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Você usaria bombacha todo dia? Conheça a história do seu Dinarte Farias Soares, de  67 anos que faz o uso diário da peça

De pai para filho

Seu Dinarte vem da região de divisa entre Arvorezinha e Soledade e conta que a tradição começou a 60 anos atrás, com seu pai e tio. Bombacha frisa que a única ocasião que viu seu pai usar calças foi no casamento de sua irmã, onde, depois de usá-las, doou-as.

Com a família criada no CTG da sua região, Bombacha cresceu com bons costumes: “Sou da lida. A gente traz isso e vai sustentando. A bombacha pra mim significa a preservação de valores e respeito”, afirma orgulhosamente.

O peão veio para Encantado há 37 anos em busca de emprego e qualidade de vida. Hoje, evidencia que seus quatro filhos estão casados e felizes. Atualmente, ele não anda mais a cavalo, mas continua a trabalhar como pedreiro.

“Já fui chantageado e criticado. Fazia de conta que não enxergava, não dava bola. Eu saio trajado de gaúcho, com a faca atravessada e digo: isso aqui é orgulho”

“Tem bombacha ‘pra tudo’”

Para trabalhar, para ocasiões importantes… Seu Dinarte tem bota e bombacha “pra tudo”. Para o trabalho, são cerca de 6 e “para sair”, 8 -intercaladas com três pares de bota. Ele fala que já recebeu várias de presente de amigos e família, e cada uma tem uma ocasião específica. “Entro no banho e tiro uma bombacha. Saio do banho e coloco outra”. O tradicionalista salienta que usa somente bombachas do estilo gaúcho.

Para você entender melhor..

Ao longo da formação do gaúcho, nossa vestimenta sofreu alterações e influências da moda que era ditada por europeus que chegavam do velho mundo, trazendo consigo sua moda. Por este motivo encontramos diversas peças de nossos trajes muito semelhantes a peças de trajes de outros países, porém com adaptações ao nosso jeito de vida. A tradição gaúcha está intrinsecamente ligada à história da formação do Rio Grande do Sul, que é uma formação pastoril, o que justifica ser a “pilcha gaúcha”.

Há diversos tipos de bombacha: a gaúcha, a argentina, castelhana… Assim como outros trajes históricos registrados no Rio Grande, como os saiotes e chiripás (originados dos povos indígenas), itens como a ceroula e a calça (trazidas pelos europeus no século XVII) entre tantos outros.

Como assim gaúcho árabe?

O gaúcho tradicional tem sua origem na civilização de Al-Andalus, na Espanha muçulmana (711-1492). A migração deste povo em meados do século XVI fomentou o alicerce do gauchismo e seus costumes. O chamado povo mourisco deu a identidade que conhecemos aos gaúchos (Argentina, Uruguai e Brasil), huasos (Chile) e llaneros (Colômbia e Venezuela), com múltiplas influências na música, costumes e estilos da América.

Segundo o escritor e jornalista Federico Tobal (1840-1898), “O traje gaúcho nada mais é do que uma degeneração do traje árabe e é até possível confundi-lo, à primeira vista. A bombacha, o poncho, o tirador, o lenço na cabeça e embaixo do chapéu nada mais são do que modificações das peças do vestuário árabe.”.

Permitido por lei

A Lei nº. 8.813, de 10 de janeiro de 1989, o Art. 1º., diz que “É oficializado como traje de honra e de uso preferencial no Rio Grande do Sul, para ambos os sexos, a indumentária denominada ‘Pilcha Gaúcha’.”, e, segundo o Art. 2º., “A ‘Pilcha Gaúcha’ poderá substituir o traje convencional em todos os atos oficiais públicos ou privados realizados no Rio Grande do Sul.” Ou seja… Não é fantasia. É um traje de respeito e história.
A lei se aplica à vestimenta que… “com autenticidade, reproduza com elegância, a sobriedade da nossa indumentária histórica, conforme os ditames e as diretrizes traçadas pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho”.

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