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Espiritualidade, a inclusão que faltava

Por Lívia Oselame

Hiperatividade é uma das características mais comuns nos autistas. Acalmá-los é um dos desafios das mães, pais e demais adultos envolvidos no crescimento e na formação das crianças autistas. “Eu mostro a imagem de Jesus Cristo, pois o abstrato é muito difícil para eles. Então, quando está em crise ou muito agitado, peço para ele pedir a Jesus que o acalme, e ele beija a imagem.”

Matheus recebendo o suco de uva simbolizando o sangue
de Cristo

Essa foi a forma encontrada pela mãe de Matheus Truccolo Lauer (14), Ilca Truccolo. Ela é mãe de autista, pedagoga, pós-graduada em neuropsicopedagogia, equoterapeuta e fundadora da Associação de Mães e Pais
Especiais do Vale do Taquari.

A alternativa utilizada por Ilca ganhou reforço com as aulas de catequese ministradas por ela mesma ao filho adolescente e, ao perceber que Matheus compreendia o significado e o contexto dos ensinamentos religiosos, sentiu-se amparada. “Ele sabe que Jesus nos protege”, destaca.

A alegria de Vitória contagia

Matheus foi uma das dez crianças autistas a receber a Primeira Eucaristia no último sábado (03), em uma celebração inédita realizada pela Paróquia São Pedro, de Encantado.

A iniciativa, entretanto, foi liderada por mães de filhos autistas que compartilhavam da mesma dificuldade quando o assunto era missa. “É uma tarefa complicada levá-los à missa, com a igreja lotada, luz, microfone; tudo perturbava”, relata Ilca. “Nos encontros da associação, percebemos que outras mães estavam na mesma situação, e não conseguiam sequer cumprir as tarefas da catequese”, completa.

Maria colocou seu laço rosa para receber a benção de Jesus

Ilca e outras duas mães – Melissa Coser e Daiane Fontana – conversaram com o padre Márcio para saber se a cerimônia da Primeira Eucaristia poderia ser mais reservada para eles, já que, neste caso, a inclusão seria muito mais complicada, com mais de 30 crianças típicas junto com os autistas. “Isso não daria certo”, lamenta.

Para felicidade das mães, o sacerdote aceitou o pedido na hora, chamou os pais para uma reunião a fim de conhecer as particularidades dos autistas e marcou a celebração. “Pedimos que não houvesse microfone, que a missa fosse curta e que muitos deles não aceitariam a hóstia, que foi substituída pelo suco de uva”, relata.

A maninha foi prestigiar a celebração de Kauan

A Primeira Eucaristia exclusiva para crianças autista ocorreu, coincidentemente, no Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, 03 de dezembro. “Foi uma cerimônia rápida, linda, cheia de fé, que faz com que toda a luta pela inclusão perante a sociedade, na escola, adaptação de currículo, monitoria, acessibilidade seja reforçada, mas exalta que a parte espiritual acaba ficando para trás. A iniciativa do padre em aceitar nosso pedido permite que os autistas possam estar onde quiserem e mostra que a Igreja também tem que se adequar a esses novos números de autistas”, ilustra.

Laura ganhou um beijo do padre e retribuiu
beijando o anjo do Certificado

Para Ilca, Melissa e Daiane, essa cerimônia focada só pra eles permitiu a realização desse sonho para todas as mães, e foi realizada pela dedicação e pelo amor de uma mãe pela outra.

Da mesma forma que Ilca mostra a imagem de Jesus quando precisa acalmar Matheus, é a ela que recorre quando estimula seu filho a agradecer pelos momentos bons, alegres e felizes. “Ele prontamente abre os braços e dá um beijo na imagem de Jesus Cristo.”

Próximo Sacramento será nos mesmos moldes

De acordo com o padre Márcio André da Silva, vigário da paróquia, é dever da Igreja acolher todas as pessoas, embora reconheça que falte estrutura para acompanhar e atender os autistas.

Os pais de Rafael felizes com o recebimento do sacramento

Segundo ele, essa celebração adaptada representa o começo de um aperfeiçoamento da metodologia e da técnica necessárias para acolher com mais intensidade as pessoas com deficiência. “Temos que ser o espaço de acolhimento para essas pessoas, em especial os autistas, em suas singelas expressões de fé”, relata.

Em reunião com mães e pais da Associação de Mães e Pais Especiais do Vale do Taquari, o vigário firmou compromisso de continuar celebrando missas adaptadas para atender a esse público diferenciado. Ainda, garantiu que o próximo Sacramento – a Crisma, será celebrado nos mesmos moldes do que foi a Primeira
Eucaristia.

A cerimônia aconteceu no Auditório do Centro de Evangelização, para respeitar o perfil dos especiais

Lucas mostra o certificado de Primeira Comunhão
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