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Entrevista | Dezembro 2019 – Adroaldo Conzatti

Reprodução: Dezembro 2019 | Revista Visual p. 3

Reprodução: Dezembro 2019 | Revista Visual p. 3

A autoestima é um bem que se multiplica quando compartilhado.

Adroaldo Conzatti já foi prefeito de Encantado antes da lei de responsabilidade fiscal, quando as contas públicas não eram muito controladas e deixar ‘restos’ a pagar era prática comum.

Naquela época ficou conhecido como bom administrador, porém, com personalidade forte, também era chamado de ditador, adjetivo que nunca admitiu, afirmando que muitas vezes as decisões precisam de respostas rápidas e por vezes não agrada a todos.

– não agrada principalmente os aproveitadores, porque são esses que dizem que sou ditador e nunca fui condicionado a favorecer pessoas individualmente – Essa afirmação, por mais que pareça atual, foi feita por Adroaldo Conzatti na entrevista à Revista Visual em dezembro de 1988.

O tempo passou e Conzatti foi prefeito novamente na década de 90, ainda pelo PMDB.

Magoado e decepcionado com alguns companheiros de partido, deixou o PMDB e fundou o PSDB onde concorreu a vereador em 2012, elegendo-se o mais votado com 860 votos, quase o dobro dos alcançados pela candidata à prefeita do seu partido.

Na eleição de 2016 candidatou-se à prefeito pelo PSDB, tendo o PP e o PT coligados.

Na época, o PMDB não aceitou ser vice dele, como já estava até acertado, acreditando que teria condições de ganhar com candidato próprio, o Baixinho (Agostinho) Orsolin.

O PP, que apenas observava a eleição, sem muito protagonismo, convidou seu eterno rival para ser o seu candidato. Como havia sido preterido pelo seu partido de coração, agarrou a oportunidade caída no colo e ganhou as eleições com a diferença de mais de 700 votos.

Assumiu prometendo reduzir gastos para ampliar a capacidade de investimento. Fechando três anos desta administração a austeridade se confirmou, bem como as obras.

Não se utilizou do turno único e está fechando o ano com mais de 60 obras em andamento. Paralelo a isso, demonstra capacidade de liderança quando consegue organizar um grupo de pessoas para a construção do Cristo, ideia nascida e prometida durante a campanha eleitoral.

Assim o prefeito Adroaldo Conzatti conduz sua administração, contemplando o plano de governo com pouca flexibilização aos interesses dos aliados políticos, aliás, aliados que mudam conforme os interesses dele e os aliados da vez.

Já afirmava a frasista Ediane Wunderlich:

– No mundo sempre existirão pessoas que vão te amar pelo que você é, e outras, que vão te odiar pelo mesmo motivo, acostume-se… – O quase octagenário Adroaldo Conzatti parece ter se acostumado.

Como surgiu a ideia de construir o Cristo?

Um domingo à tarde eu estava jogando cartas e o Zenito Capitânio me chamou porque o Padre João Granzotto queria conversar comigo.

Chegando lá, ele disse que eu era o único que poderia acreditar na ideia que ele tinha: Construir o Cristo de Encantado. Ele já havia construído em Guaporé, Nova Bassano e achava que Encantado também deveria ter um.

Eo que o senhor respondeu?

Vamos pensar.

O projeto teve sequência?

Conversei com algumas pessoas e locais foram sendo sugeridos. O pessoal do Planalto – Telemaco Talini e o Antenor Gonzatti queriam que fosse construído ali. O tempo passou.

Chegou a campanha política (2016) e estava no Lambari, entrei na oficina do Gigi (Valdecir Camargo) e ele foi logo dizendo – Tu é o cara que vai construir o Cristo e nós vamos doar a terra.

Não é permitido usar dinheiro público em obras religiosas. Por que ele constou do seu plano de governo?

Aprendi certa ocasião com o presidente da Associação dos Municípios do Paraná que a importância de um prefeito não se mede pelo tamanho do município, pelo orçamento, área geográfica, mas pela liderança que ele tem dentro da comunidade. Tem que ter foco, credibilidade e fazer com que as pessoas acreditem nos projetos, com união tudo é possível.

