Ícone do site FORÇA DO VALE

Setembro Amarelo: A saúde mental precisa de atenção contínua

Por: Andieli Dias

O Rio Grande do Sul registra as maiores taxas de suicídio no Brasil, com Venâncio Aires liderando o ranking, conforme o Informe Epidemiológico da Secretaria Estadual da Saúde (SES). Em 2022, foram 1.560 mortes, o maior número desde 2010, com jovens de 15 a 19 anos sendo os mais afetados entre 2020 e 2022. Recentemente, dois casos foram registrados em Encantado e Roca Sales, além de uma morte por suicídio em Relvado.

A campanha do Setembro Amarelo tem como principal objetivo conscientizar a sociedade sobre a importância da prevenção ao suicídio, um tema que ainda enfrenta preconceitos, apesar do crescente número de casos. Segundo a psicóloga Stela Prado Lopes, a campanha visa promover o diálogo sobre saúde mental e encorajar as pessoas a buscar ajuda psicológica. “É fundamental falar sobre o assunto e criar políticas de cuidado para atender essa demanda”, afirma.

Sinais de Alerta

Psicóloga Stela Prado Lopes

Entre os sinais de alerta para os quais familiares e amigos devem estar atentos estão mudanças no comportamento, isolamento social, tristeza profunda, perda de interesse por atividades antes prazerosas, despedidas inesperadas, irritabilidade excessiva ou até mesmo pagamento antecipado de contas. “Esses comportamentos podem vir acompanhados de sentimentos de culpa, vazio e falas que demonstram desesperança intensa, por isso, estar atento aos sinais é essencial”, reforça a psicóloga.

O Papel da Psicoterapia e da Rede de Apoio

De acordo com Stela, a psicoterapia oferece um ambiente seguro para que pacientes expressem seu sofrimento, permitindo a identificação de sinais de depressão e ideação suicida, além de mapear caminhos para o tratamento adequado. Ela destaca que, muitas vezes, o acompanhamento psiquiátrico também pode ser necessário. “Escutar com atenção e apoiar sem invalidar a dor de quem sofre é uma das atitudes mais importantes que podemos ter”, conclui.

Enrique Ortega

Acompanhamento Psiquiátrico
O médico Enrique Ortega esclarece que o acompanhamento psiquiátrico é essencial quando há a necessidade de uma avaliação médica especializada. “É crucial determinar o grau de risco de suicídio e identificar indícios que possam levar a tal ato. A partir dessa avaliação, podemos decidir se o tratamento deve incluir medicação, psicoterapia ou ambos”, afirma Ortega. Embora nem todos os casos exijam o uso de medicação, em muitos casos a intervenção com medicamentos é vital, especialmente quando há um planejamento concreto para o suicídio e acesso aos meios necessários para sua execução. Cada situação é analisada individualmente para tratar os transtornos existentes e prevenir riscos de suicídio.

Recursos de Apoio

O suicídio, considerado uma questão de saúde pública, exige atenção e cuidados de toda a sociedade. Além de serviços como a rede de atenção básica, psicólogos e psiquiatras, o Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio especializado para pessoas em sofrimento agudo e ideação suicida. O serviço é sigiloso e está disponível 24 horas por dia, via chat, e-mail ou telefone (188), permitindo que a pessoa converse com um profissional e encontre suporte para lidar com suas angústias.

CAPS Encantado faz ação no Setembro Amarelo

A equipe do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) de Encantado realizou uma ação na última terça-feira (10) em frente à Casa de Cultura Setembro Amarelo. O objetivo foi promover uma maior compreensão sobre a importância da campanha de prevenção ao suicídio e desmistificar o atendimento psicológico.

O CAPS está disponível para acolher a população sem a necessidade de encaminhamento prévio. O atendimento é feito por uma equipe composta por psicólogos, psiquiatra, enfermeira, técnica de enfermagem, assistente social e recepcionistas, de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h. O serviço está localizado próximo ao Parque João Batista Marchese.

Reflexão e Empatia 

Padre Patrick Fernandes

O Padre Patrick Fernandes, em um recente vídeo publicado em suas redes sociais, abordou a necessidade de estender a compreensão e o apoio além do mês de setembro.
“Em janeiro, João tinha TOC e foi chamado de bobo.
Em fevereiro, Paula era bipolar e a chamaram de doida.
Em março, Júlia tinha crises de ansiedade e diziam para ela se focar no presente.
Em abril, Leandra tinha anorexia e ouvia as pessoas rindo e falando dela.
Em maio, Maria teve síndrome do pânico e disseram que era frescura.
Em junho, Paulo teve depressão e foi chamado de fraco.
Em julho, Lucas descobriu a esquizofrenia e disseram que era invenção da cabeça dele.
Em agosto, Daniel teve transtorno da personalidade borderline e falavam que ele queria chamar atenção. Em setembro, tudo ficou amarelo, as pessoas começaram a entender todos os problemas e nos estenderam a mão, nos medicaram e postaram textos em suas redes sociais para nos apoiar.
No entanto, em outubro, continuaram a nos chamar de loucos, fracos e diziam que nos faltava fé. ‘Sua vida é tão boa!’, ‘Como pode reclamar?’, eles diziam.
Em novembro, Paulo se matou. ‘Mas era tão jovem!’, ‘Era uma boa pessoa’, porém tudo que Paulo queria era que todos os meses fossem amarelos também, que os julgamentos acabassem e que as pessoas realmente entendessem que os problemas psicológicos não são escolha nossa, e que nós precisamos de ajuda não só em setembro, mas em todos os meses”.

Sair da versão mobile