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REPORTAGEM ESPECIAL | “Somos o colono que virou motorista e o motorista que virou colono”, Agostinho e Samuel Orsolin

“Aprendi a dirigir quando compramos uma Brasília amarela na Mopese. Eu tinha 15 anos. Quem me ensinou foi o Marquinho Busenello. No terceiro dia de aula, ele e o Sérgio Busnello me levaram até o pé do morro da Guabiroba e, a partir daí, fui sozinho para casa. Esse foi o primeiro passo do jovem agricultor Agostinho José Orsolin a ingressar na profissão que logo adiante assumiria, a de motorista de caminhão. “Olha como é a vida: meu filho Samuel começou como motorista e agora vai assumir a granja. Invertemos. Eu nasci colono e virei motorista, ele começou como motorista e agora volta para a atividade primária”, fala Baixinho, ex-vereador e ex-prefeito de Encantado, que tão logo deixou a vida pública, voltou para a estrada. “A política me deixou mais pobre economicamente e mais rico em relacionamentos”.

Pionerismo

Baixinho lembra que foi o primeiro a dirigir um caminhão bitrem (uma combinação de dois semirreboques acoplados entre si) do Vale do Taquari, lá nos anos 90. “Fui para a estrada cedo. Em 1980, comecei uma sociedade com o Churrasco (Nilvo Sangalli) e ali ensinei 19 motoristas a dirigir caminhão; apenas dois ou três não foram bem. Eu doutrinava para que cuidassem de suas vidas e das vidas dos outros, evitando acidentes. Todos querem andar na frente, eu como líder também e sempre alertei que para ultrapassar é preciso se preparar. Se decidiu ir, vá, mas se constatar que não é possível, é importante saber voltar”. Baixinho, nestes mais de 40 anos de estrada, se envolveu em apenas um acidente, e foi justamente para salvar as pessoas do carro que vinha na contramão. “Tombei o caminhão para não bater”, recorda.

Meu pai é minha maior inspiração

Aos 39 anos, Samuel, filho mais velho de Nelci e Agostinho Orsolin, tem suas memórias de infância ligadas à estrada. “Quando chegavam as férias da escola, eu viajava com meu pai. Lembro das vezes em que ele me colocou no colo para eu dirigir. Meu pai é minha maior inspiração, meu exemplo, meu amigo e companheiro de trabalho. Outra pessoa que me incentivou foi o Churrasco. Ele apostou muito em mim. Quando tinha 15 anos, ele me levou até a Brasdisel (Lajeado), onde recebeu um bitrem novo. Ali, entregou-me a chave para que eu levasse o caminhão a Caxias do Sul para acoplar a carreta e, de lá, seguir para Porto Alegre, onde carreguei e retornei para o superporto de Estrela. Ele foi, com certeza, muito corajoso. A mãe é que ficava muito preocupada, porque nem carteira de motorista eu tinha”.
A estrada nos proporcionou o suporte financeiro para o sustento da família e os investimentos que realizamos, destaca Baixinho: “a estrada me oportunizou conhecer de ponta a ponta um país gigante, continental, vivendo um dia numa cidade rica, no outro com muita miséria. A fartura e a escassez, todos os climas e culturas. O lado negativo de ser motorista é a saudade, as estradas ruins, impostos e taxas, e a violência. Antigamente, você parava para ajudar um companheiro parado na estrada, hoje em dia não sabe se vai ser assaltado”.

A mulher e o caminhão

Em 10 anos, metade dos caminhões será dirigida por mulheres, sentencia o experiente caminhoneiro. “As mulheres têm mais paciência, são caprichosas e sabem suportar as dificuldades. Já vemos as empresas, de várias atividades, contratando mais mulheres. Até porque os caminhões de hoje em dia são uma maravilha, tudo automático, até para desenrolar a lona é comando elétrico. Eu acho positiva a presença delas no setor”.

De volta ao lugar onde nasceu

No final do ano, estará pronta a granja que estão construindo na Guabiroba, e caberá a administração a Samuel. “Mas não quero largar totalmente a estrada; volta e meia vou cobrir a escala de alguém e recarregar as energias na cabine de um caminhão”. Orsolin comprou dos oito irmãos as frações de terra de cada um para voltar à terra onde nasceu, e muito provavelmente a Granja levará o nome de seu pai, Constante. “O lugar é lindo, bem no alto, com vista para o Cristo Protetor. Ali, meus pais, colonos, constituíram nossa família, com trabalho duro da enxada, da junta de boi e arado, e hoje o colono virou o agricultor que produz com tecnologia, integrados a uma empresa que dá o suporte financeiro e técnico necessário para ser competitivo no mercado globalizado. A granja comportará 4 mil suínos e será o maior empreendimento do setor em Doutor Ricardo”.

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