Como não pode haver dinheiro público foi criada a Associação dos Amigos do Cristo, um grupo de pessoas comprometidas e dedicadas que está levando a obra adiante e buscando os recursos necessários para sua construção.

A estrutura deve ser adequada ao seu tempo. As coisas mudaram e o governo precisa mudar também.

Não teve medo de não poder cumprir essa promessa?

Na vida e na política ninguém é obrigado a prometer nada. Os políticos estão desacreditados porque prometem coisas sem ter base de onde vem os recursos. Depois, se não conseguem sustentar a promessa e vem o descrédito e toda classe política é colocada na mesma situação.

Prometeu alguma coisa que não pode cumprir?

Estou fazendo tudo o que prometi, algumas com mais dificuldade do que outras. Na maioria das vezes a comunidade vem junto, mas quando não apoia fica mais difícil.

Na obra do Cristo conseguiu que as pessoas acreditem. Então és um líder?

A comunidade de Encantado acredita muito, participa dos projetos. Mais recentemente, foi lançado o projeto de revitalização do Viaduto do Santo Antão. Tem mais pessoas querendo ajudar do que a necessidade.

É disso que falo, fazer as pessoas acreditarem em todos os projetos. É esse clima que tem na cidade.

Outro exemplo que posso citar é na questão dos calçamentos. Já foram construídos mais de 200 mil metros quadrados e tivemos que lançar como contribuição de melhorias menos de 1%. As pessoas querem fazer a parte delas e nós temos que oferecer oportunidades para que possam contribuir com a sua cidade.

Como o senhor conseguiu se juntar com os ‘inimigos’ na campanha eleitoral a prefeito de 2016?

Tinha viagem marcada para a Itália em junho de 2016 e antes de viajar estava acertado em reunião com o então presidente do MDB, Bado (Lori Moesch), que seria o candidato a prefeito e o MDB indicaria o vice. Nesse meio tempo o MDB entendeu que deveria concorrer com candidato próprio. Na volta fui comunicado e a situação ficou indefinida se concorria ou não.

O PP (João Fernando Vidal, Marino Deves e Enoir Cardoso) me convidaram para uma reunião e disseram: – tu és o nosso candidato, sem nenhum compromisso de cargos ou outras questões. Depois da eleição foram definidas algumas situações.

Quem escolheu o vice?

O PP indicou o vice.

E o PTB aliado do PP como ficou?

Nessa reunião ficou acertado que irjamos conversar com o PTB. No dia seguinte eu fui procurar o Jorge Calvi, presidente do partido, para colocar a situação e se queriam encarar o desafio conosco. Ele respondeu que ia haver uma reunião da executiva na quinta-feira e marcamos reunião para às 9h, no sábado pela manhã, para conversar. As 8h30min ele me ligou e disse que não haveria razão para a reunião, porque eles haviam aceitado concorrer a vice-prefeito na chapa do MDB.

O PP disse várias vezes que teria rompido a coligação. Isso é verdade?

A minha cobrança é que temos um plano de governo, projetos a desenvolver, e não podemos fugir do que planejamos para poder cumprir as metas. Existem discordâncias, sim, rompimento não, pois o PP está no governo.

Em relação a que e quem são as pessoas dissonantes?

O foco está no plano de governo e não no assistencialismo. Auxiliar realmente a quem precisa. Não podemos exigir que todas as pessoas pensem da mesma forma.

Quem pagou a eleição?

As pessoas físicas que fizeram doações conforme a prestação de contas.

Ano eleitoral prejudica a administração?

Não, mas qualquer gasto ou convênio com instituições não pode ser maior do que nos anos anteriores. Os percentuais ficam limitados. Nem querendo os gastos poderiam ser maiores porque os orçamentos não cresceram.

Amigos políticos do passado continuam? Quem foram? A fila andou?

A nossa maneira de fazer gestão é uma administração voltada para todos. Nós não fazemos nenhuma distinção, agimos sempre de acordo com as maiores necessidades. Prova disso é o asfalto comunitário em que foram priorizadas as comunidades que tem maior contribuição para o desenvolvimento do município.

