ColunasRaquel Cadore

#RaquelCadore | Morango do amor

De uma hora para outra não se falava em outra coisa nas redes sociais, e eu precisei pesquisar para ver do que se tratava o tal do morango do amor que viralizou. Era um morango, vermelho, brilhante, envolto em uma calda de açúcar. Mais do que isso, era a promessa do prazer imediato, da recompensa fácil, do afeto em forma de açúcar. Vivemos de tal modo que se não estivermos atentos, os algoritmos aprendem mais sobre nós do que nós mesmos. Eles sabem do que gostamos, o que nos comove, o que nos irrita, o que nos seduz, e nos oferecem como consolo, o morango do amor. Uma metáfora para tudo aquilo que parece feito sob medida para satisfazer nossos anseios de uma forma muito superficial. Me questiono se quando o desejo é constantemente induzido, se ainda é desejo ou já virou obediência? Somos seres desejantes, cheios de lacunas e buscas e isso nos torna humanos. O problema não está em desejar, está em não identificarmos nossa verdade e terceirizamos nosso desejo. A lógica do que viraliza não é neutra, nada viraliza por acaso. O que explode nas redes é o que ativa emoções rápidas, intensas e principalmente previsíveis. Viraliza o que mexe com nossos sentimentos: prazer, aprovação, pertencimento, escândalo. O morango do amor viralizou e com ele fica evidente a fome de conexão, e nada contra o morango, pelo contrário. O que viraliza é o que rende clique, o que captura, o que vicia, e a gente vai, sem perceber, se afastando do que realmente desejamos. A sensação é de liberdade, mas estamos dentro de um cercado invisível onde o que você quer já foi programado. Quando o algoritmo entende que estamos carentes, cansados, frustrados, ele não oferece silêncio, pausa ou profundidade, ele nos entrega o morango do amor, a versão digital do afago rápido. Um prazer superficial, que alimenta pouco e cobra caro: nossa atenção, nossa autonomia e nosso tempo. Desligar o automático é revolucionário. Reconhecer a potência de escolher é o maior ato de liberdade, porque às vezes, o verdadeiro desejo não está no morango coberto de likes, mas no silêncio entre uma notificação e outra. Que saibamos reconhecer quando o desejo é só uma isca ou quando é uma semente que floresce.

Publicidade

Deixe uma resposta

Botão Voltar ao topo
Fale conosco!