O relógio marca 5h. É frio lá fora, ou é quente. Tem sol ou tem chuva. Neblina, umidade, não importa, assim como também não importa qual é o dia da semana. É o despertar diário de D. Helga Lohmann no auge de seus 80 anos.
O caminhar é um pouco lento; as costas inclinadas para frente revelam o que a face ainda não mostra: uma vida de muito trabalho, e de trabalho braçal unido ao mental, já que há algumas décadas o planejamento da propriedade rural de 40 hectares é feito por ela. Algumas pessoas contribuem com a execução das tarefas, como um funcionário, vizinhos e o neto Vinícius, que quando não está na escola, é um dos braços direitos da avó, uma empreendedora e guerreira do mundo rural.
Nossa entrevistada para o Especial Colono e Motorista 2022 nasceu na Linha 21 de Abril, no interior de Roca Sales, estudou até a 5ª série (era o máximo de escolaridade naquela época), casou-se aos 19 anos com Dittwaldo Eugênio Lohmann e com ele foi morar na comunidade Fazenda Lohmann, na propriedade onde reside até hoje, na companhia de seus dois netos – o Vinícius (12) e a Kerly (15). “Vou morrer aqui”, diz.
Durante toda a vida de casada, esteve ao lado do marido na lida rural. Havia uma junta de bois e Helga e Dittvaldo lavraram juntos.
“Fazíamos tudo junto, plantávamos, colhíamos, tirávamos leite, e tudo era braçal, manual, nunca me esquivei do trabalho; depois que ele partiu, minha filha Caren ficou comigo na lida; já tínhamos caminhão e trator, ela manobrava a máquina, mas não fazia a colheita, isso era comigo. Há pouco tempo ela também partiu, e eu fiquei com meus netos. Tenho 80 anos, e eles dependem de mim, dou graças à minha saúde.”
A rotina que inicia às 5h segue pontualmente às 5h30min, quando acorda os netos, prepara o café e às 6h20min tira o carro da garagem para levá-los ao ponto de ônibus na estrada geral, de onde embarcam para a escola em que estudam, em Lajeado. “As vezes faço três viagens por dia, para levar ou buscar, principalmente em dias de chuva; se o tempo é seco, eles voltam a pé”, resume.
Depois de encaminhados para o colégio, é que de fato D. Helga inicia os trabalhos da lavoura. Dá os comandos para o funcionário, confere o que precisa ser feito nas plantações de trigo, de milho e de soja e vai fundo nas tarefas, incluindo o trato com animais. Hoje em dia, ela dirige os caminhões e os tratores, mas não transporta mais grãos. “Fiz isso por muito tempo, hoje já não consigo mais”, ilustra.
- Nas poucas horas vagas, gosta de ler e de assistir televisão, embora prefira a primeira. “Assistir me cansa (risos)”.
Uma característica? Perfeccionista. “Tudo pode estar bem encaminhado, organizado, limpo, preparado, e ainda assim fico preocupada e penso: será que falta alguma coisa? Aí a pressão sobe; só isso que tenho que cuidar”, confessa.
Na data comemorativa que homenageia os profissionais como D. Helga, ela se recorda das festas que ia com o marido e do quanto se divertiam. Momentos que ficaram marcados na memória, mas não menos importantes que os de hoje em dia.
“Me sinto contemplada nesta data; sinto que ela me diz respeito e que faço parte dela. É bom isso.”
Tão cedo quanto começou, cedo o dia termina. As luzes se apagam em torno das 20h na casa amarelo claro no interior da Fazenda Lohmann, cada dia com sua missão cumprida, fazendo jus ao descanso merecido antes do próximo raiar do sol.