A declaração do empresário Roberto Argenta favorável à dragagem do Rio Taquari, repercutida aqui no Força do Vale, deu voz à comunidade e o assunto tomou conta das rodas de conversa e nas redes sociais. Muitos se manifestaram a respeito, e a grande maioria, com a melhor das intenções, pois ninguém quer mais um ‘4 de setembro 2023’ em suas vidas.
O Força do Vale lançou uma enquete em seu site na quinta-feira, 19, encerrando a votação na quinta-feira (26). Perguntamos aos leitores: “você concorda que a dragagem do Rio Taquari é a solução para diminuir problemas com enchentes?” 1.093 pessoas participaram da enquete, sendo a maioria esmagadora favorável, enquanto apenas 27 disseram acreditar que dragar o rio não vai diminuir os problemas causados com as cheias.
“Quando prefeito de Igrejinha, draguei o rio da cidade e nunca mais tivemos enchente de grandes proporções. Estou disponibilizando uma retroescavadeira e duas caçambas para fazer isso aqui em Roca Sales”, disse Roberto Argenta, presidente da Beira Rio ao reinaugurar a fábrica de Roca Sales, devastada pela enchente do dia 4 de setembro.
Entendendo os conceitos
Assoreamento: O assoreamento ocorre quando sedimentos, como areia, lodo e detritos, se acumulam no leito de um rio, reduzindo sua profundidade e capacidade de escoamento. Isso aumenta o risco de enchentes. Dragagem: A dragagem é o processo de remoção de sedimentos, detritos e materiais acumulados no leito de um rio, aumentando sua profundidade e capacidade de escoamento. Isso ajuda a prevenir enchentes, restaurando o fluxo natural da água.
Barragem: As barragens são estruturas construídas ao longo dos rios para controlar o fluxo de água. Elas permitem o armazenamento temporário da água, que pode ser liberada de forma controlada para evitar inundações a jusante.
Mata Ciliar: A mata ciliar refere-se às áreas de vegetação natural que crescem ao longo das margens dos rios e córregos. Essa vegetação desempenha um papel crucial na absorção de água, prevenção de erosão e na manutenção da qualidade da água.
“Está totalmente correto o Argenta. A dragagem do rio Taquari é um assunto negligenciado por nossos governos há mais de sessenta anos. Existia um projeto e lembro do Jordano Cé comentando a importância de se dragar o rio prevendo a construção de várias barragens ao longo dele para contenção das cheias. Hoje, obviamente, o leito do rio está totalmente assoreado, lotado de entulhos, então a dragagem se faz necessária num primeiro momento e depois a construção de represas para conter essa água no período de chuvas e soltar ela no período de escassez” diz Ricardo Fontana, diretor da Fontana SA, terceira maior empresa do Município, que teve a indústria totalmente atingida e suas atividades ainda não retornaram na totalidade.
“Sim, sou favorável a dragagem do Rio Taquari, pois aumentaria a vazão, além de ampliar a seção transversal do Rio, também contribui para aumentar a velocidade de escoamento da água. Todavia a dragagem tem que ser um trabalho permanente e ao longo de todo rio. Temos que nos acostumar a ver equipamentos retirando o cascalho do canal principal ao longo dos tempos. O cascalho, assim como a areia, tem valor comercial que viabiliza os custos da retirada. A concessão desse serviço, e há sim, empresas interessadas em realizar a dragagem, traz como corolário a diminuição do pico das enchentes. Isto é serviço clássico em todos rios do mundo, principalmente quando atravessam regiões populosas” defende o engenheiro civil Marcos Bastiani, que também é vereador em Muçum. Bastiani e responsável pelo estudo (foto abaixo) apresentado ao Ministro Paulo Pimenta em Brasília e ao secretário Rafael Mallmann, da secretaria de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano. “São observações que ao longo anos tenho coletado”
O que pensam os prefeitos de Encantado, Roca Sales e Muçum
Conforme o gestor somente um estudo técnico, profundo, vai clarear os fatos a cerca do tema. “Todos estão cheios de boas intenções e cada um tem a sua solução, acredita numa saída, mas enquanto prefeitos precisamos nos cercar de todos os laudos para então realizar os investimentos apontados, não podemos fazer baseados no que achamos’”.
Jonas Calvi destaca que já esteve com a Univates para realizar as alterações no Plano Diretor que Encantado a partir do episódio do 4 de setembro e que a universidade deverá fazer parte do grupo técnico junto da Defesa Civil, Comitê da Bacia Taquari Antas, órgãos ligados a hidrologia, governos estadual como federal para apontar solução técnica para o Rio. “Sem estudo técnico qualquer obra que se faça é jogar dinheiro fora”.
Se os estudos apontarem que, de fato, a dragagem é uma solução, então serei favorável, sim. Entretanto, a complexidade do assunto é grande, por alguns pontos: é uma bacia muito extensa; possui áreas rochosas, onde não é possível dragar somente com uma escavadeira; possui estruturas consolidadas, como a própria ponte Brochado da Rocha, que exigiriam intervenções específicas e adaptações; devem gerar outros impactos ambientais, com efeitos diversos; impactos na fauna; e, ainda, pensando na possibilidade de ser viável, resolutivo, e passível de ser licenciado, a óbvia questão financeira, pois somente a dragagem realizada na barragem de Bom Retiro nesse ano tem um custo de R$ 34 milhões, para remover 60 mil m³ de material, o que, na proporção do rio Taquari, é uma quantidade praticamente irrisória. Isso também tem que ser minimamente medido, projetado, para sabermos quanto precisaremos buscar de recursos. Mas volto a puxar a mesma questão: tudo parte de um estudo “macro”, de toda bacia, que nos dará ferramentas e resultados concretos sobre as ações a serem tomadas.
Por fim, saliento a necessidade de evoluirmos em outras questões urgentes: Melhora do sistema de previsão e alerta da CPRM (que possui apenas 4 horas de antecedência), para um sistema que alerte com maior antecedência os eventos. Desta forma, a Defesa Civil municipal poderia atuar na remoção das famílias das suas residências com mais efi ciência; Melhora na comunicação dos alertas para a população local (com sistemas de alerta sonoros); Qualifi cação e disponibilização de equipes de Corpos de Bombeiros e outras frentes, com estrutura adequada, como helicópteros que possam sobrevoar à noite, e embarcações com maior potência de motores para suportar as correntezas”.