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Terras raras: o tesouro que o Brasil tem, mas ainda não sabe explorar

Grupo de 17 elementos essenciais à indústria tecnológica é alvo de disputa global; Brasil tem reservas, mas falta estrutura para explorar

Mais comuns que o ouro, mas muito mais difíceis de extrair, as chamadas terras raras estão no centro de uma nova corrida global por influência e domínio industrial. Usadas em celulares, carros elétricos, turbinas eólicas e até mísseis, essas 17 substâncias químicas travam hoje um embate geopolítico entre China, Estados Unidos e países com grandes reservas, como o Brasil.

Apesar de ter a segunda maior reserva do mundo, o Brasil ainda exporta o material bruto, sem transformar a riqueza mineral em ganhos industriais ou tecnológicos.


O que são terras raras?

As terras raras são um grupo de 17 metais que, apesar do nome, são relativamente abundantes na crosta terrestre. A dificuldade está na extração: eles estão sempre misturados a outros minerais e exigem processos caros e poluentes para separação.

• Para extrair 1 kg de terras raras, é preciso retirar 1 tonelada de minério
• O preço por quilo varia de R$ 353 (neodímio) a R$ 5.460 (térbio)
• O minério de ferro, por comparação, custa cerca de R$ 0,60 o quilo

Esses elementos são indispensáveis à produção de superímãs permanentes, componentes usados em praticamente toda tecnologia de ponta – de painéis solares e drones até aviões militares e sistemas de mísseis.


Quem domina o setor

A China lidera o mercado global, controlando não apenas a maior parte das reservas, mas também toda a cadeia produtiva – da extração ao refino e fabricação.

Os Estados Unidos tentam reagir com políticas de incentivo e tarifas contra produtos chineses, mas enfrentam a falta de autonomia no processamento dos elementos.

Outros países com grandes reservas também entraram no radar internacional, como Austrália, Ucrânia, Groenlândia, Congo e Brasil.


Situação do Brasil

Segundo o relatório U.S. Mineral Commodity Summaries, o Brasil detém 23% das reservas mundiais conhecidas de terras raras. No entanto, a única mineradora em operação é a Serra Verde, em Minaçu (GO), que iniciou as atividades em 2024.

A extração no local é considerada menos poluente, feita a céu aberto e sem o uso de produtos químicos tóxicos. Ainda assim, o processamento final é feito no exterior.

“O Brasil tem acesso ao recurso, mas não consegue agregar valor. Extraímos, causamos impacto ambiental e vendemos barato, enquanto outros países enriquecem com o produto final.” — Jonathan Colombo, professor da FGV

O Ministério de Minas e Energia reconhece a defasagem, mas vê uma “janela de oportunidade” para desenvolver uma indústria nacional de processamento, aproveitando a energia limpa e abundante disponível no país.


Impacto ambiental

A exploração de terras raras tem alto potencial de impacto ambiental, sobretudo quando não há controle sobre o uso de substâncias químicas no refino.

Na cidade de Baotou, na China, décadas de exploração deixaram lagos de rejeitos tóxicos e relatos de aumento nos casos de câncer. No Brasil, o modelo da Serra Verde promete menor impacto, mas o setor ainda carece de regulamentação robusta e política nacional definida.


Novo xadrez global

Especialistas apontam que as terras raras redesenham o mapa do poder econômico global. No passado, esse papel coube ao carvão (século 19) e ao petróleo (século 20). Agora, países que controlam os minerais estratégicos ditam as regras.

“O poder está migrando para os que têm minerais críticos. E aí entram China, Brasil, Congo, África do Sul e outros.” — Jonathan Colombo

O Brasil, embora bem-posicionado no mapa das reservas, ainda fica à margem da disputa real, por falta de estrutura, planejamento e domínio tecnológico.

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