pense nisso!