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Sem apoio, FDA aprova novo remédio contra Alzheimer. Fato não acontecia desde 2003

A Food and Drug Administration (FDA) – agência reguladora dos EUA equivalente à Anvisa – aprovou nesta segunda-feira (7) o uso do medicamento experimental aducanumab para as fases iniciais da doença de Alzheimer – apesar de um comitê consultivo ter concluído no ano passado que não há evidências suficientes para apoiar a eficácia do tratamento.

A droga foi desenvolvida para pacientes com deficiência cognitiva leve, não com demência grave, e tem o objetivo de retardar a progressão da doença de Alzheimer – não apenas aliviar os sintomas. A FDA não aprovava um novo medicamento contra o Alzheimer desde 2003.

‘Temos que moderar as expectativas’

Em novembro, o Comitê Consultivo de Drogas do Sistema Nervoso Periférico e Central da FDA foi convocado para votar em várias questões sobre evidências da eficácia da droga.

Em resposta a uma pergunta sobre se era razoável considerar os dados de um estudo positivo como a evidência primária da eficácia do aducanumab no tratamento da doença de Alzheimer em estágio inicial, nenhum dos membros do comitê votou sim – 10 votaram não e 1 estava incerto. As opiniões do comitê foram então deixadas com a FDA enquanto a agência ponderava se aprovava o medicamento ou não.

A “Food and Drug Administration” é uma agência reguladora estadunidense equivalente à Anvisa

A farmacêutica Biogen e seu parceiro japonês Eisai desenvolveram o aducanumab, administrado por meio de infusão intravenosa para tratar a doença de Alzheimer precoce. A droga foi desenvolvida para pacientes com comprometimento cognitivo leve, não para demência grave.

“Este medicamento tem como alvo a fase sintomática mais precoce da doença, chamada de comprometimento cognitivo leve devido ao Alzheimer. O tratamento deste período pré-demência é o que a FDA está decidindo”, afirmou à CNN Richard Isaacson, diretor da Clínica de Prevenção de Alzheimer na Weill Cornell Medicine and NewYork-Presbyterian em Nova York, que teve pacientes nos estudos clínicos originais com aducanumab.

“Temos que moderar as expectativas e explicar às pessoas que esta droga se destina às primeiras fases sintomáticas”, acrescentou. “Dói-me dizer isso, mas se eu tenho um paciente de Alzheimer grave que não consegue mais falar ou interagir muito com os outros e um membro da família está me implorando para dar-lhes este medicamento, mas não posso fazer isso.”

Polêmica

O caminho da Aducanumab para buscar a aprovação do FDA tem sido difícil – e controverso. Em março de 2019, os ensaios clínicos de Fase 3 foram interrompidos porque uma análise de futilidade concluiu que os ensaios não alcançariam seus objetivos principais na conclusão. “As análises de futilidade mostraram que os estudos tinham maior probabilidade de falhar”, disse Isaacson.

Vários meses depois, a Biogen anunciou que uma nova análise, que incluiu mais pacientes, mostrou que aqueles que receberam altas doses de aducanumab experimentaram uma redução no declínio clínico em outro teste.

A empresa afirmou em documentos informativos da FDA no ano passado que os pacientes tratados com altas doses de aducanumab mostraram 22% menos declínio clínico em sua saúde cognitiva em cerca de 18 meses – o que significa que a progressão da doença de Alzheimer inicial diminuiu – em comparação com aqueles que receberam um placebo. Os resultados de alguns pacientes em outro estudo também corroboraram esses achados.

“A mensagem foi: ‘Funcionou, e funciona especialmente se você analisar todas as altas dosagens dos dois estudos'”, disse Isaacson. “Porque levaria anos para repetir um estudo, e considerando a falta de terapias disponíveis para tratar a fase pré-demência, a empresa tomou a decisão atípica de pedir o registro do medicamento à FDA.”

Em julho de 2020, a Biogen concluiu seu pedido para a FDA para uma licença biológica para aprovação do medicamento. Desde então, pesquisadores da doença de Alzheimer, médicos e pacientes aguardam a decisão da FDA.

Alguns grupos, incluindo o Grupo de Pesquisa em Saúde Pública para os Cidadãos, argumentaram que a FDA não deveria aprovar o aducanumab para o tratamento da doença de Alzheimer devido à falta de evidências de sua eficácia.

Em abril, a organização sem fins lucrativos escreveu uma carta ao Secretário de Saúde e Serviços Humanos, Xavier Becerra, pedindo ao Escritório do Inspetor-Geral do departamento para investigar a “colaboração estreita” entre a FDA e a Biogen em relação ao pedido da empresa para aprovação do aducanumab.

Também houve preocupações com relação aos custos

Em maio, o Instituto de Revisão Clínica e Econômica divulgou um relatório preliminar estimando que o medicamento deveria custar entre US$ 2.560 (R$ 12,86 mil) e US$ 8.290 (R$ 41,6 mil) por ano – e menos que USS 50.000 (R$ 251,16 mil) com base nas estimativas de analistas de mercado – e observou que “as evidências são insuficientes para concluir que os benefícios clínicos do aducanumab superam seus danos ou, na verdade, que ele reduz a progressão da doença de Alzheimer.

