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Crianças com risco de câncer: sêmen com mutação foi usado por 15 anos e distribuído a clínicas de 13 países

Pelo menos 197 crianças foram concebidas com material genético contaminado; parte das famílias só soube anos depois

Um banco de sêmen da Dinamarca forneceu, por mais de 15 anos, material genético com mutação ligada a câncer grave na infância. O caso afeta ao menos 197 crianças em 13 países e gerou críticas por falhas na comunicação com as famílias e clínicas envolvidas.


Sêmen foi usado por 15 anos sem identificação do risco

O doador, identificado pelo código 7069, conhecido como “Kjeld”, portava a mutação genética TP53, associada à síndrome de Li-Fraumeni que aumenta drasticamente o risco de câncer na infância.

A anomalia foi descoberta apenas em 2023, após um teste genético. Até então, o material havia sido amplamente distribuído por meio do Banco Europeu de Sêmen, com sede na Dinamarca, e usado por clínicas em diversos países, incluindo Bélgica, onde ocorreu um dos casos mais divulgados.


Falhas na notificação das famílias

Céline, uma das mães afetadas, soube da mutação um ano e meio após o bloqueio do doador, quando sua filha já tinha 14 anos. A clínica atribuiu a falha a um problema técnico. O teste confirmou que a adolescente herdou a mutação.

“Eu me sinto extremamente culpada. Saber que transmiti algo que pode ameaçar a vida da minha filha é muito difícil”, relatou Céline.

Outras mães relatam que só souberam da situação por meio de outras famílias, e não por canais oficiais. O banco e algumas clínicas seguem se negando a informar o número de crianças geradas pelo doador, citando proteção de dados.


Consequências já visíveis em algumas crianças

De acordo com a oncogeneticista Edwige Kasper, há registros de crianças que já desenvolveram dois tipos diferentes de câncer, e algumas morreram. Especialistas alertam para a gravidade da falha e cobram transparência internacional no controle desses bancos.

A investigação foi conduzida pela emissora alemã Deutsche Welle (DW) em parceria com veículos públicos europeus, com base em documentos oficiais e entrevistas com médicos e famílias.


Pedido por controle internacional

O Banco Europeu de Sêmen, responsável pelo material, afirmou em nota que seguiu os protocolos legais e científicos vigentes, e que notificou as autoridades quando a mutação foi descoberta.

O caso levou médicos, entidades e especialistas a pedirem:

  • Criação de um registro internacional de doadores

  • Limite global para o número de filhos por doador

  • Protocolos mais rígidos de testagem genética antes da liberação de sêmen para clínicas

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