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Pelo segundo ano consecutivo, produção nacional de trigo bate recorde

Com as colheitas 100% concluídas no Sul do país, a safra brasileira de trigo em 2022 chegou ao seu fim. No balanço final, mais uma safra recorde. A produção deste ciclo atingiu 9,5 milhões de toneladas, um aumento de aproximadamente 24% em comparação a 2021, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Apesar desses números, porém, a safra foi marcada por contrastes em diferentes regiões produtoras do cereal.
No Paraná, por exemplo, os números finais de produção fecharam em 3,38 milhões de toneladas, valor abaixo do potencial que o estado possui. Ainda assim, o volume foi cerca de 5% maior que o produzido em 2021. “No norte e centro-oeste paranaense, a queda na produção foi decorrente da falta de chuvas até o mês de agosto. Já nas demais regiões, as geadas e chuvas na colheita reduziram não só o volume, como também a qualidade”, destaca o analista de trigo do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral/PR), Carlos Hugo Godinho. Segundo ele, apesar disso, a área de trigo no estado poderá contar com aumento para a próxima safra, sobretudo em regiões que possam atrasar a colheita da soja e, consequentemente, a semeadura do milho segunda safra. Conforme o gerente comercial da Biotrigo para a América Latina, Fernando Michel Wagner, o excesso de chuvas e a ocorrência de geadas também foram observados na principal região produtora do estado de São Paulo, o que não deve impactar na redução de área, pela alta demanda local pelo grão.
Já no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, o cenário foi outro. As safras de trigo nesses estados foram recorde em área e produção, e a cultura foi uma grande aliada dos produtores para balancear o fluxo de caixa após as frustrações da safra de verão. “Tivemos uma seca bem grande na soja e no milho, então ficamos com um prejuízo e o trigo veio para ajustar as contas, nos dando um auxílio enorme”, revela o agricultor de Tapera (RS), Alexandre Picinin. O produtor atingiu uma média de 86 sacas por hectare em sua lavoura, que ainda contou, em algumas áreas, com produtividades acima de 100 sc/ha. “Um fator que evoluiu consideravelmente nos últimos anos foram as cultivares, que cada vez mais saem melhores em questão de produtividade e fitossanidade. Isso nos anima muito”, comenta.
De acordo com o diretor técnico da Emater/RS, Alencar Rugeri, o acréscimo na área de trigo no estado, além dos benefícios que a cultura traz ao sistema de produção, está diretamente ligado às expectativas de remuneração por parte dos agricultores. “Atualmente, temos a tranquilidade de que o trigo possui um espaço generoso no estado, por suas alternativas de mercado, como o moageiro, de exportação, para ração, etanol, entre outros, e pelo avanço tecnológico da genética, em que a cultura é uma das principais expoentes nesse quesito”, afirma. Para Rugeri, ao que tudo indica, o estado deverá contar com uma expansão da área de trigo na próxima safra. “O cenário é positivo e o produtor quer. Tenho a convicção de que a safra de 2022 será um divisor de águas entre o produtor de trigo e o triticultor”, declara.

 

O trigo para além das principais regiões produtoras: o balanço de safra no Cerrado

Quando se fala em trigo no Brasil, é recorrente a temática da busca pela autossuficiência do cereal no país. E para isso ser alcançável, o Cerrado é peça-chave nesse processo. Conforme Wagner, a safra de trigo de 2022 no Cerrado passou por uma das maiores secas dos últimos anos. “Quando são olhadas as produtividades, especialmente no sistema de sequeiro, elas não foram altas, devido à falta de chuvas. Por outro lado, quando olhamos para a rentabilidade, o produtor teve as suas expectativas superadas. Com isso, ele está dando um olhar para o futuro, fator que vem consolidando a ampliação de área do cereal na região”, aponta. Para Wagner, essa safra é a prova de que o melhoramento genético local, somado com uma assistência técnica qualificada, será essencial para a consolidação da cultura e ampliação da taxa de sucesso do agricultor. “Mesmo com os desafios que a variabilidade climática, aspecto marcante nessa região, impõe à cultura, há um claro movimento de avanço do trigo no Cerrado”, conclui.

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