Recentes desastres ambientais na Serra Gaúcha e nos Vales do Rio Grande do Sul levantam preocupações sobre suas causas e futuros desdobramentos. A frequência crescente de deslizamentos é alarmante, destacando a necessidade de políticas públicas de prevenção e a remoção de populações em áreas de risco.
O especialista em desastres naturais, professor Masato Kobiyama, aponta que as chuvas intensas e volumosas são os principais desencadeadores dos eventos. “A combinação de alta intensidade e grande quantidade de chuva causou as recentes tragédias na região”, afirma. Kobiyama também atribui esses eventos às mudanças climáticas, particularmente severas em áreas montanhosas como a Serra Gaúcha e os Vales.
Kobiyama prevê que deslizamentos e inundações repentinas continuarão a afetar a região. “Os desastres nas áreas montanhosas serão mais violentos e devastadores comparados às inundações graduais em outras cidades do estado”, alerta. Ele conclui que a beleza natural dessas regiões aumenta o perigo dos desastres naturais. Assim, a necessidade de rever políticas públicas e implementar medidas preventivas é urgente para mitigar os impactos futuros.
O pesquisador destaca a necessidade de uma gestão de riscos para prevenir mortes e danos causados por deslizamentos. Ele recomenda a observação de sinais como a cor da água subterrânea: “Água marrom indica movimentação do solo e necessidade de evacuação imediata”, afirma. Kobiyama critica a ausência de políticas públicas e núcleos de monitoramento para desastres naturais. Ele aponta que poucas prefeituras na Serra Gaúcha e região dos Vales têm uma Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil (COMPDEC) ativa. “Essa ausência é o principal erro”, destaca.
O pesquisador lamenta a falta de colaboração entre o governo do RS e a comunidade acadêmica, essencial para suporte técnico e científico. “Decisões devem ser baseadas em conhecimento científico”, reforça Kobiyama. Ele alerta sobre o “paradoxo do desenvolvimento seguro”, citando que grandes barragens podem aumentar os riscos ao concentrar população em áreas perigosas. “Em caso de rompimento, o desastre será maior”, explica. Kobiyama defende a educação em Gestão de Riscos e Desastres (GRD) para capacitar cidadãos a tomar medidas preventivas. “O conhecimento sobre riscos naturais é fundamental”, conclui.
Os recentes desastres na Serra Gaúcha e região dos Vales são atribuídos às chuvas intensas e prolongadas, como exemplificado pelos eventos no litoral norte paulista (682 mm em 24 horas) e na Região Metropolitana de Recife (926,4 mm em 22 dias). Mudanças climáticas intensificam eventos extremos, com variações no regime pluviométrico, afetando especialmente áreas montanhosas como a Serra Gaúcha. Kobiyama prevê que deslizamentos e inundações bruscas continuarão a afetar a Serra Gaúcha e região dos Vales. “Quanto mais bonita a região, mais perigosa”, adverte.
A principal meta da gestão de risco e desastres (GRD) é alcançar a morte humana zero. Para isso, são necessárias medidas de prevenção a curto, médio e longo prazo contra deslizamentos, especialmente na Serra Gaúcha e região dos Vales. Atualmente, a população enfrenta o risco de deslizamentos e deve ser orientada a monitorar alguns indicadores-chave em encostas:
- Cor da água subterrânea: Água marrom indica movimentação de terra, necessitando evacuação imediata.
- Áreas enxaguadas: Indicam possível início de deslizamento.
- Rachaduras: Especialmente na região das cabeceiras, são um sinal de alerta.
- Movimentação de terra e árvores: Deslocamentos e inclinações são indicativos claros de perigo.
Essas ações permitem que a população decida de forma rápida sobre a evacuação. Para prevenir deslizamentos, é essencial realizar a drenagem do excesso de água subterrânea. Medidas não estruturais incluem:
- Mapeamento de áreas de risco: Cada prefeitura deve seguir a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil (PNPDEC), mapeando não apenas os locais de início, mas também as áreas de deposição de sedimentos.
- Sistemas de alerta eficientes: Garantir comunicação eficaz entre órgãos emissores de alerta e moradores, com alternativas ao celular em caso de falhas.
Medidas estruturais variam conforme a situação, podendo incluir:
- Sistemas de drenagem
- Barragens de contenção de sedimentos
- Fixação de encostas
- Construção de açudes ou tanques de peixes para barrar o fluxo de detritos, como na Serrinha, Colinas, onde uma família foi salva por essa estrutura.
Cada cidadão precisa compreender a dinâmica de deslizamentos e enxurradas, que diferem da inundação gradual. A formação de laços comunitários fortes e solidários também é vital. Para uma gestão eficaz de proteção e defesa civil, é essencial que cada município tenha uma Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil (COMPDEC) ativa. Estas coordenadorias devem criar Núcleos Comunitários de Proteção e Defesa Civil (NUPDECs) em áreas de risco, compostos por voluntários que atuem preventivamente e em emergências.
A ausência de COMPDECs ativas nas prefeituras da Serra Gaúcha e região dos Vales é um erro crítico. A gestão inadequada de recursos hídricos e a atuação ineficaz dos comitês de bacia hidrográfica comprometem a GRD. A falta de colaboração com universidades limita a base científica para a tomada de decisões. É importante lembrar que o aumento de medidas estruturais contra desastres pode paradoxalmente aumentar a exposição e vulnerabilidade da população. Conhecimento e educação são essenciais para mitigar esse paradoxo.
Portanto, o conhecimento de cada cidadão sobre chuvas, dinâmica de água em encostas e efeitos de obras estruturais é o fator mais importante para uma gestão de risco e desastres eficaz. Fortalecer a educação para a GRD é crucial para prevenir tragédias e salvar vidas.