Outubro Rosa e Dia do Professor se encontram na trajetória de Daniele Gazola

Outubro é um mês de duplo significado: o rosa da prevenção e o reconhecimento aos professores, celebrado no dia 15. De um lado, a luta pela saúde das mulheres; de outro, a valorização daqueles que dedicam a vida a ensinar e transformar. Dois temas que se cruzam na trajetória da professora Daniele Gazola, de 43 anos, que uniu coragem, fé e vocação em uma história de superação.
Em entrevista ao Força do Vale, Daniele — professora de inglês no CEAT, de Roca Sales, e no Scalabrini, em Encantado — relatou sua experiência ao enfrentar um câncer de mama aos 41 anos e como o diagnóstico transformou sua vida pessoal e sua atuação como docente. “Tudo começou com o autoexame, em casa, durante o banho. Eu senti um nódulo e resolvi procurar um médico”, relembra. “No início disseram que poderia ser um fibroadenoma, mas algo me dizia para insistir.”
Depois que alguns exames apontaram resultados inconclusivos, Daniele buscou atendimento em Porto Alegre, onde veio a confirmação: câncer de mama. Em julho do ano passado, ela passou por cirurgia, realizou sessões de radioterapia e segue em remissão, com uso contínuo de tamoxifeno — medicamento de bloqueio hormonal. “Estou bem, acompanhada de perto pelos médicos e com fé em Deus. A informação e a espiritualidade caminharam juntas no meu tratamento”, afirma.
O diagnóstico
Nos primeiros dias após o diagnóstico, Daniele se desesperou. “Foi um choque. Chorei muito, pensei em mil coisas, o medo é inevitável. Mas, aos poucos, comecei a buscar informação, entender o tipo de câncer que eu tinha. A medida que me informava, eu me tranquilizava. O conhecimento me deu força.”
Durante o período de afastamento, cerca de seis meses, ela recebeu apoio integral dos alunos, direção e colegas das escolas. “Sempre foram muito empáticos. Quando passei pela cirurgia, meus alunos enviaram flores para a minha casa, e esse gesto me marcou profundamente. Esse carinho cura a gente também”, conta.
Questionada se em algum momento pensou em abandonar a profissão, Daniele, em tom emocionado, foi categórica: “Nunca. Em nenhum momento. Eu só pensava em melhorar logo para poder voltar aos meus alunos, à sala de aula, à rotina que eu amo.”
Autocuidado
De volta à escola, ela passou a enxergar a docência sob outra perspectiva — mais humana, sensível e transformadora. “Ser professora é muito mais do que ensinar gramática. É educar para a vida. Hoje, aproveito cada oportunidade para falar com os alunos sobre saúde e autocuidado. Digo a eles: conversem com suas mães, tias, avós. A prevenção precisa começar cedo.”
E essa atenção precoce é mesmo essencial. A incidência de câncer de mama em mulheres com menos de 40 anos aumentou 176% entre 2010 e 2020, e hoje cerca de 10% a 15% dos diagnósticos no Brasil ocorrem antes dos 40. Dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) e da Sociedade Brasileira de Mastologia indicam que 33% dos casos registrados já estão fora da faixa etária clássica de rastreio (50 a 69 anos). Além disso, tumores em mulheres jovens tendem a ser mais agressivos e de diagnóstico mais tardio, muitas vezes não detectados pela mamografia tradicional.
Daniele vivenciou isso na prática: “Fiz mamografia e nada apareceu. Só a biópsia confirmou. Então eu sempre digo: insistam. Se sentirem algo estranho, procurem ajuda. É melhor enfrentar o medo agora do que o arrependimento depois.”
A professora afi rma que essa experiência mudou sua forma de olhar o mundo. “Eu sempre procurei viver a vida intensamente, mas depois de tudo o que passei, aprendi a enxergar as pessoas e as situações com um olhar ainda mais humano, mais empático e mais carinhoso. Essa vivência me fez valorizar cada instante com meu filho e com as pessoas que amo.”
Com o tratamento em andamento e o câncer sob controle, Daniele transformou sua vivência em lição de vida dentro e fora da sala de aula. “O professor é um multiplicador. Quando falamos de prevenção e autocuidado com os alunos, essas informações ecoam nas famílias. Isso também é parte do nosso papel como educadores”, afirma.
Neste Outubro Rosa, em meio à celebração do Dia do Professor, a história de Daniele lembra que ensinar é um ato de amor — e cuidar de si também é. Sua jornada é uma aula sobre coragem, esperança e o poder da informação na luta pela vida.
Ao final da entrevista, quando foi questionada sobre o que diria às mulheres que estão passando pelo mesmo processo, Daniele, de forma direta e emocionada, resumiu:
“Tenham fé.”

Por Amanda Rech