Bebidas com metanol causam mortes e expõem mercado ilegal de R$ 56,9 bilhões
Pelo menos doze pessoas morreram após consumir bebidas contaminadas. Produção clandestina usa substância tóxica para aumentar volume e lucro com destilados.

O Brasil já registra 14 casos confirmados de intoxicação por metanol após ingestão de bebidas adulteradas, além de 195 notificações sob investigação, segundo balanço atualizado do Ministério da Saúde. Ao menos 12 mortes estão relacionadas ao surto.
Esquema revelado em SP
Uma operação da Polícia Civil de São Paulo identificou um esquema de falsificação de bebidas alcoólicas com uso de metanol, substância industrial altamente tóxica. O composto foi encontrado em gim, vodca, uísque e outros destilados vendidos em bares no interior paulista.
Há suspeita de que o metanol tenha sido adicionado intencionalmente para aumentar o volume dos lotes falsificados. A prática, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é comum em fraudes e pode atingir até mesmo estabelecimentos formais, com uso de garrafas e rótulos reutilizados.
Números em expansão
Segundo o Ministério da Saúde:
- 195 notificações de suspeita de intoxicação por metanol
- 14 casos confirmados até o momento
- 12 mortes associadas ao surto (1 confirmada e 11 em investigação)
- Mortes sob apuração em São Paulo, Pernambuco, Bahia e Mato Grosso do Sul
A maioria das vítimas teria consumido bebidas de procedência duvidosa, adquiridas em mercados informais ou locais sem fiscalização.
Mercado ilegal e falhas no controle
Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que o mercado ilegal de bebidas alcoólicas movimentou R$ 56,9 bilhões em 2023, um salto de 224% em relação a 2017.
As principais práticas identificadas são:
- Falsificação com uso de rótulos e garrafas de marcas conhecidas
- Contrabando por fronteiras e rotas clandestinas
- Produção artesanal irregular, sem padrões sanitários
- Sonegação fiscal, com evasão de tributos
Mais de 1,3 milhão de garrafas reutilizadas foram apreendidas somente em 2023.
Facções criminosas e rota nacional
A Polícia Federal apura possível atuação de facções criminosas na distribuição interestadual da bebida adulterada. O Fórum de Segurança aponta que organizações como PCC e Comando Vermelho já atuam nesse mercado como forma de diversificação ilícita.
Entre os esquemas conhecidos:
- Contrabando de vinhos pelo Rio Grande do Sul
- Entrada de destilados pelo Paraguai
- Atuação de milícias no Rio de Janeiro
Fiscalização enfraquecida
O sistema Sicobe, que controlava a produção de bebidas, está suspenso desde 2016. Apesar de determinações do TCU para sua retomada, decisão do STF manteve a suspensão, alegando ineficiência e alto custo.
A Receita Federal admite que a fiscalização foi fragilizada e hoje se baseia em selos físicos, menos eficazes diante da sofisticação das falsificações.