Câncer é a principal causa de morte em 670 cidades do Brasil e pode liderar o ranking nacional até 2029
Estudo do Observatório de Oncologia revela aumento de 30% em oito anos e alerta para virada epidemiológica que o país ainda não está preparado para enfrentar

Em 670 municípios brasileiros — cerca de 12% das cidades do país — o câncer já se tornou a principal causa de morte. O dado faz parte de estudo do Observatório de Oncologia que também aponta a possibilidade de que a doença ultrapasse as doenças cardiovasculares em todo o país até 2029.
A virada em curso
O levantamento, apresentado nesta quarta-feira (5) durante o Fórum Big Data em Oncologia, em São Paulo, mostra que o número de municípios onde o câncer lidera como causa de morte cresceu de 516 em 2015 para 670 em 2023 — um aumento de aproximadamente 30% em oito anos.
Além disso, o total de óbitos por tumores malignos saltou 120% desde 1998, enquanto as mortes por doenças do aparelho circulatório aumentaram 51% no mesmo período.
Segundo os pesquisadores, se as políticas públicas permanecerem no ritmo atual, o câncer pode se tornar a principal causa de morte no país até 2029.
Regiões mais afetadas
O Sul do Brasil concentra o maior número de municípios nessa situação: 310 cidades, quase metade do total, estão situadas nos três estados da região. No Rio Grande do Sul, são 168 municípios — ou 34% do total estadual — onde o câncer já representa a principal causa de óbito. Neste estado, 22% das mortes são provocadas por tumores, bem acima da média nacional, que é de 17%.
Os pesquisadores observam que esse cenário se explica por vários fatores, como maior expectativa de vida, rede de diagnóstico mais estruturada, predominância de população caucasiana e maior exposição a agrotóxicos ou indústria em algumas localidades.
O impacto no interior do país
Quase metade das cidades onde o câncer já lidera como causa de morte têm menos de 25 mil habitantes. Ao todo, essas 670 cidades reuniriam cerca de 9,2 milhões de brasileiros, muitos vivendo em regiões com infraestrutura limitada para atenção oncológica.
Segundo os especialistas, nessa realidade de interiorização do câncer, o diagnóstico tende a ocorrer em estágio avançado e o acesso a tratamento especializado — como radioterapia ou cirurgia oncológica — pode demandar deslocamentos longos, reduzindo significativamente as chances de cura.
Envelhecimento populacional e desigualdade regional
O estudo aponta que 77% das mortes por câncer ocorrem em pessoas com mais de 60 anos, e 56% envolvem homens. Os tipos mais letais continuam sendo os de pulmão, mama e próstata.
A desigualdade regional acentua o problema: enquanto em algumas regiões o sistema consegue diagnosticar e reportar melhor, em outras parte dos casos sequer chega ao tratamento adequado. “Se nada mudar, o país não estará preparado para essa virada epidemiológica”, alertam os autores.
Desafios para o sistema de saúde
Os especialistas destacam que tratar câncer demanda alto custo, equipes multidisciplinares e tecnologia. Sem investimento consistente em prevenção, rastreamento, diagnóstico precoce e logística regionalizada, o sistema poderá ficar sobrecarregado com a crescente demanda.
Como ressaltado no estudo: “Prevenir é mais eficaz — e mais barato — do que remediar.”






