#Alexandre Garcia | A força da eleição
Pelo resultado de domingo, percebe-se claramente que a direita e o centro-direita superam em muito os votos da esquerda e centro-esquerda. O ministro da articulação política, Alexandre Padilha, disse que o resultado nada tem a ver com a próxima eleição presidencial. Mas não tem como separar; tem a ver com a próxima e, principalmente, com a última.
O PL foi o partido mais votado na eleição municipal, com 15,7 milhões de votos; o PT teve pouco mais da metade disso: 8,9 milhões. Os partidos de esquerda fizeram 862 prefeituras; os de direita, 2.291. Se juntarmos todo o espectro de esquerda, somam 1.991 prefeitos; o espectro da direita elegeu 3.516 prefeitos. Se os municípios elegem quase o dobro de candidatos direitistas, a pergunta que brota naturalmente é: como um candidato de esquerda foi eleito presidente em 2022? Por que o outro perdeu?
Talvez haja alguma pista para essa resposta no segundo turno a seguir. Em Goiânia, Bolsonaro e Caiado vão se enfrentar, cada um com o candidato de seu partido, da mesma direita: o PL, com Fred Rodrigues, e o União Brasil, ex-PFL, ex-DEM, ex-PSL, com Sandro Mabel. Desgaste na direita. Em Curitiba, a jornalista Cristina Graeml, que, sem nada e boicotada na mídia e nas pesquisas, empatou com o neto de Paulo Pimentel e vai para o segundo turno. Eduardo Pimentel tem como vice o PL de Bolsonaro, enquanto Cristina e Bolsonaro se admiram reciprocamente. Disputa dentro da mesma ideologia.
Assim é o segundo turno em Belém, Belo Horizonte, Campo Grande, João Pessoa, Manaus, Palmas e Porto Velho – só para falar em capitais. “São os próprios contra os mesmos”, como dizia meu barbeiro Simonini. Façamos uma hipótese aritmética: a soma da direita é 3.516 prefeituras; dividida pelo meio, dá 1.758 – menor que as 1.991 da esquerda. É só um estudo para demonstrar que a superioridade de 2/3 sobre 1/3 se esvai quando ela se divide.
Imagine agora a financeira Avenida Faria Lima fazendo jantar para apoiar a candidatura de Lula em 2022 “pela democracia”. Não parece um masoquismo da direita e do centro, querendo sofrer com a esquerda? Agora, com os candidatos mais próximos do eleitorado, em eleição municipal, o voto mostra sua face majoritariamente conservadora e direitista, temente a Deus e à esquerda. O PT não elegeu nem um prefeito sequer em capitais na eleição anterior e não está com chances de eleger agora. Quatro capitais ficaram para o segundo turno, mas com pouca chance ou nenhuma, como em Porto Alegre, onde o atual prefeito fez 49,72% no primeiro turno. A esquerda só foi vitoriosa em Recife, com o PSB do prefeito João Campos.
Em São Paulo, Bolsonaro livrou-se de um dilema tipo “decifra-me ou devoro-te”. Imaginem se Marçal tivesse ido para o segundo turno com Nunes. Mas terá Goiânia, Curitiba e outros dilemas em disputas entre candidatos do mesmo padrão ideológico. Podem restar sequelas para 2026.
E não se pode esquecer da credibilidade na contagem, que só o comprovante do voto confere. Diante do quase empate entre os três de São Paulo e dos quase 50% de Porto Alegre, fica o convite para recontagem, mas é impossível. Não custa lembrar que a apuração é feita longe dos olhos e da compreensão do público, a despeito do que manda o artigo 37 da Constituição. Assim, é preciso resguardar, principalmente em período eleitoral, o direito pétreo de expressão do pensamento, onde se forma opinião e se decide voto. Eleições têm validade sendo livres, limpas e transparentes.