Então, os amigos que são amigos, continuam amigos, mas com certeza, agindo dessa forma muitos novos amigos se conquistam. Entendo que não exista nenhum inimigo político, que discordância da proposta de gestão que foi amplamente discutida com a população antes da eleição, e que está aqui na minha frente, possam existir.

Conferindo a prestação de contas do candidato José Ivo Sartori na última campanha eleitoral ao Governo do Estado apareceu a contribuição de Adroaldo Conzatti e na de Eduardo Leite, candidato do seu partido, não. Porque não apoiou Eduardo Leite?

É claro que apoiei o candidato do PSDB, tinha a estrutura partidária local e todo o trabalho que envolve a campanha. Contribui com a campanha do Sartori, que é meu amigo de longa data.

Foi uma situação criada também com a questão dos deputados federais e as emendas parlamentares?

19 candidatos deram emendas para Encantado, e havia mais o candidato local, Diego Pretto (PP). Ficou muito difícil pedir apoio para um candidato porque pareceria ingrato.

O senhor concorda com as emendas parlamentares?

No fundamento não concordo, mas como está posto, não pode- mos abrir mão. É uma forma dos municípios e suas lideranças se tornarem reféns dos deputados.

As emendas parlamentares prejudicam a eleição de novos candidatos e a renovação da câmara dos deputados?

Sim. Já tive essa experiência como candidato. Nessa questão não há isonomia. É muito difícil surgir uma nova liderança.

Com mandato ou não o Adroaldo nunca se afastou da política. Esse tempo, de 1997 a 2012, em que não teve mandato, ‘enricou? Quantos escritórios de contabilidade tinha e quantos tem hoje?

Hoje temos 17, cada um com gestão própria e diferente. Todos como Conzatti Contabilidade trabalhando dentro de uma linha – prestar bons serviços, com honestidade e falar sempre a verdade para o cliente – aquilo que é – para não haver surpresas no futuro.

Entretanto, nesse período passei por muitas dificuldades. O Hotel Iraí, por exemplo, não deu certo. Agora, felizmente, depois de 20 anos, parece que o turismo local – águas termais – está dando sinais de recuperação.

– Nós não estamos inventando nada. Estamos buscando o que há de melhor no mundo.

Os escritórios são franquias?

Não, são parcerias.

O Estado do Rio Grande do Sul tem jeito?

Tem. Trabalhei duas vezes no Estado – com o Pedro Simon na Cohab (Cooperativa de Habitação do Estado), época difícil, complicada. Sugeri a extinção da Cohab, que veio a acontecer na gestão seguinte, no governo Collares. Naquela época 15 mil habitações foram invadidas porque o Estado não tinha recursos para terminá-las. Ao invés de extinguir a Cohab e repassar a gestão para a iniciativa privada o Governo preferiu perder todo o patrimônio.

Fui diretor do DAER (Departamento Autônomo de Estradas e Rodagem) no Governo Germano Rigotto, época em que Jair Foscarini era secretário dos Transportes. Apresentei um projeto para levar ligação asfáltica a todos os municípios que não tinham. O projeto previa financiamento externo em nome dos municípios e que eles participassem com uma parte – garantindo pelos retornos de impostos. O Estado não tinha crédito e hoje nos de impostos. O Estado hoje está muito pior, não tem recursos e nem crédito. Até hoje muitos municípios não tem asfalto.

A situação do Estado atrapalha os municípios?

Atrapalha, porque o Estado perde a capacidade de investimento, principalmente no sistema rodoviário, que está sempre precário, e não tem perspectiva de melhoria a curto prazo, entre outras ações que são de responsabilidade do Estado, como a segurança pública, que fica deficiente.

Quem são os culpados?

Todos os políticos que ao longo de mais de 50 anos prometeram e concederam benefícios sem saber de onde viriam os recursos.

Há esperança para o Estado?

Os deputados e o governo precisam ter decisões mais firmes para fazer as mudanças estruturais necessárias. Caso contrário, não vai mudar nada.

O governador está tentando?

Está no caminho, ainda muito moderado. Precisa chamar todos os poderes – Legislativo, Judiciário e o próprio Executivo para que todos tomem consciência de que o Estado não vai pagar ninguém, porque a situação está insustentável. Ele não está fazendo política, ele está tentando administrar o Estado.

