Enquanto a equipe de redação do Jornal Força do Vale concluía reportagem sobre o trânsito de Encantado, mais um acidente ocorria nas ruas centrais da cidade.
A reportagem desta edição traz à tona algumas irregularidades nas sinalizações de trânsito e os ajustes que estão sendo realizados e planejados para colocar os elementos dentro das normas-padrão do Código de Trânsito Brasileiro, o que permitirá maior trafegabilidade dos veículos e segurança dos pedestres.
Estão incluídas nesse rol de ajustes as rótulas, as faixas de pedestres, as faixas elevadas, as placas de sinalização e a sugestão de vias binárias.
Educação é tudo
Além das questões técnicas, o conteúdo também aborda a questão comportamental, tanto de motoristas quanto de pedestres, fator que vem ocasionando acidentes nos principais cruzamentos do município, como é o caso do ocorrido na tarde desta quinta-feira (12). Por volta das 15h, uma mulher foi atropelada enquanto caminhava na faixa de segurança na Rua Padre Anchieta, esquina com a Rua Júlio de Castilhos. Ela foi atendida pelo Corpo de Bombeiros e levada ao Hospital Beneficente Santa Terezinha.
Uma semana antes, dia 6, um casal foi atropelado enquanto atravessava a rua sobre a faixa de segurança, na Rua Júlio de Castilhos, esquina com a Rua Tiradentes.
São mais de 23 mil habitantes na Terra do Cristo Protetor, e 17 mil veículos. Apesar de as ruas chamarem atenção por sua largura, ainda assim o trânsito de Encantado sofre as consequências da falta de um projeto preventivo, que anteveja o crescimento da frota e as novas necessidades de fluxo, haja vista, inclusive, o aumento do tráfego especialmente nos finais de semana por conta dos ônibus que trazem turistas para ver de perto o monumento do maior Cristo do mundo.
Há um estudo, entretanto, elaborado há cerca de dez anos pelo Engenheiro de Tráfego, Rui Voldinei Pires. Porém, segundo ele, apenas algumas partes do referido estudo foram executadas, como a mão única na Rua Monsenhor Scalabrini e a mão inglesa na Rua Érgile Fidelis Sana.
Em sua análise sobre o trânsito de Encantado, o engenheiro que presta consultoria para a administração municipal destaca que o estudo produzido há cerca de uma década está sendo readequado. “Estamos avaliando o que está errado, ou seja, sem concordância da lei, e incluindo novas ações, como redutores de velocidade, faixas de pedestre, placa de sinalização e ajustes nas rótulas”, explica.
Conforme o engenheiro, as rótulas são um dos problemas a serem ajustados, pois da maneira como estão construídas, representam obstáculos na via, em vez de fazer fluir o trânsito. “Das 10 existentes, apenas uma está completa – a que está localizada na Avenida Padre Anchieta esquina com a Rua São Paulo, onde estão localizados a mecânica Dresch e o Centro Comercial Machado; as demais estão para serem licitadas”, cita. Segundo Rui, falta sinalização, canalização e para cada rótula, são necessários cerca de 100 tachões. “Cada tachão custa entre R$ 40 e R $50 e isso eleva o custo do investimento na rótula”.
Na revisão do estudo do trânsito local, o engenheiro também considera refazer todas as faixas de segurança, pois estão fora do padrão de pintura e de distanciamento da esquina. Uma já foi realizada e é alvo de reclamações, como é o caso da faixa na Rua Eduardo Satler esquina com a Churrascaria Lorenzon. “Estão reclamando porque tira vaga de estacionamento, mas se é para fazer, tem que ser dentro das normas”, explica.
Da mesma forma que as faixas de segurança têm padrão a ser seguido, as faixas elevadas e os quebra-molas também têm. “Poucos têm a distância de 15 metros exigida por lei, a partir do início da rua, sem contar a extensão da base”, completa.
Conforme Rui, o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) tem 970 resoluções que apontam alterações, ajustes e adequações, e nem sempre o leigo tem todo esse montante de informações. “É natural que muitos desconheçam o que é permitido e o que é proibido no trânsito de uma cidade”, explica.
Prova disso, é a capacitação realizada para os servidores da Secretaria Municipal de Obras, responsáveis pela pintura das sinalizações de trânsito. “Treinamos esses funcionários para atualizá-los quanto às alterações e novas formas de pintar corretamente e dentro do padrão do CTB; melhoramos muita coisa já, como a sinalização e pintura do viaduto do bairro Santo Antão.”
Sistema binário nas ruas centrais
“Implantar o sistema binário pode melhorar muito o trânsito da cidade.” A afirmação do engenheiro de tráfego é taxativa quando se trata de alternativas para fluir a circulação de veículos nas ruas centrais da cidade, diminuindo a incidência de acidentes especialmente nos cruzamentos. Em sua visão, da maneira como estão formatadas as ruas do centro – cada uma com via dupla, os cruzamentos ficam com 32 pontos de conflito. “Sendo de mão única, são apenas seis pontos de conflito e menor probabilidade de acidentes”, explica.
Em seu projeto, estão previstas 10 vias binárias, ou seja, 10 duplas de ruas paralelas, em que cada uma tem um sentido único, de ida e de volta.
O sentido único em toda a extensão da Rua Tiradentes também está previsto, partindo do Posto Ipiranga até o fim, no acesso à Praia do Picão.
Entre as melhorias a serem realizadas, estão ajustes na Rua Severino Augusto Pretto, onde será construída uma faixa elevada e retirados os atuais tachões, e a Rua Veneza, localizada ao lado do cemitério, que será asfaltada e receberá placas proibindo o acesso de ônibus e caminhões.
Pilares
Conforme o servidor municipal responsável pelo Departamento de Trânsito de Encantado, Rodrigo Fleck, as melhorias no tráfego da cidade deverão estar ajustadas aos três pilares apontados no CTB, que são: educação para o trânsito, fiscalização e engenharia de tráfego.
“Quanto à educação, estamos estruturando projeto, a ser avaliado em conjunto com a secretaria de Educação, para que o tema seja trabalhado com mais ênfase nas escolas municipais; quanto à questão da fiscalização, ter agentes nas ruas para esta finalidade seria o ideal, e é projeto de estudo e avaliação entre os gestores; e quanto à engenharia de tráfego, é o eixo do tripé que está sendo fortemente trabalhado no momento”, destaca.
Além das questões que envolvem a logística e a sinalização, Fleck e Pires destacam o viés de comportamento de motoristas, ciclistas e pedestres. “O modo equivocado como muitos motoristos estacionam, fazendo um veículo ocupar duas vagas, estacionando de modo atravessado nas vagas oblíquas, ou em cima das faixas de segurança, como temos visto com frequência, tudo isso está relacionado com o comportamento das pessoas, e muitas vezes não é por não saber que está errado, é por falta de bom senso”, completa Fleck. Segundo ele, a alternativa é o projeto de educação nas escolas. “A abordagem com as crianças tende a surtir efeito positivo e mais eficaz num futuro próximo, pois em breve elas também serão motoristas.
A foto abaixo lado ilustra uma cena que está sendo vista com frequência em diversas ruas da cidade.
Essas práticas estão relacionadas a comportamento e dizem respeito à educação para o trânsito, que é uma das metas do diretor de trânsito. Para coibi-las, entraria em cena o segundo pilar – fiscalização.