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ESPECIAL DIA DOS PAIS | “Ele era nosso filho desde que estava no útero da mãe biológica. Foram mais de dois anos para tê-lo conosco”

Por Lívia Oselame

Até hoje, pais e filho compartilham carinhos e aconchegos enquanto dividem a cama na hora de dormir. Atualmente, a presença de Hewerton Cé Pinto (12), no quarto dos pais Dinoar Rodrigues Pinto (51) e Marta Helena Cé Pinto (55) é temporária. “Já foi permanente”, explica o pai, que compartilhou noites inteiras com a esposa e o filho na mesma cama. “Dormimos juntos por muito tempo; hoje esse hábito é mantido por um aconchego de boa noite, todas as noites, e cada um vai pra sua cama”, relata.

Para Dionar e Marta, esse carinhoso hábito noturno mantém a força do vínculo que os aproximou ainda quando Hewerton estava sob proteção do útero materno. “Acompanhamos a chegada dele desde os três meses de gravidez da mulher que o deu à luz”, diz a mãe.

Hewerton foi dado em adoção ao casal Dinoar e Marta. Entretanto, a trajetória para realizar o desejo de ambas as mulheres e do escolhido para ser pai foi árdua, cansativa, desgastante física e financeiramente. “Foram dois anos e dois meses, desde que ele nasceu, para que pudéssemos tê-lo conosco em definitivo, na segurança da lei e com a aprovação da mãe biológica”, relata Marta.

Conforme Marta e Dinoar, foi uma peregrinação. Inúmeras idas e vindas a Barros Cassal para visitá-lo a cada quinze dias, para permanecer por duas horas com ele na casa de passagem para onde foi levado logo após o nascimento. Ligações diárias mantinham o vínculo e transmitiam o afeto necessário para ele se sentir acolhido por uma família. “Por telefone falávamos com ele e nos apresentávamos como papai e mamãe, enquanto burocraticamente nada ainda estava resolvido”, explica Dinoar.

Mas qual é a relevância de ajustes burocráticos e judiciais quando se ouve, do outro lado da linha, um “oi papai”, vindo de uma criança que mal começou a dar os seus primeiros passos nessa vida? “Tudo vale a pena; eu faria tudo de novo, me sacrificaria tantas vezes quantas fossem necessárias, porque é um amor que não cabe no peito”, emociona-se Marta, ao recordar as abnegações que fez, espontaneamente, para conquistar seu maior desejo, que era ser mãe, e o desejo de Dinoar, que era ser pai. Ao lado dela, um pai nascia e se fortificava na mesma medida que unia forças e buscava ajuda profissional para trazer para dentro do seu lar aquele que iria preencher os espaços vazios não apenas da casa, mas do coração de cada um. “Foi uma luta judicial que se prolongou por dois anos”, recorda Dinoar.

O primeiro passo foi garantir que Hewerton não seria destinado a outros pais. Tanto a mãe biológica quanto a equipe da casa de passagem diziam a outros casais interessados em adoção, que o pequeno bebê moreno-claro, de olhos castanhos-escuros e sempre sorridente, não estava disponível. O Conselho Tutelar daquela cidade se encarregava de reiterar, porque almejava ele ser criado por quem o deu à luz. Entretanto, não era essa a vontade dela. “Ela queria que ele fosse nosso”, disse Dinoar. “Eu senti que era meu desde que peguei nos meus braços”, completa Marta.

Pé direito para entrar definitivamente na sua casa

História com final feliz

Hewerton nasceu em 26 de dezembro de 2009, em Soledade. O parto foi acompanhado pelos pais Marta e Dionar. “Nasceu e foi retirado do útero dela e dos nossos braços”, recorda o pai. “O que nos conforta é que tudo acabou bem e há dez anos ele veio para ficar, mesmo torcendo pelo Inter”, brinca o pai gremista. “Ele era do Grêmio, mas o dindo andou prometendo não sei o quê que ele virou do Inter”, relata sem constrangimento, o pai. “No fundo ele continua sendo do Grêmio”, conforta a mãe.

A busca pelo reconhecimento da paternidade por meio da adoção e da guarda definitiva foi carregada de expectativa, medos, angústias, sem nunca faltar fé necessária para dar força e coragem para enfrentar o que precisasse ser enfrentado. “Alugamos e mobiliamos uma casa em Roca Sales para trazer a mãe biológica com o bebê para cá (ela morava em Barros Cassal), porque era importante ela não perder a guarda dele e no abrigo corria esse risco; para acompanhar tudo de perto e dar o suporte necessário a Marta saiu do emprego e morou num quarto de hotel durante quatro meses para cuidar do bebê, enquanto eu permanecia aqui trabalhando durante o dia e indo pra lá de noite; algumas noites não conseguia ir; foram quatro meses praticamente sozinho em casa, na confiança e na fé, enquanto o advogado dava andamento ao que precisava na parte burocrática”, relata Dionar.

O dia da audiência chegou e a mulher que deu à luz foi decisiva em favor do casal: “o guri é deles.” De acordo com Dionar, em nenhum momento ela exigiu nada em termos de dinheiro ou outra forma de recompensa; pelo contrário. “Ela apenas não queria criá-lo, e confiou em nós; tudo o que fizemos por ela foi para proteger o Hewerton e assegurar que nenhum outro casal o levasse”, explica.

Para Dinoar, cada Dia dos Pais é uma renovação emblemática. “Depois dele, muita coisa mudou em nossas vidas; foi uma criança que só nos deu alegria e é um jovem rapaz que continua nos enchendo de orgulho; é estudioso, caprichoso, está sempre disposto a passear e sim, dá um pouco de preocupação, como qualquer filho”, declara o pai.

Para Hewerton, família é braile. “Difícil de decifrar”, explica. Para ele, falar sobre adoção é natural. “A professora pediu para fazermos a linha do tempo com a história da nossa vida e foi tranquilo; estou onde eu gostaria de estar; não vou dormir sem dar um carinho pros meus pais, e também receber (risos).”

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