Esses partidos que estão contra os projetos de mudança querem tirar vantagem para chegar ao poder e, chegando lá, não vão conseguir fazer nada porque o Estado em pouco tempo não vai ter dinheiro nem para pagar a folha, muito menos para investimentos.

Decisões que retiram direitos não são ditatoriais?

Tem que ter coragem. Eu sempre cito o exemplo de Portugal. É o país da Europa que melhor suportou a crise, porque lá toda a comunidade se conscientizou e participou da redução dos direitos e privilégios de uma parte da população para melhorar a vida de todos os portugueses. Hoje Portugal é o país que mais cresce e se desenvolve na Europa, graças a participação coletiva de toda a população, sem privilégios para ninguém.

Encantado está propondo a remodelação do cargo de contador do município. É exemplo do que o Estado deveria fazer?

Sim. Estamos fazendo muitos ajustes nesses três anos. Não fizemos nenhum concurso público, diminuímos de 10 para seis secretarias. A estrutura deve ser adequada ao seu tempo. As coisas mudaram e o Governo precisa mudar também. Não há mais espaço para paternalismos.

Essa questão vai ao encontro da proposta da extinção de municípios pelo governo federal?

Não acredito na extinção, mas é o grande momento dos municípios se adequarem. É preciso rever a estrutura, extinguir os excessos e, de outro lado, ter arrecadação própria. O cidadão precisa contribuir. Existem municípios em que a arrecadação de IPTU é zero, vivem do repasse federal, e isso vai se tornar insustentável em pouco tempo.

Existe algum tributo que funciona bem?

O que funciona bem é o IPVA, que 50% vem direto aos municípios; e o repasse do ICMS, por enquanto. Digo isso porque em Minas Gerais, por exemplo, o governo não está conseguindo repassar dentro dos prazos e a situação do Rio Grande do Sul é idêntica.

Qual é a maior preocupação dos municípios hoje?

A proposta do novo pacto federativo, porque não se sabe o que é e como vai ser. Outra questão é com respeito às emendas parlamentares que são liberadas, é autorizada a licitação e os recursos não são depositados. Aconteceu conosco. Compramos um carro e o dinheiro (valor fixo) foi liberado um ano depois. As finanças das empresas, desse modo, ficam comprometidas. O município comprou e o governo federal não cumpre, e não precisa cumprir porque não se pode fazer nada.  É preciso haver seriedade em todos os setores.

Tem luz no fim do túnel?

Por enquanto não. A economia melhora um pouco e os custos aumentam automaticamente. Não conseguimos crescer acima da inflação.

O senhor sempre afirmou que tem que sobrar 20% para investimento. Esse pensamento continua

Sempre disse e continuo pensando que o município que gastar mais de 40% com mão de obra perde a capacidade de investimento. Se o município sobrar 10% para investimento faz um grande governo. Nós não conseguimos investir 10% atualmente. Se contar com as emendas parlamentares pode ser que estejamos perto desse patamar.

Então quer dizer que estás fazendo um grande governo?

Com certeza. É só ouvir as pessoas. Um exemplo: Hoje (16/12) fui visitar minha irmã no HBST às 7 horas e fui abordado no corredor por pessoas para me cumprimentar pela gestão. Isso acontece todos os dias, em todos os lugares por pessoas sem interesses próprios.

Por que não se atingiu o índice de 10%? O que aconteceu?

O nosso valor adicionado (retorno de imposto) vem se mantendo dentro da média do Estado nos últimos três anos.

Onde não conseguiu evoluir?

Na produção primária, que teve queda de 40%.

Por que parou de produzir?

Entre 1993 e 1996 fizemos 140 terraplanagens para aviários e nesse período eles foram envelhecendo, e havia necessidade de novos investimentos, os produtores ficaram mais velhos e muitos saíram do meio rural. Ficaram poucos. Na década de 90, 50% da população estava na zona rural e 50% na área urbana. Hoje, apenas 15% estão na área rural.

