#PaginaTrês | Menos de 3% participam da Consulta Popular 2025

Neste ano, apenas 2,92% do eleitorado do Vale do Taquari — 8.015 eleitores — participaram da votação da Consulta Popular que aprovou dois projetos.
Qualifica Turismo – Aperfeiçoando do Rural ao Urbano no Vale do Taquari
O projeto “Qualifica Turismo – Aperfeiçoando do Rural ao Urbano no Vale do Taquari” obteve 3.988 votos. O recurso destinado será de R$ 1.131.428,57 e deve ser implementado via Consisa. Para receber os valores, os municípios precisavam atingir no mínimo 1% de participação do eleitorado, e assim, 27 dos 36 municípios da região serão contemplados. A proposta foi a mais votada e é capitaneada pela Associação dos Municípios de Turismo do Vale do Taquari (Amturvales).
Armazenamento de Grãos nas Propriedades Rurais
Em segundo lugar ficou o projeto “Armazenamento de grãos nas propriedades rurais: materiais para construção e equipamentos”, que recebeu 1.704 votos.
A proposta do Qualifica Turismo tem como objetivo qualificar o turismo em toda a região, promovendo integração entre municípios, capacitação de profissionais e fortalecimento das rotas rurais e dos atrativos urbanos. O foco é elevar o padrão de atendimento, estimular o empreendedorismo e consolidar o Vale do Taquari como um destino de referência no Rio Grande do Sul. O projeto prevê ações práticas que envolvem capacitação, estruturação de roteiros, sinalização turística, apoio à comercialização e fortalecimento da imagem regional, com base na identidade cultural e na sustentabilidade.
Municípios gaúchos podem perder até R$ 757,5 milhões com ampliação da isenção do IR
Famurs defende necessidade de mecanismos claros de compensação para evitar comprometimento de receitas municipais
Ciente da relevância social da ampliação da isenção do Imposto de Renda (IR) para os brasileiros que recebem até R$ 5 mil mensais, a Famurs manifesta, por outro lado, preocupação em relação ao impacto da proposta sobre as finanças públicas municipais. O projeto foi aprovado pela Câmara dos Deputados no último dia 10 e está em análise no Senado.
Conforme levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM), elaborado a partir de dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), as prefeituras gaúchas podem perder até R$ 757,5 milhões apenas em 2026 com a correção da tabela do IR. A redução de receitas seria motivada pela diminuição das parcelas do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e pelo recuo da arrecadação própria com servidores que deixariam de contribuir no novo cenário. Em todas as cidades do país, a perda é estimada em R$ 11,7 bilhões.
Soma-se a isso o fato de que 2026 marcará o início da fase de transição decisiva para o equilíbrio estrutural das finanças municipais, pois o ano será utilizado como base para o cálculo da média do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), previsto na Reforma Tributária em substituição ao ICMS e ISS.
“Entendemos a importância do debate e não contestamos o mérito da isenção de IR para quem recebe até R$ 5 mil e nem somos favoráveis a cobrar mais impostos da população, mas é imprescindível que o Congresso preveja mecanismos claros de compensação aos municípios. Da forma como a proposta passou pela Câmara, ainda vemos fragilidades e é grande o risco de que os municípios saiam ainda mais prejudicados no já combalido Pacto Federativo. Menos recurso na ponta significa cortes de serviços e atendimento à população prejudicada”, alerta a presidente da Famurs, Adriane Perin de Oliveira.
Embora as perdas do FPM possam ser parcialmente compensadas pela criação do Imposto de Renda mínimo e pela tributação de dividendos, a queda de arrecadação no recolhimento do imposto de renda do funcionalismo municipal é definitiva.
A conta, mais uma vez, sobra para os municípios
Aplausos à lei que ampliou o limite de isenção do Imposto de Renda. É uma medida justa, socialmente necessária e que alivia o bolso de milhões de brasileiros. Mas basta olhar um pouco além da manchete para entender onde a corda arrebenta. E, como sempre, ela estoura do lado mais fraco — o dos municípios.
