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“Em lua de mel com a América”

Por Luiz Bettinelli

Na quarta-feira, dia 28, o furacão Ian atingia a Florida, nos Estados Unidos, com potencial para ocasionar destruição. Tampa, Oeste do estado, é uma das cidades mais atingidas. Mais ao Norte, há cerca de 400 quilômetros, em Jacksonville, residem Guilherme Picolli Bouvié, 29 anos, e Aline Rafaela Cettolin, 31 anos. Os dois estão há dois anos e meio residindo no país, casaram lá e neste tempo tiveram uma filha, a Bia. Os furacões, fenômenos naturais, que são quase que corriqueiros não intimidam o casal, que diz viver em “lua de mel com a América”.
A entrada de brasileiros nos EUA aumentou desde junho, em 43%, segundo dados do Ministérios de Relações Exteriores. Entre os motivos, está a busca por uma melhora na qualidade de vida. Guilherme, natural de Muçum, e Aline, de Encantado, largaram a estabilidade do emprego na área administrativa de uma empresa em Encantado em busca, justamente, de melhores condições de vida.

O sonho de morar na América do Norte, algo alimentado desde muito novos, virou realidade a partir do dia 09 de março de 2020. Eles rumaram para a cidade de mais de 900 mil habitantes, onde um tio de Guilherme reside há quase cinco anos. Hoje, donos do próprio negócio em solo americano, uma empresa prestadora de serviços, com a almejada qualidade de vida considerada elevada em relação ao Brasil, o casal não pretende retornar ao Brasil e conta um pouco de como tem sido a experiência.

Confira a entrevista da reportagem do Jornal Força do Vale, com o casal:
JFV: O que fez vocês se mudarem para os EUA?
Sempre foi nosso sonho morar aqui, mesmo antes de nos conhecermos. Quando começamos a namorar, essa vontade foi só crescendo até que decidimos que era a hora certa de buscar novos ares. Largamos nosso emprego e viemos para cá com o intuito de realizar nosso sonho, desenvolver o inglês e claro, ter mais qualidade de vida.
JFV: Como foram os primeiros dias em solo americano?
Uma semana após a nossa chegada foi decretado lockdown, por causa da pandemia. Ficamos presos em casa e nossa diversão era ir no Walmart, nem que fosse para passar o tempo. Obviamente usamos o tempo que tínhamos disponível para estudar inglês e refazer nossos planos. Aos poucos a Florida foi abrindo e conseguimos dar andamento a tudo que havíamos planejado.
JFV: Já tinham domínio do inglês? Foi difícil se adaptar ao cotidiano em função da língua?
Nós sabíamos falar inglês pois fazíamos aula todos os dias. Quando desembarcamos do avião percebemos que não seria nada fácil. Não entendíamos absolutamente nada. Mas, em questão de um mês imerso na língua, tendo que telefonar, assistir TV, rádio, tudo em inglês, conseguimos pegar o ritmo e hoje podemos dizer que o idioma está 90% dominado.
JFV: Ao longo do tempo, quais as principais adversidades encontradas?
Não tem como falar em adversidades e não citar o lockdown, principalmente no começo da pandemia. Foi um período muito difícil de lidar, como já falamos anteriormente. Assim como o domínio da língua e o entendimento dos processos aqui, por exemplo, como funciona sistema de saúde, escolas, mercado de trabalho e em geral a cultura. É tudo muito diferente do Brasil.
JFV: Hoje, fazendo uma análise do tempo em que estão aí, quais os pontos positivos que enxergam como positivo em se morar fora do país? Quais os pontos negativos?
Podemos dizer que o principal é a qualidade de vida. Vivemos uma vida confortável, estamos criando nossa filha da melhor maneira que acreditamos ser, nos sentimos muito seguros vivendo na comunidade, enfim, muito diferente do Brasil onde dificilmente conseguiríamos ter esse mesmo padrão de vida. Sobre pontos negativos, sinceramente? Amamos demais esse país até agora para que possamos encontrar um. Ainda estamos em lua de mel com a América.


JFV: Atualmente, para vocês, quais as principais diferenças entre o Brasil e os Estados Unidos?
Pode parecer clichê, mas os brasileiros são mais fáceis para criar vínculo de amizade. O americano é mais na dele, eles são muito educados, você vai trocar algumas palavras com seu vizinho antes do trabalho, ou quando sai para caminhar, mas para por aí. Para criar vínculos é mais difícil.
Outra coisa que nos “assustou” quando chegamos foi a comida. É muito diferente do Brasil, aqui tudo tem que ser rápido então acaba que você só encontra coisas rápidas tipo hambúrguer, sanduíches, frango frito e etc. Nós brasileiros gostamos de comida de verdade.
Outra diferença que foi estranha para nós, é que eles não usam o Whatsapp, nem sabem o que é. Aqui é tudo por mensagem de texto. Outra coisa curiosa é que eles são muito amigáveis com desconhecidos, você sempre receberá um elogio de um estranho no mercado, em um restaurante, em situações corriqueiras do dia-a-dia.
JFV: O povo americano é hospitaleiro? Ao longo do tempo sofreram algum tipo de preconceito por serem imigrantes?
Podemos falar daqui onde vivemos. Nunca sofremos qualquer tipo de preconceito aqui. A cidade aqui, apesar de grande, é no interior da Florida, então há muitos Rednecks (como chamam as pessoas do interior) que é um povo mais fechado. Mesmo assim, não sentimos preconceito.
JFV: Vocês tiveram uma filha aí, como foi e está sendo esta experiência?
Sim, tivemos a Bia aqui, hoje ela tem 18 meses. Foi e está sendo maravilhoso. A nossa vida mudou completamente, costumamos dizer que agora encontramos o sentido da nossa vida. Antes de ter filhos você vive uma vida para você mesmo, mas quando você tem filhos, parece que a sua vida ganha um sentido real, ter por quem voltar para casa.
JFV: Pretendem voltar a residir no Brasil? Vocês têm algum planejamento para que isso aconteça?
Não temos essa vontade. Nossa filha é americana e pretendemos que ela tenha acesso às coisas boas que esse país proporciona, então vamos fazer de tudo para que possamos ficar aqui.
JFV: Voltarão para visitar a família? Quando?
Sim, iremos para o Brasil para visitar sempre que possível. No momento ainda não sabemos quando.
JFV: Como deve proceder alguém que queira morar fora do país? Que conselhos dariam à essas pessoas?
Primeira coisa é aprender o idioma. Depois, ter um plano definido e segui-lo. Tenha uma quantia em dinheiro como reserva, pois você não sabe como será a adaptação no novo país. Veja se há alguma forma (e sempre tem um jeito) de viver legalmente no país.
Também é bom citar que a pessoa que deseja morar fora deve ser resiliente, tem que saber se adaptar rapidamente à nova situação, tem que gostar de ser independente, aprender a viver sem a ajuda de família e amigos. Você vive bem, mas tem que correr atrás do que deseja.
Acreditamos que morar fora sempre vai ser uma experiência válida, não importa se virá para sempre ou se for por um curto período. Você sempre vai aprender algo novo, um idioma, uma cultura, uma nova forma de ver o mundo.

Agro Dália

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