Me questiono se construir 500 novas habitações naquele momento foi uma decisão boa ou ruim. Era para que todos pudessem ter a sua moradia e isso facilitou a vinda de novas famílias, mas não havia crescimento das atividades econômicas que pudessem absorver a mão de obra na área urbana. Essa nova estrutura vem acompanhada de todas as necessidades – saúde, educação, moradia, alimentação e emprego.

Os imigrantes contribuíram no aumento desse custo?

Sim. Na rede municipal existem mais crianças na educação infantil (creches) do que no ensino fundamental. Isso é reflexo dessa imigração.

Falando em educação. Por que o senhor demitiu a secretária Neide Graciolla?

Ela está aposentada e na época estava com problema de saúde na família. Eu cobro resultado de todos quando as metas não são atingidas, porque temos um plano de governo e temos que cumprir.

Não encontrou ninguém para substituir a professora Neide em Encantado?

Procurei várias pessoas que entenderam não ser esse o momento de assumirem. Veio a questão da Greicy Weschenfelder, que era coordenadora regional de educação. Ela aceitou e está contribuindo com o projeto de educação de Encantado. Veio no momento em que fomos visitar Sobral (CE) e conhecer o projeto de educação que tem o melhor IDEB do Brasil.

Há algum constrangimento por ela estar respondendo a processo por plágio?

Não me aprofundei. Acho que não, porque ela tem condições de desempenhar a função.

Então não existe constrangimento de sua parte?

Não.

O plano da educação em Sobral, no Ceará, trouxe alguma surpresa?

No Ceará as escolas de 1º grau são todas municipais como prevê o Plano Nacional da Educação. O Fundo Nacional da Educacional (FNDE) vai todo para os municípios.

Esses recursos são suficientes para manter o ensino fundamental?

O dinheiro que vem do governo federal não é suficiente, mas com os 25% obrigatórios  do orçamento dos municípios para a educação, sim. Nesse ano são 26% do orçamento para a educação.

E o projeto da meritocracia para os professores, que está tramitando na Câmara de Vereadores, vai ser implantado?

Vai ser implantado no ano que vem. Vamos implantar a escola de formação permanente de professores municipais. O horário de preparação de aulas, que todos os professores tem, vai acontecer no Centro Administrativo. O conteúdo a ser trabalhado na próxima semana vai ser discutido nesse momento, e todas as escolas terão um currículo único. Dessa forma criamos condições para implantar o IDEB Municipal, com provas duas vezes ao ano, baseado nos conteúdos ministrados.

A localização e as condições sociais podem interferir nos resultados de aprendizagem?

Criamos o zoneamento – estudar na escola mais próxima de sua casa – no ano passado, justamente por isso. Para haver proximidade. A direção tem a obrigação de interagir com a comunidade para resolver os próprios problemas. Como um pai que tem o filho estudando numa escola há quilômetros de distância vai estar ciente do que acontece? Se ele estiver na escola mais próxima vai poder interagir com mais facilidade, porque está na sua própria comunidade.

De onde veio essa ideia?

Nós não estamos inventando nada. Estamos buscando o que há de melhor no mundo: o ensino canadense é referência mundial e o aluno precisa estudar na escola mais próxima para que haja o envolvimento da família, da comunidade e mesmo os que não tem mais filhos em idade escolar são comprometidos com a educação. Sobral (CE) há 20 anos se inspirou no ensino canadense e está colhendo os resultados. O IDEB não é nossa invenção. Nós vamos ser copiados por muitos e isso é bom. Tudo se copia, se adapta e se amplia.

Qual é a melhor surpresa da equipe?

Várias. Muitas surpresas positivas e algumas negativas. As positivas são as que se comprometem com os projetos em andamento.

Tenho seis secretarias e em governos anteriores eram 10. Tem as positivas e outras que poderiam ajudar e não ajudam. Tem aquelas pessoas que só pensam no que vão ganhar, e funcionários públicos que poderiam fazer parte de uma grande administração.

A Jô (Joanete Masiero) ganhou o apelido de ‘Prefeitinha’. O que tens a dizer?

A Jô é fantástica. É comprometida. Todas as manhãs vai a secretaria de Obras e às 8 horas está na Prefeitura. A conheci durante a campanha. Pessoa dinâmica e que trouxe para a Prefeitura essa mesma performance.

Mas não é muito bem avaliada pelos colegas. Por quê?

