Seja em jogos de videogame, combinação de roupas ou no semáforo de trânsito com indicação de verde para ultrapassar e vermelho para esperar, as cores guiam o dia a dia das pessoas. Para o publicitário Thiovane Pereira, 24 anos, essas sinalizações sempre foram difíceis de acompanhar, principalmente na área que escolheu, ligada a planejamento gráfico. O jovem tem daltonismo e por isso, confunde tonalidades em relação ao verde e ao vermelho.
– Sempre tive algumas dificuldades na profissão de publicidade por conta da falta de acessibilidade, principalmente em relação às próprias ferramentas de trabalho, tais como os softwares de edição e desenho vetorial – desabafa.
Segundo a neuroftalmologista Marcela Bordaberry, docente da Faculdade Moinhos de Vento, o daltonismo é uma condição genética que causa deficiência para distinguir algumas cores e se manifesta em três diferentes formas: Protanopia, que é a dificuldade para distinguir o vermelho; Deuteranopia, dificuldade para distinguir o verde; e Tritanopia, dificuldade para distinguir o azul e o amarelo, sendo esta mais rara que as anteriores.
Thiovane faz parte dos 5% da população que possuem a condição. Pensando nessas 350 milhões de pessoas em todo o mundo, o jovem de Rosário do Sul, Região Central, quis contribuir para a criação de recursos acessíveis na sua área, a comunicação. Como trabalho final de graduação na Universidade Federal de Santa Maria, realizou o “Guia de Acessibilidade Cromática para Daltonismo“, manual que tem objetivo de auxiliar principalmente profissionais da indústria criativa a utilizar a cor de maneira mais acessível. Porém, o material pode ser utilizado como referência para qualquer profissional que queira produzir projetos com cores.
– O leitor encontrará quatro princípios de acessibilidade em relação às cores, nomeados de princípios de acessibilidade cromática. Dentro de cada princípio, há dicas, recomendações, sugestões e exemplos de como usar a cor de uma maneira acessível – explica.
Desde o lançamento em 2021, o guia já teve mais de 1125 downloads diretos do site oficial. Os dados demonstram que o produto atingiu 23 estados brasileiros e 24 países como Estados Unidos, Portugal, Espanha e Reino Unido.
Pela importância de seu trabalho na construção de uma sociedade mais inclusiva, Thiovane foi incluído na lista Vozes30, uma lista do coletivo Papel e Caneta que nomeia anualmente 30 vozes que lutaram para mudar a indústria da comunicação em 2022.
O reconhecimento aumenta a vontade do publicitário de seguir na área da acessibilidade comunicacional. Atualmente, no mestrado no Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, ele estuda o design como um possível identificador precoce do daltonismo em crianças.
– Ter uma comunicação acessível significa levar isso em consideração e compartilhar uma informação já pensando que ela deve ser entendida por todas as pessoas, tanto pessoas com deficiência como pessoas sem deficiência – comenta.
Os quatro princípios de acessibilidade cromática
- Princípio da expansão
Trata de possibilidades para utilizar nos projetos que vão além do uso das cores. Neste tópico, as dicas são utilizar recursos alternativos, nomear as cores utilizadas, aplicar símbolos e texturas que identificam determinada cor em uma representação de dados.
- Princípio da Atenção
Atenta à utilização de combinação de cores que possuam contraste, luminosidade e saturação de contraste perceptíveis.
- Princípio da Inovação
Neste tópico, é apresentada uma alternativa inovadora para a utilização gráfica, o sistema de identificação de cores, que funciona como um alfabeto que atribuiria um determinado símbolo para cada cor.
- Princípio da Ação
Apresentação de recursos que podem garantir a comunicação acessível, como o simulador de daltonismo, a paleta de cores para acessibilidade, entre outros disponíveis online.
Sucesso nas redes sociais
Além do sucesso do guia, Thiovane utiliza de suas redes sociais pelo @thiovane para informar sobre seu dia a dia com o daltonismo. O publicitário atingiu mais de meio milhão de visualizações e 126 mil curtidas em apenas um vídeo no TikTok.
– O público sempre reage com muita curiosidade. Quando compartilho alguma vivência, as pessoas se sentem confortáveis para fazerem mais perguntas e se divertem explorando a percepção das cores de um modo que elas nunca tiveram contato – explica.