Até onde Putin pretende ir com a invasão da Ucrânia? | Análise de Bruno Garschagen
Até onde Putin pretende ir com a invasão na Ucrânia? Ninguém tem a menor ideia, mas as sanções econômicas aplicadas até agora não surtirão o efeito desejado contra o governo de um autocrata que vem se preparando há anos para não depender das relações comerciais e do sistema bancário dos países ocidentais e muito menos temer uma reação militar internacional a qualquer tipo de investida contra países vizinhos, como a Ucrânia.
O projeto político de Putin não é restabelecer a União Soviética, mas o espaço geográfico na região cujos povos têm antigos laços históricos, culturais, religiosos. Kiev, por exemplo, foi capital da Rússia em 882 e a “Rússia de Kiev” durou do século IX ao XIII. Putin parece se considerar uma mistura de Ivã III, o Grande (1440-1505), com Stalin (1878-1953). Ivã III foi implacável com inimigos, violou acordos, invadiu e anexou territórios e, a partir de Moscou, conquistou um poder sem precedentes na época, ações que foram cruciais para a formação do Czarado da Rússia em 1547. Stalin dispensa apresentações.
Nesse sentido, qualificar Putin apenas de comunista não permite explicá-lo e as suas decisões. Ele parece querer restaurar a Terceira Roma, a ideia político-religiosa baseada na fé de que Moscou, no século XV, seria a sucessora política e religiosa de Constantinopla (a Segunda Roma), que teria sucedido o Império Romano. Para isso, Putin combina o treinamento, experiência, método, estratégia do regime socialista ao qual serviu fielmente na KGB e na FSB com o uso instrumental da retórica religiosa e da própria Igreja Ortodoxa Russa. O que os socialistas fizeram para destruir a fé do povo, Putin tem feito para colocá-la a seu serviço.
Na Ucrânia, desgraçadamente, parte da população (como a senhora da foto) vem sofrendo com os ataques dos russos sem que, até o momento, haja qualquer ajuda militar estrangeira. Mesmo a coragem dos ucranianos, muitos dos quais compararam armas e munição nas últimas semanas, não será suficiente diante do poderio militar da Rússia de Putin.
E ainda há quem o justifique e o defenda. Inacreditável.
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