Ela sempre traz informações de gestão e quem não gosta de gestão, e está na zona de conforto, diz é que traição.

Há quem continue te achando um ditador?

Talvez tenha. A questão não é ser ditador. A questão é o foco na gestão, porque quem não tem foco em gestão é um administrador que não vai resolver os problemas de sua comunidade. Por que o Estado está nessa situação? Porque faltou foco nas gestões públicas do RS.

A Escola Estadual Érico Veríssimo passou nesse ano para a administração do Município. Qual a ideia para a Escola?

Vai ser uma escola municipal enquadrada aos moldes municipais. A clientela é a mais próxima. A estrutura é para 1.500 alunos, mas vamos começar com o número que for. A informação que temos é que haviam 120 alunos e mais 30 solicitaram matrícula. Então em 2020 vai funcionar com 150 alunos.

E os professores que atuam no Érico Veríssimo?

Ou serão cedidos pelo Estado ao Município ou vão para outras escolas.

Existe projeto para fechar escolas municipais?

Temos hoje cinco escolas municipais e não há projeto para terminar com nenhuma.

A produção primária caiu 40% como o senhor afirmou. Quais os principais fatores para essa decadência?

Falhou o município e outras instituições, como o Sindicato e a Emater, que não apontaram um caminho a seguir. Os produtores rurais não foram motivados a fazer os investimentos como aconteceu em Nova Bréscia ou nos projetos da Dália atualmente.

Os municípios estão cada vez mais assumindo os serviços. A terceirização da saúde como está?

Excelente. Tudo está funcionando bem.

Algum setor da saúde não está funcionando bem?

É o excesso de uso dos Postos de Saúde pelas mesmas pessoas. Até três vezes no mesmo dia. O sistema de saúde fica sobrecarregado por essas questões.

Existe apontamento do TCE  envolvendo a empresa prestadora de serviço na saúde? Como vai resolver essa questão?

Não tem apontamentos. O contrato é renovado anualmente, existe a possibilidade da renovação ou abertura de um novo edital.

Está satisfeito com a prestação de serviços?

Em princípio estamos satisfeitos, o atendimento dos profissionais é bom. A empresa está cumprindo com o que foi contratado.

Quanto está sendo investido na saúde?

Estamos investindo mais de 22% em recursos próprios na saúde.

A respeito do assunto. Outro dia o senhor comemorou aniversário de abstinência. Como está a sua saúde?

Boa. Trabalhamos demais. Ontem (domingo) estive aqui (gabinete) na parte da manhã e da tarde. Por conta desse ritmo, as vezes fico cansado. A gente tem o dever de pensar os projetos, acompanhar a elaboração, fiscalizar da execução até a sua conclusão. Isso cria um desgaste físico a mais de quem simplesmente autoriza, aprova.

Eu gosto muito de acompanhar os projetos do início com data marcada para a conclusão. Se não fosse assim nós não iríamos inaugurar a ponte do Jacaré (quinta, 19/12), que certamente vai ser um novo ponto turístico de Encantado.

Existem comentários acerca da criação de uma nova secretaria. A da Inovação Tecnológica seria a sétima?

Deve ter. Estamos trabalhando, buscando informações. Já estivemos na Itália, Maringá/PR, em São Paulo/SP, Brasília/DF. O mercado está apontando o caminho. Tem empresas dos EUA vendendo aqui no Brasil.

Se ficarmos apenas observando vamos ficar para trás. Tenho quase 80 anos. Não é para mim, é para a juventude. Precisamos criar oportunidades. Estivemos em Roveretto (Itália) e lá funciona uma incubadora de ideias e o investidor tem apoio durante um ano para o projeto prosperar.

O senhor não está extrapolando com essa ideia de inovação. Não deveria vir do Governo?

O Estado tem o Inova RS que Encantado faz parte, mas não podemos ficar esperando. O problema está em querer ou não, ter foco ou não e num projeto dessa envergadura tem que ter persistência e a participação da comunidade – escolas, universidades, entidades locais devem estar engajadas. Se não for assim não vai ter sucesso.

Onde quer chegar com a secretaria da Tecnologia?