Outras organizações, como a Associação do Alzheimer, apoiaram a aprovação do medicamento.

Na sexta-feira (4), a associação afirmou em seu site: “Qualquer que seja a decisão final da FDA, este é um momento importante. Nunca estivemos tão perto da aprovação de um medicamento para Alzheimer que pudesse mudar a progressão da doença, não apenas o sintomas. Juntos, podemos continuar trabalhando em direção à nossa visão de um mundo sem Alzheimer e todas as outras demências.”

Há tanta atenção em torno do medicamento que o Centro de pesquisa da doença de Alzheimer da Universidade de Washington, em St. Louis, emitiu um comunicado na sexta-feira observando que, se o medicamento fosse aprovado, “provavelmente ainda levará vários meses para que passe por outras medidas regulatórias e fique disponível para os pacientes.”

Infusão dá base para esperança

Para aqueles com comprometimento cognitivo leve e suas famílias, a droga deu esperança.

Jenny Knap, de 69 anos, recebeu infusões do medicamento aducanumab por cerca de um ano, como parte de testes clínicos em dois períodos de seis meses. Ela disse à CNN que se submeteu ao tratamento por cerca de seis meses antes de o estudo ser suspenso em 2019, e então continuou o tratamento cerca de seis meses atrás.

“Não posso dizer se percebi isso diariamente, mas acho que, de modo geral, estou me saindo muito melhor em termos de procurar onde estão meus óculos – coisas assim”, disse Knap.

Em 2015, quando Knap foi diagnosticada com comprometimento cognitivo leve, um precursor clínico da doença de Alzheimer, os sinais da doença eram sutis, mas existiam. Ela frequentemente colocava seus óculos no lugar errado ou se repetia, esquecendo conversas de momentos atrás, disse seu marido, Joe Knap. À medida que essas ocorrências se tornavam mais frequentes, “estávamos cientes de que as coisas estavam começando a piorar”, disse Joe.

Jenny visitou o Centro Lou Ruvo para Saúde do Cérebro da Clínica Cleveland em Ohio para fazer testes e recebeu seu diagnóstico. Então, alguns anos depois, no início de 2017, ela soube que poderia participar de ensaios clínicos do aducanumab. Ela se inscreveu como voluntária – e está no teste desde então.

“Acontece que, durante o primeiro ano e meio, Jenny estava na categoria de placebo”, disse Joe, o que significa que ela não recebeu o tratamento.

O estudo foi cego, então eles não sabiam que ela fazia parte do grupo de placebo até recentemente. Conforme o estudo prosseguia, Joe disse que mais tarde ela recebeu a droga por volta de agosto de 2018 e continuou até fevereiro de 2019. A Biogen suspendeu o teste em março de 2019, mas ele foi reiniciado no outono passado e Jenny começou a receber infusões novamente.

Agora, a cada quatro semanas, com Joe ao seu lado, Jenny recebe infusões de aducanumab. Apesar de ter começado o tratamento recentemente, Jenny disse que acha que tem ajudado um pouco, além de manter uma dieta saudável e se exercitar regularmente.

“A promessa do aducanumab é desacelerar a progressão da doença e não melhorar a cognição. No caso dela, não registramos nenhum declínio importante”, disse Babak Tousi, médico de Jenny que conduziu os testes clínicos com aducanumab na Clínica Cleveland, em um e-mail para a CNN.

“Este tratamento é muito diferente do que recebemos antes. Nunca tivemos um medicamento que retardasse a progressão da doença de Alzheimer”, disse ele. “Os medicamentos disponíveis atualmente, como o donepezil ou a memantina, apenas ajudam modestamente com os sintomas, mas não retardam a progressão da doença.”

Efeitos colaterais

Jenny disse que não experimentou nenhum efeito colateral perceptível da droga. “Em certo ponto, já faz um tempo, havia evidências de um sangramento muito leve no cérebro. Na verdade, eram níveis muito baixos”, disse Joe sobre Jenny, mas acrescentou que os médicos não estavam preocupados.

Tousi observou em seu e-mail que, com a continuação do tratamento, “os vasos sanguíneos podem vazar, de modo que o fluido e os glóbulos vermelhos podem sair para a área circundante”. Essas “micro-hemorragias” foram relatadas em 19,1% dos participantes do estudo que receberam a dose máxima de tratamento.

Até agora, as infusões e a manutenção de um estilo de vida saudável deram ao casal uma visão mais otimista do futuro, disse Joe. Eles também ficaram felizes em participar do teste – um esforço para fazer uma diferença útil na vida de outras pessoas.

“Antes de entrarmos no ensaio clínico, havia esse medo do que estava por vir”, disse Joe. “O componente médico da infusão nos dá a base para esperança. Mas o exercício diário nos dá resultados positivos imediatos.”

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