#RaquelCadore | Apostas online: um alerta necessário

As apostas on-line entraram na nossa rotina, seja na camisa do time, no intervalo do jogo, no celular, no influenciador, e de repente vira hábito e necessidade, e quando a pessoa percebe já está endividada, mentindo para a família e com a cabeça tomada por culpa e ansiedade. Não é exagero, estimativas indicam que cerca de 10,9 milhões de brasileiros já apostam de forma a colocar em risco sua saúde física, mental e financeira. As plataformas de apostas são craques em fazer o jogador acreditar que está no comando, mas o que muita gente não percebe é que por trás dessa liberdade, tem um sistema muito bem pensado para te influenciar a apostar cada vez mais. Esses sites monitoram cada aposta, vitória ou derrota e usam para personalizar sua experiência. Se você perde várias vezes, logo aparece uma promoção irresistível ou um bônus, dando a sensação de que dessa vez, a sorte vai virar, fazendo você agir impulsivamente. As consequências disso são sérias: 86% dos brasileiros que apostam on-line estão endividados e 64% deles estão negativados. Quando a pessoa aposta mais para tentar sair das dívidas, o problema só aumenta, criando um círculo vicioso de endividamento e frustração. O Banco Central calcula que os brasileiros movimentam algo em torno de 30 bilhões de reais por mês em apostas on-line e esse volume preocupa pois está associado ao aumento do endividamento familiar, à redução de consumo em outras áreas, falência, redução de contato social, implicações no mercado de trabalho, consumo e relacionamentos, com consequências na saúde mental. A Organização Mundial da Saúde classifica o transtorno de jogo como um transtorno por comportamento aditivo: a pessoa perde o controle, passa a priorizar o jogo em detrimento de outras áreas da vida e continua jogando mesmo diante de prejuízos graves na economia e na sociedade como um todo. E o que é possível fazer? Reconhecer o problema sem rótulos pois há um mecanismo de dependência. Somar quanto foi gasto em um mês com apostas e comparar com a renda costuma ser um choque de realidade. Também possível criar barreiras concretas como limites de depósito nas plataformas, bloqueio de aplicativos, controle compartilhado de contas com alguém de confiança. A família também precisa ser incluída como rede de proteção. E para quem não tem problema com apostas, mas convive com jovens, idosos ou pessoas mais vulneráveis, fica o convite à prevenção. Conversar sobre o tema em casa, nas escolas, nas empresas e nas comunidades é uma forma de tirar o assunto da clandestinidade pois as apostas on-line já são uma realidade e cabe a nós, como sociedade, decidir se vamos tratá-las apenas como entretenimento e patrocínio de camisa, ou como um tema sério de saúde pública, educação financeira e proteção das famílias.






