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Trump quer limitar paracetamol na gravidez e associa uso a autismo

Administração Trump pretende associar o medicamento a casos de autismo, apesar de críticas da comunidade científica e de diretrizes médicas que garantem sua segurança

O governo dos Estados Unidos deve anunciar nesta segunda-feira (22) uma nova diretriz de saúde que liga o uso de paracetamol por gestantes ao risco de autismo em crianças. A proposta contraria orientações internacionais e levanta preocupações entre médicos e especialistas.


Governo anuncia mudança na recomendação

De acordo com a imprensa americana, o presidente Donald Trump deve formalizar ainda hoje uma recomendação para que o paracetamol, conhecido comercialmente como Tylenol nos EUA, seja utilizado com restrições por grávidas — especialmente em casos que não envolvam febre alta.

Na última sexta-feira (19), Trump antecipou que faria um anúncio “incrível” sobre autismo e sugeriu que finalmente teria encontrado uma explicação para o aumento dos casos nos Estados Unidos.


Uso do medicamento é amplamente defendido

Entidades médicas e órgãos de saúde ao redor do mundo, no entanto, seguem considerando o paracetamol como uma das opções mais seguras para grávidas no tratamento de dor e febre.

  • O Colégio Americano de Obstetrícia e Ginecologia afirma não haver evidências claras que liguem o uso adequado do medicamento a problemas de desenvolvimento fetal.

  • No Reino Unido, o paracetamol é a “primeira escolha” entre analgésicos indicados durante a gestação, segundo o Serviço Nacional de Saúde (NHS).

  • A fabricante Kenvue, responsável pelo Tylenol, declarou que “discorda veementemente” da nova abordagem do governo e que considera a proposta um risco à saúde das gestantes.

“Acreditamos que dados científicos sólidos demonstram claramente que tomar paracetamol não causa autismo”, afirmou a empresa em nota à BBC.


Estudos com resultados inconclusivos

Apesar de algumas pesquisas indicarem possível associação entre o uso do analgésico e o desenvolvimento de autismo, especialistas alertam que os dados não são consistentes.

  • Uma revisão recente da Universidade Harvard sugeriu cautela, mas não confirmou relação direta entre paracetamol e distúrbios neurológicos.

  • Estudo publicado em 2024 não encontrou qualquer ligação entre o uso do medicamento e autismo.

  • Pesquisadores destacam que o autismo é uma condição complexa, geralmente atribuída a uma combinação de fatores genéticos e ambientais.

“Não há evidências robustas ou estudos convincentes que sugiram relação causal entre paracetamol e autismo”, afirmou a professora Monique Botha, da Universidade de Durham.


Medicamento comum no mundo todo

O paracetamol, também conhecido como acetaminofeno, é um dos analgésicos mais utilizados globalmente. No Brasil, está disponível sob diversas marcas e é indicado para febre e dor leve a moderada.

Sua eficácia depende do tipo de dor, sendo mais indicado para casos como:

  • Enxaqueca aguda

  • Dores pós-parto

  • Desconforto leve associado a cirurgias

Já em situações como dores lombares ou dores relacionadas ao câncer, estudos apontam que sua eficácia pode ser comparável à de um placebo.


Riscos estão na dosagem incorreta

Especialistas alertam que o principal risco do paracetamol está no uso acima da dose recomendada. O limite seguro é de até 4 gramas por dia, ou seja, oito comprimidos de 500 mg em 24 horas.

  • Acima disso, pode causar lesões graves no fígado, como insuficiência hepática aguda.

  • O risco é agravado pelo fato de o paracetamol estar presente em mais de 600 medicamentos.

  • Casos de overdose acidental são comuns, especialmente quando o mesmo princípio ativo é consumido em produtos diferentes, sem que o paciente perceba.


Contexto político e histórico

O secretário de Saúde dos EUA, Robert F. Kennedy Jr., aliado de Trump, prometeu em abril uma ofensiva para identificar supostas causas do autismo em cinco meses — prazo considerado irrealista por especialistas.

Kennedy já foi alvo de críticas no passado por associar, sem base científica, vacinas ao aumento de casos de autismo.

Nos Estados Unidos, a taxa de diagnóstico entre crianças de 8 anos chegou a 2,77% em 2020, segundo os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Parte do aumento é atribuída a avanços na detecção e ampliação dos critérios diagnósticos.

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