A Câmara Municipal de Vereadores de Encantado tem novo presidente. Valdecir Gonzatti, o Gonzattinho, é o sucessor de Valdecir Cardoso. O emedebista assume após Cardoso renunciar à presidência da casa para cumprir acordo dentro de seu partido, o Progressistas. O objetivo era direcionar à presidência da Casa, pelos próximos seis meses, ao colega progressista, Sander Bertozzi. Até o início da sessão, a expectativa era de que Bertozzi recebesse dois votos do MDB. No entanto, a expectativa não se cumpriu.
Votaram na chapa derrotada os progressistas Diego Pretto, Valdecir Cardoso e Marino Deves e Sander Bertozzi. O voto emedebista veio apenas de Duda do Táxi. Já, Gonzattinho, recebeu anuência dos vereadores do PSDB, Cris Costa, Sandra Vian e Joel Botoni. Além deles, votaram no novo presidente, Roberto Salton, do PDT; e Andresa de Souza, a Yê, do MDB.
São eleitos junto com Gonzattinho, Salton, como vice-presidente, e Sandra, como primeira secretária. A chapa derrotada tinha como postulante a vice-presidência, Duda do Táxi, além de Deves, para secretário.
Voto polêmico
Autora do voto que causou surpresa, Yê reconhece que não respeitou o que fora acordado. Ela diz que a escolha por Gonzattinho foi um voto de confiança, sendo ele do mesmo partido que o seu. A vereadora ignorou o fato de até então compor a bancada de oposição, para dar anuência a Gonzattinho, integrante da bancada de situação. “Nosso partido merece juntar os pedaços que perdeu nas outras eleições”, disse.
No entanto, para buscar explicar sua decisão, a vereadora foi além e lembrou da polêmica na qual esteve envolvida. Enquanto presidente da Câmara de Vereadores de Encantado, em 2021, Yê viajou à Brasília com sua assessora, Gonzattinho e Duda do Táxi. Na época, a mandatária alegou estar em busca de recursos ao município e a participação em um curso. A viagem custou R$ 31 mil em diárias. Além do valor ter chamado atenção, alguns registros nas redes sociais mostravam a vereadora e sua assessora em um renomado restaurante da Capital Federal, onde supostamente consumiam espumantes. “Quem me acompanha sabe o que foi passado nessa casa aqui. Quantas vezes a Yê saiu em capas de jornais, saiu na RBS, isso é calúnia. Tem um processo. Está com advogado. Essas pessoas que me apontaram vão ter que responder, vão ter que provar que a Yê bebeu champanhe, que a Yê gastou dinheiro da diária com champanhe”, sentenciou.
“Essa vereadora tira diárias sim e não vou parar de tirar”
Ela alega que o voto contrariando o combinado, trata-se de repúdio. Segundo Yê, quando o caso veio à tona, ela ainda se encontrava em Brasília, ao mesmo tempo em que Cardoso, fazia sua prestação de contas e afirmava que não tira diárias. A manifestação do colega incomodou a vereadora. “Na semana retrasada, ele estava finalizando o mandato de presidente e subiu na Tribuna e, novamente, fez uma prestação de contas. Se ele não tira, essa vereadora tira diária sim, e não vou parar de tirar porque é direito do vereador”, afirmou.
Ainda se referindo ao colega ela disse: “Eu trabalho para a comunidade. Se marcar uma reunião aqui na Câmara às 13h essa vereadora pode vir, mas tem gente que não pode vir. Tem que marcar depois das 18h. Nós vereadores recebemos para ser vereadores, nós temos que estar à disposição da comunidade 24 horas. Só para justificar o meu voto. Eu cansei de levar paulada aqui nessa casa”, desabafou.
Yê agradeceu a Sander Bertozzi, que segundo ela muito lhe defendeu na casa quando acusada. “Isso não esqueço não. Mas alguém tem que pagar o preço. Esse voto aqui, foi porque eu também tenho voto aqui e eu posso decidir o que eu quiser aqui dentro. Não querendo me achar agora, mas eu fiz 1.055 votos. A comunidade me respeita. O meu caráter todo mundo sabe. Infelizmente colega Sander, eu tive que tomar essa decisão”.
Logo após, ela voltou a fazer críticas a Cardoso, por reunir-se horas antes da sessão com o prefeito Jonas Calvi. “Sofrer mais seis meses na mão do colega que se diz oposição, mas olhem no Facebook da Prefeitura, há uma hora ele estava sentado com o prefeito. Nada contra, que bom que procura o Executivo, mas convida nós colegas”, protestou.
