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#RaquelCadore | A presença nunca parte

“Aprendi com as primaveras a deixar-me cortar e a voltar sempre inteira.” — Cecília Meireles

Minha avó paterna faleceu no dia de São Pedro com 97 anos, e mesmo sendo uma partida esperada, daquelas que a vida vai sussurrando aos poucos, o coração nunca está pronto. Abre um silêncio dentro da gente, que só quem já passou por isso conhece. A vó Dally morava e trabalhava no mesmo lugar. A casa e a loja eram um só espaço, e era ali que ela recebia as pessoas com um sorriso aberto e sincero, com um olhar que dizia: “seja bem-vindo”, sempre acolhendo a todos com um chimarrão. Recordo que um dia cheguei na loja (casa) dela e a cumprimentei como de costume: “tudo bem vó, como a sra. está?”, e prontamente me respondeu: “melhor impossível! aqui sentada, tomando chimarrão enquanto uma máquina lava a roupa para mim; quem diria que eu seria tão finória…”, hehehe lembro que rimos muito.

Os avós têm um jeito especial de amar. Um amor sem pressa, sem tanta cobrança, sem a rigidez do cotidiano. É um amor que acolhe, que afaga, que nos empresta raízes. Talvez por isso, a figura dos avós seja tão marcante, porque neles encontramos esse afeto descomplicado, uma referência que nos embala desde a infância, e no caso das mulheres, acredito que esse vínculo com a avó tem ainda mais força: é como se através dela, a gente tocasse um pedaço da nossa própria origem.

Há algo muito simbólico em perceber que herdamos mais do que laços de sangue, e com a vó Dally, herdei histórias contadas, a fé, a forma de estar no mundo e a força que mora nas mãos de quem nunca desistiu de recomeçar. Simples assim, falar de avós é falar de tempo e de amor. É lembrar que há vínculos que resistem mesmo ao fim, e hoje agradeço por tudo o que ela foi e por tudo o que ela segue sendo em mim.

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