Algo como vi em Pato Branco/PR, onde existe infraestrutura modelo voltada à pesquisa, extensão e incubação de empresas de base tecnológica. E temos pressa, porque as coisas acontecem muito rapidamente.

O que imagina para Encantado?

Que traga dinheiro e que o jovem permaneça produzindo aqui e não se pague pela tecnologia, ao contrário, que se receba. Pato Branco iniciou esse projeto há 20 anos, Sobral há 23 anos. É a conquista do trabalho, do foco e da persistência.

Candidato à reeleição?

Sim, posso concorrer se os encantadenses assim entenderem.

Como vai chegar no eleitor? Mostrar o que fez?

Não é assim que se faz campanha.

Como se faz campanha?

O eleitor está consciente. Não é num curto período da campanha que ele vai tomar a decisão em quem vai votar. Depende muito da proposta de governo para a gestão de quatro anos. O eleitor pode acreditar nas propostas dos candidatos, ou não. É um plano de governo que é apresentado e discutido.

Existe uma pendência na Justiça em que os seus direitos políticos estão ameaçados?

Em nenhum momento foi pedida a suspensão dos direitos políticos. Fui absolvido aqui em Encantado, o Promotor recorreu, e o meu advogado perdeu os prazos de defesa e eu fui condenado. É isso. Processo está em Brasília.

Como o senhor vai dizer aos eleitores que pode perder os direitos políticos e tiver que sair da administração, caso eleito?

Com honestidade, como fiz em todos os lugares em que trabalhei, nos partidos em que estive, não tem nada ‘pendurado’. Eu vou dizer a verdade. Todo mundo sabe de onde vieram as denúncias. Não acredito que a Justiça seja assim. Quem vai ganhar com isso se eu não puder ser candidato? Vou ser eu. Não sou eu que ganho, é a comunidade que ganha. Se eu não puder ser candidato a comunidade perde.

As denúncias vieram de quem se tornou seu aliado? É a dinâmica da política?

A denúncia partiu do Ministério Público (MP) e não posso assegurar quem levou ao MP.

Quem será o vice?

Quem tenha perfil para dar continuida- de ao projeto que for proposto a comu- nidade. Tem muitas pessoas e com bom perfil.

Nomes?

Não vou dizer nome nenhum. Tem várias pessoas com esse perfil. Depende da disposição das pessoas de sair da atividade privada e passar para a vida pública, ou então dentro dos quadros políticos atuais também existem bons nomes. Porém, não existe espaço para aventureiros.

Com estrutura partidária?

É importante. Tem que ver para que ela é usada. A estrutura são as pessoas.

PP e MDB têm estrutura partidária?

A estrutura é boa, como disse, depende de como ela é usada. O povo vai para a eleição consciente.

Não precisa de partidos?

A estrutura partidária deve existir para defender um projeto e ter a convicção de que ele vai ser executado. A comunidade tem que acreditar no projeto. Hoje é diferente, tem muito mais informação e as mídias vão ser usadas por todos.

Historicamente dois grupos políticos se alternam na administração municipal. É verdade?

No Governo do Estado também. A importância política dos partidos mudou.

Para a próxima eleição vai se aliar a um par- tido independente da estrutura partidária?

Podem ser todos. Hoje quase todos os partidos estão me apoiando.

Questão política é uma questão extra, mas o senhor tem histórico dentro do MDB. Como o senhor pretende vencer a eleição sem a estrutura do PP ou MDB?

Quem disse que não podem ser os dois?

O senhor é a favor do consenso?

Sou contra o consenso.

Dizem que o senhor não recebe os vereadores do PP. Como iria controlar os dois partidos?

O gabinete sempre esteve aberto. A ordem é que todos os vereadores tenham prioridade no atendimento, independente de partido. Todos os que vem até a Prefeitura são atendidos.

Alguns vereadores do PP acusam que o senhor pensa que a Câmara é um ‘puxadinho’ da Prefeitura. Por quê?

É um puxadinho porque querem tirar vantagem das coisas que não podem ser assim. Não querem mudar o sistema de administrar. Não é o PP. Alguns não se convencem que a realidade mudou e querem continuar ‘mamando do jeito que mamavam’. Eu nunca denunciei nada, até hoje e pretendo não denunciar.