Enquanto Brasília legisla, quem sente o impacto somos nós, que moramos nos municípios. Quando diminui o recurso que volta para o Município, naturalmente faltam recursos para fazer saúde, educação, obras. E aí nos faltam argumentos para cobrar do prefeito, do vereador — sim, destes podemos cobrar, pois os encontramos na rua, questionamos e responsabilizamos, mesmo que muitas vezes, injustamente. Afinal, são eles que seguram a ponta do serviço público, sem blindagem, sem castelo e sem os luxos de quem vive cercado por seguranças e narrativas “mequetrefes”.
O governo federal gasta. E como gasta. A União não produz riqueza — quem produz é o município, é o contribuinte local, o pequeno empresário, o agricultor, o trabalhador que paga imposto e ainda financia o sistema. Por que não reduzir o orçamento do STF, do STJ, do Congresso? Por que não cortar privilégios de quem vive longe da realidade do país real? Porque o sistema é forte. E os municípios, como sempre, são os otários da história — leia-se munícipes, leia-se produtores de renda, de serviços e de impostos. Sim, a lei é boa e justa. Mas a origem do dinheiro que a sustenta é cruel.
Entre o sonho e o excesso: o futuro da Medicina no Brasil
Formar-se médico continua sendo um dos maiores sonhos dos jovens brasileiros. Mas é também uma das jornadas mais longas, caras e desafiadoras do país — e, cada vez mais, um caminho que corre o risco de se banalizar diante da multiplicação desordenada de cursos. Ser médico exige preparo técnico, equilíbrio emocional e uma dedicação que atravessa anos de estudo. A formação completa pode levar de 8 a 12 anos, entre graduação, internato e residência, até que o profissional esteja pronto para exercer sua especialidade.
Mas a data que homenageia os profissionais da saúde, o Dia do Médico (18 de outubro), também convida à reflexão: o Brasil está formando bons médicos — ou apenas muitos?
Formação longa e cara
O curso de Medicina é o mais caro do país: as mensalidades variam entre R$ 8 mil e R$ 14 mil, podendo elevar o custo total da graduação a quase R$ 1 milhão. Mesmo nas universidades públicas, o investimento em materiais, moradia e transporte é alto. Por isso, programas como FIES e Prouni se tornaram fundamentais para que o sonho não fique restrito a poucos.
Nos últimos dez anos, o número de vagas em Medicina no Brasil cresceu 120%, chegando a 397 mil estudantes matriculados. O Rio Grande do Sul, por exemplo, conta hoje com 20 faculdades em 14 municípios. O problema é que quantidade não é sinônimo de qualidade. Há cursos sem estrutura hospitalar adequada, sem corpo docente experiente e sem integração com o sistema público de saúde. Formar médicos sem dar-lhes base técnica e ética sólida é tão grave quanto a falta de médicos em regiões carentes.
Não é saudável — nem para o país, nem para a sociedade — permitir que a Medicina se torne um negócio. Formar um médico exige responsabilidade. O excesso de cursos, muitos deles sem condições reais de oferecer prática e excelência, fragiliza a credibilidade da profissão e, no limite, coloca vidas em risco.
Empregabilidade e desigualdade
O Rio Grande do Sul tem hoje 37,3 mil médicos ativos, aumento de 51% desde 2011, segundo o CREMERS. A densidade de 3,42 médicos por mil habitantes supera a média nacional, mas a distribuição é desigual: Porto Alegre concentra a maior parte, enquanto o interior ainda sofre com a carência de profissionais.
O dado expõe outro dilema: não faltam médicos — faltam condições para que eles permaneçam onde são mais necessários. A Medicina é uma profissão em constante evolução. O conhecimento envelhece rápido, e a atualização permanente é obrigação ética. Congressos, residências, cursos de especialização e programas de educação médica continuada são o que diferenciam um bom profissional de um excelente.
Como resume o médico e educador Dr. Diego Fraga, “a ciência avança todos os dias — e o médico precisa acompanhar, sob pena de comprometer o diagnóstico e o tratamento”.
Reflexão necessária
A Medicina é vocação, mas também é ciência e compromisso. Não é um diploma de status, é um pacto com a vida. E, diante da enxurrada de novos cursos e vagas abertas sem o devido controle de qualidade, fica o alerta: um país que trata a formação médica como negócio corre o risco de colocar a saúde em segundo plano.