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Mundo caminha para 2,6 °C de aquecimento até 2100, aponta novo relatório

Mortes por calor entre idosos aumentaram 167% desde 1990; Acordo de Paris evita cenário ainda mais grave

O mundo segue rumo a um aquecimento de 2,6 °C até o fim do século, mesmo se os compromissos climáticos atuais forem mantidos. A projeção é do novo relatório da Atribuição Climática Global (WWA) em parceria com a Climate Central, divulgado nesta quinta-feira (16). O estudo reforça que, sem o Acordo de Paris, o planeta estaria se encaminhando para um aumento de 4 °C e 114 dias extras de calor extremo por ano até 2100.

Desde 1990, as mortes relacionadas ao calor entre idosos aumentaram 167%, tornando o calor extremo a forma de evento climático mais letal da atualidade — ainda que frequentemente ofuscado por tragédias como enchentes ou tempestades.

Atualmente, o aquecimento global já atingiu cerca de 1,4 °C em relação aos níveis pré-industriais. Mesmo com os cortes atuais de emissões, a expectativa é que o planeta registre, nas próximas décadas, 57 dias adicionais de calor extremo por ano, impactando diretamente a saúde pública, o meio ambiente e os direitos humanos.

Acordo de Paris evitou cenário mais catastrófico

Adotado em 2015, o Acordo de Paris reuniu 196 países em um pacto para limitar o aquecimento global a menos de 2 °C, com esforços para manter o aumento em até 1,5 °C. O novo relatório mostra que, embora o mundo ainda esteja longe da meta ideal, o acordo já evitou um cenário muito mais severo, no qual o aquecimento chegaria a 4 °C.

“Ainda caminhamos para um futuro perigosamente quente”, alerta Kristina Dahl, vice-presidente de ciência da Climate Central. “Mas sem o Acordo de Paris, o impacto seria duas vezes pior.”

Na prática, eventos climáticos extremos recentes — como o calor recorde nos EUA, México e Europa entre 2023 e 2024 — seriam de 5 a 75 vezes mais prováveis em um mundo 4 °C mais quente.

Impactos na saúde e nos ecossistemas

Com cada fração de grau adicional, aumenta o risco de colapso de ecossistemas, como a Floresta Amazônica e os recifes de corais, além do agravamento da seca, insegurança alimentar e crises hídricas.

“As pessoas não precisam morrer de calor”, afirma a climatologista Friederike Otto, da WWA. “Existem medidas relativamente simples para salvar vidas, mas o financiamento para adaptação ainda é insuficiente.”

Segundo o relatório:

  • Apenas metade dos países possui sistemas de alerta para calor

  • Somente 47 nações têm planos nacionais de ação contra o calor

  • O calor atinge com mais força idosos, pessoas de baixa renda, trabalhadores expostos e quem possui doenças crônicas

Entre as recomendações estão o fortalecimento dos sistemas de saúde e energia, a criação de áreas verdes urbanas, e proteções trabalhistas para quem atua em ambientes externos.

Avanços e desafios

Apesar dos alertas, o relatório reconhece avanços: em 2024, pela primeira vez, as fontes renováveis superaram o carvão como principal matriz energética global. No entanto, as emissões de CO₂ bateram novo recorde, e a transição para longe dos combustíveis fósseis ainda é considerada lenta.

“Temos o conhecimento e a tecnologia. O que falta são políticas mais fortes e justas”, conclui Otto.

A próxima Conferência do Clima da ONU (COP30) será realizada em 2026 no Brasil, e deve ser palco de novas cobranças por ação concreta contra as mudanças climáticas.

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