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Entrevista com Prefeito Jonas Calvi; Pavor, esperança e gratidão

“Estão sendo dias bem difíceis pra todos nós. O que torna essa jornada um pouco melhor é o carinho que recebemos de cada um. Quando estamos juntos, nos tornamos pessoas mais fortes”

Qual é o sentimento neste momento após os eventos recentes?

Agora, é um sentimento de gratidão por tudo que Encantado está recebendo, seja dos governos, entidades, pessoas ou instituições.

Como foi a noite da fatídica segunda-feira?

Foi uma noite de pavor. Ainda hoje me acordo de madrugada imaginando ligações de pessoas pedindo socorro. Foi uma madrugada inteira com sentimento de impotência, misturado com esperança… Tinha que tranquilizar as pessoas. Naquela madrugada, contamos com salvadores anônimos em seus caícos, barcos e jet-skis que resgataram muitos. Gente que sabíamos que estavam em locais perigosos, em postes, árvores, telhados, clamando por socorro.

E o amanhecer de terça-feira?

Quando a terça-feira amanheceu, a pancada foi ainda mais forte. Vimos o tamanho da catástrofe. Já estávamos sem água e luz. Depois a comunicação também se foi. E aí, a cada lugar que íamos, recebíamos uma nova informação. Locais nunca antes atingidos estavam devastados. Mas o socorro começou a chegar. Helicópteros, bombeiros, polícias, apoio de todo o Estado, com seus efetivos. As doações e os voluntários, assim que a água baixou e as estradas foram liberadas, também começaram a chegar. Eles estão sendo fundamentais neste momento.

Quem foi o primeiro a chegar?

Foi o Comando da Brigada Militar e o Bope, para instalar o Gabinete de Crise no Centro Administrativo de Encantado. Então, sugerimos que fossem centralizadas aqui as ações dos três municípios, já que Roca Sales e Muçum estavam em situação muito pior, até as prefeituras haviam sido atingidas. Os órgãos continuam aqui e a maioria não tem data para concluir o trabalho.

E os governos estadual e federal, têm ajudado?

Sim. Com a instalação de órgãos governamentais aqui, os serviços públicos foram agilizados, desburocratizados. Autoridades estaduais e federais vieram, viram de perto a catástrofe, colocaram o pé no barro, e estão agilizando as demandas.

As doações foram expressivas…

Sim! É surpreendente o volume de doações recebidas, seja em produtos, roupas, mão de obra ou em recursos financeiros. O país inteiro está ajudando, e somos profundamente gratos.

E quanto ao cidadão comum?

Todos os recursos que têm a perspectiva de vir beneficiam quem está no Cadastro Único do CRAS e se enquadra nos programas dos governos estadual e federal, ou seja, famílias que vivem com renda mensal de até meio salário-mínimo por pessoa.

Por isso, Encantado vai encaminhar à Câmara um projeto de aluguel social. O Governo do Estado prometeu repassar R$ 500 para os cadastrados, e vamos complementar com R$ 300.

Mas sabemos que famílias que não se enquadram nos critérios de baixíssima renda e miserabilidade também perderam tudo, e estamos buscando formas de ajudar a todos.

Para isso, junto às Associações Cultural, Empresarial e do Cristo Protetor, que arrecadaram doações para ampliar o critério de renda, beneficiaremos mais pessoas. Esse dinheiro arrecadado será utilizado na compra de móveis e utensílios domésticos para os atingidos. Essas compras serão realizadas no comércio local, para auxiliar inclusive as empresas atingidas na retomada, e serão fiscalizadas pela Defesa Civil e Ministério Público. Estamos trabalhando para auxiliar o máximo de pessoas com todos os recursos que estiverem ao nosso alcance.

Grandes e pequenas empresas foram severamente atingidas

45% das nossas empresas foram atingidas, o que impactará nos serviços do município. Elas representam 43% do Valor Adicionado de Encantado, e isso impactará nos recursos de impostos que retornam para cá. Isso diminui nossa capacidade de investir em saúde, educação, agricultura… sem falar nos empregos que geram.

As micro e pequenas empresas terão acesso a programas de incentivo, mas grandes empresas, como Dália, Fontana, Carrer, Quinta do Vale, entre outras, muito atingidas, enfrentarão desafios maiores, já que o valor a ser disponibilidado por financiamentos via BNDES, por exemplo, é irrisório, quando comparado aos prejuízos.

Há planos habitacionais em andamento?

Sim, estamos trabalhando nisso. Muitos no bairro Navegantes não querem sair de lá. É algo cultural. Na história, já foram realizados três loteamentos em diferentes oportunidades e muitos retornaram. Então, planejamos criar condomínios verticais para que esses cidadãos possam permanecer no bairro. A demanda é de 450 moradias.

O governo municipal terá algum órgão para cuidar disso?

Sim. Identificamos a necessidade da criação da Secretaria de Assistência Social e Habitação ainda com o turismo e, agora, é mais urgente do que nunca. Consistirá em um secretário, um chefe de departamento e um diretor, o que aliviará a pasta da saúde.

 

E quanto à prevenção?

Os municípios não têm capacidade técnica e nem financeira para realizar um plano de mitigação de danos e sua execução. Isso porque a ação precisa ser regional, em toda a Bacia Hidrográfica Taquari-Antas. Mas, a nível local, precisamos começar a pensar diferente, seja em áreas habitacionais seguras, bem como na ampliação do trabalho da Defesa Civil.

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