#ColunaDaMari | PluralCast

Na última quarta-feira, meu amigo Ricardo Werner, sempre atento aos temas que movimentam o debate social, entrevistou a psicóloga Monica Katz no programa PluralCast, exibido pela TV Força do Vale. O assunto foi “adultização infantil” — um termo que pode soar recente para muitos, mas que já é estudado há décadas e se refere à exposição precoce de crianças a comportamentos, responsabilidades e expectativas próprias do mundo adulto. O bate-papo está disponível no Facebook e YouTube, e vale a pena ser assistido com atenção: é daqueles conteúdos que fazem a gente refletir sobre o papel da família e da sociedade na formação de nossas crianças.
Adultização: ontem e hoje
Se olharmos para trás, veremos que a “adultização” sempre existiu, ainda que sob outros nomes. Basta conversar com nossos avós: muitos, antes mesmo dos dez anos, já cuidavam da casa, zelavam pelos irmãos e trabalhavam no campo ou em ofícios para ajudar a família. No passado, isso era visto como um rito natural de amadurecimento e, para muitos, motivo de orgulho. Há quem diga que essas vivências forjaram adultos mais resilientes e preparados para enfrentar a vida. No entanto, o cenário mudou. Em tempos de redes sociais, a adultização assume contornos mais perigosos e prejudiciais. Hoje, muitas crianças são expostas cedo demais a padrões estéticos, modas, consumos e comportamentos que nada têm a ver com sua fase de desenvolvimento. O que antes era visto como responsabilidade, agora, muitas vezes, se mistura à superficialidade.
Uma adultização diferente
Diversos estudos apontam que, independentemente da época, a adultização não é saudável. Mas arrisco dizer que a forma como ela acontecia no passado era, em muitos casos, menos nociva do que a que presenciamos agora. Fomos “adultizados” para cumprir tarefas e assumir responsabilidades: lavar a louça, arrumar o quarto, ajudar no sustento da casa. Isso nos ensinava disciplina, empatia e comprometimento. Hoje, em contrapartida, vemos uma adultização que nasce muitas vezes do desejo de pais de realizar, por meio dos filhos, o que gostariam de ter vivido: roupas caras, agendas lotadas, exposição excessiva nas redes. Ao invés de aprenderem sobre deveres e limites, muitas crianças crescem cultivando valores ligados à aparência e ao consumo, e não ao caráter ou à responsabilidade.
Em tempo…
Enquanto pensava no que escrever nesta semana, percebi o quanto estamos todos imersos — e reféns — das redes sociais. É quase impossível passar um dia sem acessá-las. Sem que percebêssemos, passamos a medir felicidade, sucesso e autoestima pelas lentes filtradas das postagens alheias. Criamos parâmetros irreais sobre o que devemos ter, como devemos nos portar e o que precisamos conquistar para “pertencer”. Nesse processo, tornamo-nos uma sociedade mais fútil, imediatista e consumista. Estamos todos, de certa forma, adoecendo — e o mais preocupante é que nem sempre nos damos conta disso. Talvez o maior desafio do nosso tempo seja reaprender a viver com profundidade, antes que a pressa e a aparência esvaziem a nossa essência — e a das próximas gerações.