Então denuncie agora. O senhor sabe alguma coisa? Quais são as irregularidades?

Vocês sabem. Alguma coisa? Quer mais de 100? Os R$ 6 milhões de precatórios foram produzidos como? Com irregularidades. Não é coisa de uma coca cola.

Um exemplo?

O imóvel que pertencia ao Curtume Covasa foi desapropriado, a Prefeitura não pagou, deixou o processo andar, foi condenada e gerou um precatório de R$ 6 milhões. São R$ 70 mil por mês que o município paga de precatórios, desde o primeiro mês. São obras que estão deixando de ser realizadas.

E essa administração vai deixar algum precatório?

Não pode deixar precatório. Tem que pagar o correto.

Como é o seu relacionamento com os vereadores?

Temos um relacionamento bom com a Câmara. Praticamente todos os projetos tem sido aprovados, com alguma alterações, às vezes, o que é normal no aperfeiçoamento daquilo que é proposto. Essa também é uma das funções dos vereadores, contribuir com suas ideias.

Como conseguiu reverter a situação política. O que era situação virou oposição e a oposição virou situação?

Na última sessão todos elogiaram a administração.

Todos querem participar da sua chapa na próxima eleição?

Não sei. É muito cedo para falar.

Continua namorador?

Tenho bons relacionamentos. (Risos)

Falávamos em política…

É isso aí. É uma entrevista política. (Risos)

Por que teimou tanto em não fazer o desvio do pedágio?

Porque sou a favor do pedágio em qualquer rodovia. Temos mais segurança, tranquilidade. Temos que discutir valores. O valor que pagamos sempre esteve acima do que deveria em relação ao que mais usamos que é o deslocamento até Lajeado. Seria mais realista, como é na Europa, que se pagasse pelo trecho utilizado e teríamos estradas com mais condições.

Como o senhor vê o movimento pelos desvios?

Sou pela revisão dos valores.

Como chegou a essa conclusão que os pedágios são necessários?

Recentemente fui até município de Itapuca e no deslocamento cortei três pneus. Por quanto tempo poderia pagar pedágio para manter as rodovias com esse dinheiro? Os valores da tarifa é que tem que ser coerentes.

O senhor fala em inovação. Aqui temos identificação com o agronegócio. Como vai equacionar essa questão?

Nós não abandonamos o agronegócio. Gastamos agora nos dois projetos ASA mais de R$ 5 milhões. A tecnologia é mui- to importante para esse setor e alguém poderia querer investir nessa área.

Como seria esse polo tecnológico?

Para dar certo é necessário o envolvimento da comunidade, da Prefeitura, da UERGS, do Governo do Estado, e o prédio do antigo Curtume Aimoré se transformaria na sede do Centro Tecnológico.

Esse espaço, o Centro Tecnológico, é para quê?

Espaço onde as empresas iriam iniciar as suas atividades e permanecer aí por um prazo determinado a fim de que os projetos fossem amadurecidos e começassem a dar os resultados esperados. Empresas de tecnologia necessitam de pouco espa- ço físico, e ali seria um local para muitos empreendimentos, num prédio que está desativado. A forma como seria repassado ao município demanda negociação.

Quem o senhor vê como seu sucessor?

Gostaria que fosse uma pessoa que desse sequência ao perfil da atual gestão. O exemplo está bem claro na questão da su-cessão do Sartori pelo Eduardo Leite, de partidos diferentes, mas o mesmo perfil de gestão, com foco na recuperação do RS.

O que está engasgado no seu peito?

Não tem nada engasgado. O que existe é o sentimento de que a comunidade ne- cessita mais projetos e nós nos sentimos impossibilitados de atender pela limitação de recursos.

As transformações acontecem muito rapidamente. Como o senhor vê Encantado daqui há 10 anos?

Uma cidade organizada, com economia estável, condições que fazem com que as pessoas continuem vivendo bem, porque em Encantado é bom de se viver.

Entrevista veiculada na Edição 46 da Revista Visual | Ano 32 | Dezembro de 2019

Capa da Revista Visual | Jornal Força do Vale | Edição 46 | Ano 32 | Dezembro 2019
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