Coluna da MariColunas

#ColunaDaMari | O “mimimi” só aumenta

Quem me acompanha semanalmente deve ter notado: faz tempo que não escrevo sobre o nosso cotidiano contemporâneo. Confesso que, ao salvar o arquivo desta coluna, respirei fundo e pensei: “Nossa, já estamos em outubro”. O mais curioso é que ainda não consegui entender o último Natal — aquele em que desliguei os compromissos por uma semana para descansar e, mesmo assim, sigo sem me recuperar totalmente.

O fato é que os dias parecem voar. Assim como cresce a dosagem dos remédios controlados que muitos de nós precisamos tomar para suportar a rotina. Parece que, além de mais curtos, os dias também nos deixam mais cansados. E, em meio a essa sensação de desgaste coletivo, não há lugar onde não encontremos alguém reclamando de algo ou de alguém.

A chamada “geração mimimi”, que a ciência associa a jovens frequentemente vistos nas redes sociais ou em interações cotidianas reclamando de forma desproporcional, ultrapassou fronteiras etárias e já contamina todas as idades, em escala global.

Não sei se a causa está nos avanços tecnológicos, na criação das redes sociais, na febre dos masterminds, nos vídeos motivacionais do tipo “Eu quero, eu posso, eu consigo”, ou ainda nessa moda do “empoderamento” que virou palavra de ordem. Só sei dizer que pessoas com o mínimo de bom senso estão sendo afetadas e até adoecendo mentalmente, obrigadas a conviver com tanta gente que parece viver sem noção.

Especialistas defendem que, na sociedade atual — marcada pelo acesso instantâneo à informação —, a opinião individual ganhou enorme relevância. Concordo, desde que o debate seja saudável e contribua para o progresso coletivo. Afinal, a liberdade de expressão é garantida por lei e por tratados internacionais. Cada um tem direito de manifestar o que pensa, mesmo que não haja consenso.

É verdade que opiniões divergentes ajudam a expandir horizontes. Mas isso não significa que precisamos participar de toda e qualquer discussão. Expressar-se deveria servir para transformar positivamente a vida de quem fala e de quem escuta — não para empoderar quem sofre da síndrome do “alecrim dourado”.

E foi justamente lendo comentários sobre notícias relevantes que percebi o quanto o mimimi está fora de controle. Cheguei a ver críticas à iluminação rosa do Cristo Protetor, ação que simboliza a luta contra o câncer de mama e reforça a importância do diagnóstico precoce — não apenas desse, mas de todos os tipos de câncer. É inacreditável como até causas universais conseguem virar alvo de reclamação.

A confusão entre conceitos, associada à dificuldade de interpretação de textos, cria uma legião de pessoas que acreditam saber mais do que os outros. Mas, como já destaquei, ninguém é obrigado a concordar com ninguém. O que não dá é falar sem refletir. Hora e lugar importam. Opiniões divergentes são fundamentais, desde que tragam algo de útil. Se for apenas para reclamar ou criticar por criticar, o melhor é se abster. Afinal, já temos mimimi demais para administrar.

Publicidade

Deixe uma resposta

Verifique também
Fechar
Botão Voltar ao topo