Roca Sales é o cenário de uma história de dor e superação, agora registrada em um livro. A autora desse registro é Marisete Bronca Conzatti, professora há 42 anos e, mais recentemente, escritora. Em seu livro “A Noite que Mudou Nossos Dias”, ela narra com sensibilidade e profundidade os eventos de uma tragédia natural que devastou a cidade em setembro de 2023.
Marisete nasceu no interior de Roca Sales, na linha Marechal Floriano Baixa, também conhecida como Arroio Augusta Baixa. “Escrevia em forma de desabafo, à mão, em uma agenda”, conta ela, referindo-se ao início de seu processo de escrita, movida pela dor e pelas perdas que a enchente trouxe. Na época, ela perdeu um cunhado que faleceu, além disso, a loja de materiais de construção da qual ela e o esposo são sócios-proprietários e casas de familiares foram destruídas.
Para ela, a escrita surgiu como uma forma de registrar a intensidade dos eventos e a coragem das pessoas que enfrentaram a adversidade. “Tudo o que vi e vivi naqueles dias depois que as águas baixaram foi tão marcante que percebi que era necessário registrar para a posteridade o que o ciclone extratropical havia feito”, explica.
Inicialmente, Marisete pensou em intitular seu livro “Noite Sem Fim”, mas optou por “A Noite que Mudou Nossos Dias” após descobrir que o primeiro título já era nome de um filme. “Era uma noite que não terminava nunca. Ouvimos muitos pedidos de socorro. Essa mesma noite que mudou drasticamente a vida do povo da região dos Vales e especialmente dos rocassalenses”, justifica.
O livro contém 23 contos distribuídos em 152 páginas, incluindo fotografias e dois QR Codes. Um dos QR Codes leva a um vídeo do momento em que os bombeiros salvaram sua cunhada e um casal de primos que estavam em cima de uma laje.
O processo de escrita foi transformador para a autora. Marisete relata como a escrita lhe permitiu evoluir pessoalmente, observando a coragem e a solidariedade das pessoas ao seu redor. “Observei como as pessoas se ajudam em momentos de desespero e como têm ações acima do que julgavam ser capazes”, diz. A obra foi lançada durante a Semana Literária do Colégio São José, onde ela leciona. “Achei que seria a oportunidade perfeita para o lançamento, pois o São José é a minha escola e minha segunda casa”.
Além de seu primeiro livro, ela já escreveu poemas durante a pandemia, embora ainda não os tenha publicado. “Espero que os leitores entendam que a natureza tem suas leis e ninguém pode impedi-la. Nós é que precisamos nos adaptar. Que sempre há solução para os problemas, que é possível fazer o impossível, e que às vezes só a mão de Deus resolve”, conclui.