“Estou deixando a liderança da bancada do MDB”
O vereador Duda do Táxi estava incomodado ao usar a tribuna. “Fomos eleitos democraticamente pelos cidadãos encantadenses, portanto somos todos legítimos. Quero deixar claro que hoje tivemos um desacordo na votação. Respeito minha colega Andresa Cristina de Souza [Yê], ela optou por votar pelo, ops, quase me engasguei, em nosso colega Valdecir Gonzatti, que tem quatro mandatos de vereador, hoje está representando o cargo máximo na Casa Legislativa, pelo MDB. Parabéns Valdecir, que Deus lhe dê um bom andamento da Casa e que você a conduza do jeito que a comunidade encantadense merece. Sou líder da bancada do MDB e estou entregando a função para a vereadora Andresa. Quero tornar público que terei uma reunião com o presidente do meu partido para ver se eu, vereador Eduardo, estou errado em minha manifestação ou se vocês dois colegas estão certos. Por enquanto, fico neutro e vou votar como sempre votei: priorizando os interesses do município e da nossa comunidade”.
O vereador referia-se ao fato de ter votado no candidato Sander do PP, cumprindo assim o acordo feito em 2021 quando o PP votou em Andresa de Souza, do MDB para a presidencia da Casa, e que em 2022 a presidencia ficaria com o PP. Em seguida o vereador disse que não costuma apontar o dedo para ninguem e muito menos usar a tribuna para isso.
“O que eu quero dizer para a comunidade, que fique bem claro, é que caminhei por todos os bairros da cidade e interior. Durante a campanha, houveram diversas promessas, minhas e de todos os vereadores. Quero que vocês façam uma reflexão. Gostaria de trazer um espelho para cada colega. O espelho reflete a nossa imagem, não a do outro. Não estamos aqui para apontar o dedo para ninguém. Eu duvido que tenha alguém do município que votou em algum candidato para que ele falasse do outro. A cidade de Encantado está se desenvolvendo e precisa de vereadores empenhados que tragam aqui problemas e soluções para o Executivo que junto com os vereadores resolva. É isso que o município precisa e espera de nós. Nossa cidade arrecada milhões por ano e nós não conseguimos cessar estas demandas? Calçamento precário, esgoto a céu aberto… Vamos trabalhar! A comunidade precisa de vereadores atuantes que trabalham juntos para solucionar esses problemas”.
Ruptura entre PP e MDB
Para Gonzattinho, foi reparado um equívoco cometido nas eleições para o Executivo Municipal. Para o presidente eleito a coligação de seu partido com os progressistas, foi um erro, que à época teve sua discordância. “Reparamos nosso erro, hoje. Cachorro e gato não dá para cruzar. MDB e PP ficou difícil. O MDB não precisa de trampolim, o MDB sempre foi protagonista, embora a gente está tanto tempo afastado do poder. A gente se juntou na época contra a vontade desse vereador”, enfatizou.
Em sua fala, ainda, Gonzattinho abonou a atitude de Yê e, apesar de manifestar a ruptura com os progressistas, alegando contrariedade em uma aliança com o partido, fez campanha pela harmonia. “A gente tem que construir uma câmera mais leve. A função do presidente é conduzir uma sessão tranquila. Eu tenho certeza eu estou muito preparado”, confia.
Ponto fora da curva
Para o vereador Marino Deves, mais do que o voto de Yê causar surpresa, o caso deve ser analisado pela ótica política. Deves acredita que a decisão contraria a vontade do povo. Dirigindo-a se a Gonzattinho, o mandatário rebateu. “Assim como o povo elegeu um Executivo do qual o senhor fazia parte, ele elegeu uma Câmara que em sua maioria não representa politicamente o Executivo.
É realmente um ponto fora da curva. A câmara de vereadores em sua maioria ficaria com a oposição, entre aspas oposição. Não era o que estava programado. De minha parte quero dizer que o Senhor tem todas as condições de exercer um bom mandato por esses seis meses até o final do ano, e pode contar com a colaboração de todos os colegas”, projetou.
Deves lembrou que em 2021, durante a eleição para a presidência, em que Yê foi escolhida para presidir o Legislativo, Gonzattinho votou contra a colega. “O senhor fala tanto em união do partido. Mas a colega Yê foi presidente do partido e não teve seu voto. Agora o senhor teve a compreensão de ter o voto dela, mas o senhor não teve a capacidade de votar em uma colega que era candidata à presidência da mesa. Está vendo como a sua eleição é fora da curva?”, destacou.
“Temos que saber digerir”
Sobre a ruptura entre MDB e PP, ventilada por Gonzattinho, Deves discordou do colega mais uma vez, citando às eleições ao Executivo Municipal em 2020. “Água com azeite não se mistura, mas sim ideias convergentes de dois partidos, que imagino que o passado possa ficar para trás, e imagino que apresentaram um projeto de governo com uma relação entre prefeito e vice perfeitamente razoável e entendível durante toda a campanha e pós-campanha. No caso do vice-prefeito Enoir e do ex-vereador Celso Cauduro, existe uma relação amistosa até o presente momento. Nunca houve maiores problemas, assim como nunca houve problemas entre nós vereadores até este momento. Agora sim, se observa uma ruptura que temos que saber digerir”, diz.
Soberania
Os vereadores Roberto Salton (PDT), Joel Botoni, Sandra Vian e Cris Costa (PSDB) e Marino Deves e Diego Pretto (PP) foram breves na tribuna parabenizando a mesa diretora.
