O renomado apresentador Fausto Silva, o Faustão, está internado no Hospital Israelita Albert Einstein em São Paulo devido a uma grave insuficiência cardíaca, que demanda um transplante de coração. Diante desse cenário, surgem questionamentos sobre a possibilidade de furar a fila de espera para transplante e se os indivíduos mais ricos têm a capacidade de adquirir órgãos.
Ele não vai furar a fila
Faustão não é o único na fila, são 387 pacientes brasileiros que estão aguardando por um órgão. No entanto, é importante esclarecer que o processo de alocação de órgãos não se baseia estritamente na ordem cronológica. Ricardo Mello, esclarece que “a prioridade é dada a quem apresenta o estado de saúde mais grave, independentemente do momento em que entrou na lista de espera”.
O Sistema Nacional de Transplantes (SNT) é responsável por regular e coordenar todos os transplantes no Brasil, incluindo aqueles realizados no Sistema Único de Saúde (SUS) e em hospitais privados. “Não há exceções, nenhum órgão é transplantado fora da ordem estabelecida pelo SNT”, afirma Mello. Surpreendentemente, cerca de 90% de todos os transplantes realizados no país são conduzidos pelo SUS.
A jornada de um paciente como Faustão ilustra esse processo. O caso do paciente é detalhadamente documentado pelos médicos, incluindo prontuários e exames. Quando um órgão se torna disponível, o SNT verifica a compatibilidade do tipo sanguíneo do doador com os pacientes na lista de espera. O primeiro paciente compatível em estado grave é selecionado, e a equipe médica confirma a viabilidade do transplante. Uma vez autorizado, o órgão é transportado do doador para o receptor, um procedimento que deve ocorrer dentro de 4 horas.
A rapidez com que Faustão poderá receber um coração depende de sua condição de saúde. “Para ter prioridade, o paciente deve estar em estado crítico, em UTI, e fazendo uso de medicações intensivas para se manter vivo”, destaca Mello. Além disso, pacientes em situações semelhantes ou mais graves também serão considerados. Os pacientes menos graves, mesmo que estejam mais tempo na lista, precisarão aguardar.
A questão da escassez de órgãos também se destaca. Diariamente, em torno de 3.600 pessoas no Brasil perdem a vida, o que teoricamente deveria proporcionar uma quantidade suficiente de órgãos disponíveis. No entanto, vários fatores levam ao desperdício de órgãos, incluindo condições de saúde do doador, distância e falta de infraestrutura. Em 2022, 45% das famílias não concordaram em doar órgãos de entes falecidos, muitas vezes devido à falta de informação.
Para facilitar a doação, Mello ressalta que “a decisão sobre a doação recai sobre a família do falecido, mesmo que a pessoa tenha manifestado sua vontade em vida”. A conversa com a família é fundamental para garantir que as intenções do doador sejam respeitadas.
Em suma, o caso de Faustão serve como um exemplo do processo regulado pelo Sistema Nacional de Transplantes, que prioriza pacientes em estado mais grave, independentemente de status financeiro. A conscientização sobre a doação de órgãos é essencial para maximizar as oportunidades de salvar vidas.