Passado, presente, futuro e o trigo; por Letícia Piccinini
Plano safra
Foi aprovado recentemente na Câmara dos Deputados, o PLN 1,22, que trata da recomposição de recursos para o Plano Safra. Com esta aprovação RS 868,49 milhöes do orçamento serão remanejados para atender os programas do Ministério da Agricultura, como o Programa de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), operações de custeio agropecuário, de comercialização de produtos agropecuários e de investimento rural e agroindustrial. Agora, este texto em pauta segue para a sansão presidencial, enquanto ficamos no aguardo, deste que pode ser um alento para superar esta tase de altos custos de produção, devido aos insumos em alta.
La Niña?
A Administração Americana de Oceano e Atmosfera (NOAA) indicou que o Oceano Pacífico equatorial continua mais frio que o normal, indicando que seguimos em uma atmosfera indicativa de La Niña, mantendo o posicionamento desta influência até o ano de 2023 . Em julho deste ano, espera-se precipitações dentro do normal para os estados do Norte e Nordeste do país, enquanto que Centro e Sul do país devem receber menor quantidade de chuvas, além da chegada de ondas de frio mais intensas e queda de temperatura geadas em nosso Estado, a partir de junho.
No entanto, nesta semana devido ao elevado volume de chuvas nas cidades “cabeceiras” tivemos a elevação do nível do Rio Taquari em nossas cidades do Vale, causando a cheia dos rios e arroios o risco de transbordamento destes, como popularmente chamamos de enchentes.
A dificuldade em ter maior precisão nas previsões do tempo a longo prazo são um dos fatores de risco no planejamento de cultivos e lavouras. Porém, o momento agora é de atenção e de cuidarmos das vidas das pessoas ribeirinhas.
Milho
A colheita do milho estagna no Rio Grande da Sul, devido às recentes chuvas, com 84% das áreas cultivadas. Da área faltante, segundo a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (SEAPDR), 10% das lavouras estão em maturação ou maduras e 6% encontram-se em fases reprodutivas.
Estas lavouras apresentam bom desenvolvimento, apesar da maturação mais lenta, devido às condições de temperatura da radiação solar. Estas lavouras ainda podem correr riscos quanto à produtividade, em caso de geadas nas próximas semanas.
A produtividade obtida está aquém da planejada, permanecendo em 3500 kg/ha. Percebe-se na maior parte das lavouras, que ocorreram reboleiras de acamamento de plantas, devido aos ventos fortes associados às chuvas. Este fator pode ocasionar perdas de produtividade e de qualidade, seja para a colheita de silagem ou de grãos.
Arroz
A colheita do arroz ultrapassou 90% da área cultivada no Estado. Em nossa região, encontra-se estagnada devido às últimas chuvas que ocorreram na última semana. A produtividade média estimada permanece em 7600 kg/ha, estando abaixo da produtividade estimada inicialmente, devido principalmente a fatores como falta de água para irrigação e atraso na entrega de insumos, que impediram que fossem realizados manejos importantes para a cultura. Nas lavouras onde não houve falta de água para irrigação, as médias são próximas a 10.000 kg/ ha.
Lockdown na China
O lockdown na China, causado pelo novo surto de covid 19, impacta o movimento de navios cargueiros. Com a redução da oferta de navios e a paralisação de cargas, tem levado ao aumento do tempo de entrega e à escassez na oferta de diversos insumos, que com baixa oferta, tem os seus preços elevados.
Esse movimento ocorreu desde o início da pandemia, levando ao sucessivo aumento dos fretes. Para se ter uma ideia, antes da pandemia o valor para um container era de em média US$ 3.000,00. No auge da pandemia e nos dias atuais, o valor do container vindo da China para o Brasil está custando em média USS US$ 6800,.00.
Com isso, estes custos vão sendo repassados ao longo de toda a cadeia produtiva, chegando ao consumidor final .
Abaixo de dois dígitos
Com o aumento na taxa básica de juros, que sobe pela décima vez consecutiva, atingindo 12,75% ao ano, torna a negociação do próximo Plano Safra ainda mais dificeis. O Plano 2022/23, que inicia em julho, tem um caminho difícil para percorrer.
O Ministro da agricultura, Marcos Montes, sabendo da situação difícil em que se encontra o produtor, disse nesta semana em entrevista, que val trabalhar pela redução das taxas de juros, para que fiquem abaixo de dois dígitos, e para que o plano atinja uma maior abrangência de produtores, visto que não sabemos como vai se comportar o mercado financeiro nos próximos meses e anos. Além disso, disse que prefere taxas de juros “mais ardidas”, do que o risco de atender menos agricultores.
Passado, presente, futuro e o trigo
O Brasil, na década de 70 era um grande importador de alimentos. Na época importava-se até mesmo leite e derivados de carne. Com muito investimento, pesquisa e inovação, os solos pobres do cerrado foram estudados e corrigidos, animais, e plantas, como é o caso da soja e de pastagens, foram adaptados às nossas condições e hoje são cultivados de forma altamente sustentável e produtiva, usando-se de práticas como a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, com plantio-direto, com o uso de bactérias fixadoras de nitrogênio, por exemplo, fazendo do Brasil, em seus estados de Norte a Sul, o status de Celeiro do mundo.
O trigo é uma das poucas commodities que o Brasil ainda necessita importar. Porém, hoje a quantidade de trigo exportada pelo país, supera a quantidade importada, devido às pesquisas para a adaptação de cultivos permitir a implantação desta cultura na região do Cerrado brasileiro, local de clima tipicamente diferente do Sul. Com a guerra na Ucrânia, que é um grande produtor de trigo no mundo, o preço do trigo tem reagido fortemente, ultrapassando nesta semana o valor de R$ 100,00 o saco. Em meio tantas dificuldades, é preciso olhar para trás, mas também para os lados, buscando as oportunidades.
No entanto, apesar da oportunidade para boa lucratividade, é preciso que o investimento da lavoura de trigo seja consciente e bastante técnico, visto que trata-se de uma cultura de risco.
O momento agora é buscar conhecimento e boas práticas agrícolas, para que além de colher os grãos, o produtor possa colher os benefícios da rotação de culturas, obtenção da palhada, e ciclagem dos nutrientes promovida pelas raízes do trigo no sistema solo.