O último a falar foi o progressista Valdecir Cardoso que deixou a presidência recebida de Andresa de Souza, no inicio do ano. Foi firme em seu pronunciamento ao falar dos seis meses em que esteve no comando. Dirigindo-se ao novo mandatário da Casa disse: “As chaves da Câmara são novas, não vai precisar trocar as fechaduras como eu precisei. Dizer que realmente, o mandato do presidente é soberano e cada um tem seu jeito, sua colocação, sua forma de condução e eu tive a minha. E me orgulho dela.”
Vereador não é profissão
Cardoso disse que nos seis meses a frente do do Legislativo conduziu várias reuniões com o Executivo, associações, entidades, e em nenhum momento, faltou espaço ou horário pelo fato de trabalhar em uma empresa. “Quero dizer que estou vereador. E que vereador não é profissão. Creio que o vereador precisa ter outro ramo de trabalho”.
Economizamos e devolvemos
Sobre a reclamação da devolução de recursos ao executivo, por parte da vereadora Andresa, Cardoso reiterou: “sempre coloquei ‘a Casa Legislativa economizou’. Hoje [segunda-feira, dia 04/07] eu fui lá, com a autorização do grupo, e deixei R$ 516 mil para, talvez, auxiliar na construção da quadra do Érico Veríssimo. Lá, temos uma quadra que passamos a infância, estudamos e até hoje é precária. Fizemos a visita a alguns colégios, temos este dinheiro e podemos disponibilizar para a reforma ou construção destas quadras. É dinheiro de todos os vereadores, não do presidente que estava até o momento, mas sim de todos vocês. A economia de vereadores fica em investimentos para energia solar, que está programado, licitado, que tem uma parte ainda a ser paga e que vai economizar dois mil e quinhentos reais em energia. Fica o projeto legislativo que está em andamento, que também não está concluído: a colocação de câmeras ao redor da Câmara para poder monitorar a nossa praça. Além de wi–fi gratuito, temos câmeras e está quase pronto. Isto é uma economia. O mandato é soberano. Minha condução da Casa pode não ter deixado alguns satisfeitos em alguns pontos sim, mas eu não quero aqui dizer que eu fiz sozinho”.
Sem a TV Câmara
A não renovação do contrato de serviços da TV Câmara (mais de R$ 100 mil ano), reclamada pela vereadora Andresa mentora teve o aval dos presidentes do MDB e do PP, conforme Valdecir Cadroso. “Algumas coisas, sim, como por exemplo, acatar a decisão do presidente do MDB e do PP em não renovar o contrato da TV Câmara. Foram os presidentes que disseram isto, não foram colegas vereadores, foi em reunião com os presidentes do partido. Em contrapartida, queríamos contratar alguém que pudesse conduzir a TV Câmara. Quando entrou o projeto nesta condição, tiveram vereadores que queriam dois, três cargos, um cada bancada Não rendeu, não deu liga, não aceitei, porque eram muitos. Ou é mentira, colegas vereadores?”
Nenhuma diária e três emendas
“Não tirei diárias e trouxe três emendas parlamentares, R$700 mil reais. Pagaram uma hoje, tá aí o projeto na casa hoje, 150 mil de saúde. Podem falar, mas falem as minhas coisas boas também. O nosso trabalho pelo município foi feito diante de muita conversa e respeito. Tenho mais dois anos de mandato e não vou mudar, é o meu jeito. Por isso o mandato é soberano: ninguém vai mudar a nossa forma de ser. Não é porque foi autorizado o Executivo a fazer algo que ele tem mais mérito que nós, pelo contrário, nós que fizemos esta economia, foi a Casa e nunca falei que economizei sozinho se alguém estiver falando isso é mentira. Saio feliz por ter mostrado a cara, sempre mostrei a minha de forma transparente com sou em prol do município de Encantado. Fico muito satisfeito por todo respeito que vocês me deram nestes seis meses e só quero agradecer. Pelo contrário, fico muito feliz: meu trabalho pode cobrar de mim que eu assumo! Eu assumo tudo o que eu fiz e sempre assumi. Não tenho vergonha de ter feito qualquer coisa errada, sessões, homenagens. Todas as vezes sempre fui democrático e nos grupos de todos. Sempre fiz reunião com todos, nada sozinho. Sempre estava nos grupos informativos e de todos. Muito obrigado e desculpem se eu cometi algum erro.”
O que dizem os dirigentes partidários
“O acontecido na sessão da Câmara na última segunda-feira foi recebido com muita surpresa por parte da Executiva Progressista, eis que a troca da Presidência era um acordo entre os dois partidos. Inclusive, na renuncia protocolada pela vereadora, ela cita exatamente esse motivo. Acreditamos que a decisão tomada na sessão tenha sido de caráter pessoal da vereadora, sem o aval da executiva do MDB. Nós, progressistas, continuaremos firmes nos termos acordado para eleição da próxima mesa diretora”.
“Vamos aguardar. Neste momento não queremos nos manifestar. Obrigado”.
Celso Cauduro
Presidente do MDB de Encantado