ColunasRaquel Cadore

#RaquelCadore | Dezembro e o tempo que nos atravessa

Dezembro chega sempre apressado, mas carregando uma delicadeza que nenhum outro mês tem. É como se o calendário respirasse fundo e perguntasse em silêncio: “E então, como você viveu este ano?” Nas ruas as luzes acendem antes do sol se pôr. Casas e comércio com enfeites lembram que o Natal se aproxima. As agendas se enchem de encontros, formaturas, jantares, amigo secreto, festas da firma, compromissos que tentam caber em dias cada vez mais curtos.
Também é tempo de balanço. O balanço humano: o que nos alegrou, o que doeu, o que ainda não conseguimos resolver. Transito entre celebração e silêncio, e compreendo que cada um tem seu tempo de elaborar, de se recompor, de recomeçar. Não fico me cobrando um entusiasmo que às vezes, precisa vir mais devagar.
Entre compromissos, questiono o que realmente importa, com quem quero estar, e principalmente o que escolho carregar para o próximo ano, e o que já passou da hora de soltar.
Dezembro também é mês de gratidão. Não uma gratidão ingênua, que finge que tudo foi fácil, mas aquela que reconhece que apesar de tanta coisa, seguimos aqui. Seguir é um privilégio e ao mesmo tempo, uma responsabilidade.
Na comunidade, dezembro mostra a força do encontro: ceia comunitária de ação de graças, campanhas solidárias, ações para movimentar o comércio local, eventos.
Talvez a grande beleza de dezembro esteja nisso: lembrar que nenhum ano se constrói sozinho. Que por trás de cada conquista há mãos que ajudaram, ombros que ampararam, olhares que apoiaram em silêncio.
Enquanto o ano termina, nasce um convite: desacelerar por dentro, mesmo que o lado de fora siga corrido. Olhar nos olhos, agradecer pelos aprendizados, pedir desculpas quando for preciso, valorizar as pequenas alegrias que somadas, sustentaram nossos dias.
Dezembro é fim e começo ao mesmo tempo. É página que se fecha, mas também folha em branco, e que ela seja escrita no ritmo certo, sem atropelar o coração.
Que a gente aproveite este mês não apenas para correr atrás do que faltou, mas para honrar tudo o que já foi possível, e que ao chegar o último dia do ano, possamos dizer com verdade: “Eu estive presente na minha própria vida, no meu tempo e do meu jeito”, e que como comunidade, possamos viver este dezembro com mais respeito ao tempo de cada um, mais gentileza e mais presença nos lugares e nas pessoas que amamos.

Publicidade

Deixe uma resposta

Botão Voltar ao topo