6×1
A deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP) está arrecadando assinaturas para protocolar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) com o objetivo de acabar com a jornada de trabalho 6×1, que consiste em seis dias de trabalho seguidos por um dia de folga. Segundo a deputada, a mudança visa proporcionar mais tempo de descanso ao trabalhador, promovendo sua saúde e bem-estar. A proposta original sugere uma jornada semanal de 36 horas, com quatro dias de trabalho e três de descanso, sem redução salarial.
HOJE
Atualmente, a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) estabelece uma jornada padrão de 44 horas semanais no Brasil, com um limite diário de 8 horas de trabalho, podendo ser acrescidas até 2 horas extras, desde que haja acordo. Essa carga horária é distribuída ao longo de seis dias. No modelo atual, o trabalhador tem direito a um dia de folga por semana, que geralmente coincide com o domingo. No entanto, em setores que funcionam 24 horas por dia, o descanso pode ocorrer em outro dia da semana, desde que respeitado o intervalo mínimo de 24 horas de descanso.
CELEUMA
É óbvio que o assunto vai gerar discussão, como já está ocorrendo. Isso é muito natural, pois há pontos distintos que precisam ser debatidos.
De um lado, o trabalhador se sente exausto com a atual jornada de trabalho. Por outro, reduzir a jornada implicaria em maiores despesas para o empregador. Como se sabe, no Brasil, o custo de um funcionário com carteira assinada é um dos maiores do mundo. Segundo pesquisa da Fundação Getúlio Vargas, esse custo pode chegar a 183% do salário bruto.
Apesar de o assunto dividir opiniões, vejo que está no lugar certo para o debate: a Câmara Federal.
TRABALHO
No filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin, lançado em 1936, o personagem “Carlitos” não consegue se adaptar ao ritmo imposto pelas novas indústrias, que exigiam longas horas de trabalho. O filme, que parece atemporal, retrata a disposição dos donos dos meios de produção em explorar os trabalhadores para obter lucros cada vez maiores.
Uma cena marcante mostra Carlitos, atrapalhado com seu trabalho, sendo “engolido” pela máquina e rodando com as engrenagens, simbolizando a desumanização do trabalhador, que é tratado como uma peça mecânica. Mais tarde, o personagem sofre uma crise nervosa e é demitido. Esse colapso emocional é hoje reconhecido como a “Síndrome de Burnout”, uma doença causada pelo excesso de trabalho, que tem se intensificado nos últimos anos. Em 2023, o INSS registrou 421 benefícios relacionados ao Burnout, o que representa um aumento de 1.000% em comparação com 2014.
COMIDA
Os Titãs também abordaram o tema do desgaste e da insatisfação com a rotina de trabalho na música “Comida”, lançada em 1987. A canção expõe de forma contundente a contradição entre as necessidades básicas e os desejos humanos. Na letra, é claro o contraste entre o que está sendo oferecido e o que as pessoas realmente buscam: “A gente quer comida, diversão e arte”. A insatisfação com a falta de tempo e recursos para a diversão é exposta de forma ainda mais intensa em outro trecho: “A gente não quer só comer, a gente quer prazer pra aliviar a dor”. A música expressa o desejo de encontrar equilíbrio e qualidade de vida, além do simples cumprimento das obrigações, o que ressoa com as questões atuais sobre a carga de trabalho e o bem-estar.
BOLSA FAMÍLIA
O vereador Cris Costa usou a tribuna da Câmara de Vereadores de Encantado para compartilhar uma preocupação levantada por um empresário local, que relatou a falta de mão de obra disponível para atender as demandas do mercado. O vereador informou que o SINE possui 250 vagas de emprego abertas na cidade, mas, em sua análise, a falta de interesse da população em ocupar esses postos seria atribuída aos programas de transferência de renda, como o Bolsa Família. Ele sugeriu que seria necessário pressionar os deputados para repensar essa abordagem. A fala do vereador gerou repercussão e resultou em uma matéria no Jornal Força do Vale, refletindo o debate sobre o impacto desses programas sociais no mercado de trabalho local.
DELICADO
Sempre que os benefícios sociais são debatidos, geram discussões, pois cada um tem sua visão de sociedade. Apesar de ser o maior programa de transferência de renda do Brasil e ter tirado milhões de famílias da fome, alguns maus exemplos entre os beneficiados acabam prevalecendo, como foi o caso das apostas em jogos on-line usando o cartão do Bolsa Família. Outra grita é de que, ao receberem esse benefício, não buscam o trabalho.
Ocorre que a principal regra para ter direito ao Bolsa Família é a renda de cada pessoa da família, que não pode ultrapassar os R$ 218,00 por mês. Por exemplo, se em uma família de sete pessoas um só integrante trabalha e recebe um salário mínimo de R$ 1.412,00, terá direito ao benefício, pois essa renda de cada componente da família será de R$ 201,71, ou seja, abaixo do indicado. Caso mais um componente familiar trabalhe e receba mais um salário mínimo, já ultrapassa o limite.
Por outro lado, 76% dos empregos gerados no primeiro semestre de 2024 foram ocupados por pessoas inscritas no CadÚnico, público prioritário das políticas sociais.
CÂMARA
O vereador Valdecir Gonzatti falou na sessão desta semana da Câmara de Vereadores de Encantado que um cidadão do município reclamou do atendimento no plantão no pronto socorro do Hospital Santa Terezinha. Trouxe o tema sem o aprofundamento que o caso exigia e merecia, o que acaba complicando e gerando mais dúvidas.
Ocorre que um rapaz, diga-se de passagem, no seu direito, não se sentiu atendido como esperava no plantão deste final de semana e relatou sua indignação nas redes sociais. Afirmou que chegou ao plantão por volta das 6 horas da manhã e demorou a ser atendido pelo médico plantonista. Quando então foi atendido, teria solicitado um exame de imagem, e o médico afirmou que “a conduta do plantão não é fazer exame para investigar doenças, sabendo que eu já estou no tratamento oncológico”. Depois disso, o rapaz preferiu não fazer o medicamento para dor e foi para a sua casa.
LOCAL
Tenho abordado reiteradas vezes que a tribuna não é o local mais apropriado para debater assuntos relacionados à saúde. Não quer dizer que vereador não deva fiscalizar ou mesmo denunciar, ele tem esse direito e dever. O que defendo, é que assuntos delicados como este, da saúde, sejam mais bem trabalhados para que haja melhorias em todo o sistema. Isso será ganho coletivo.
MÉDICO
Opinar diante de uma situação como foi apresentado é bem difícil. Por um lado tem um cidadão que já está numa situação fragilizada por ter um diagnóstico oncológico e apresentando dor intensa. No outro lado um médico plantonista de um pronto socorro que se vale da sua análise clínica, garantido pelo Ato Médico, para administrar um medicamento dispensando um pedido de exame de imagem.
Notem que existem aí duas razões e ao meu ver, faltou tato, sensibilidade, humanidade e sobrou a soberba do conhecimento, muito comum aqueles, onde a educação não foi libertadora.
Quem procura um pronto socorro não quer saber da opinião do médico sobre o funcionamento burocrático de pronto atendimento, se ele concorda ou não com os protocolos determinados pela direção do hospital. Ele quer que o seu problema seja resolvido e sua dor diagnosticada e tratada.
Caso esse profissional tenha desenvolvido uma tese para melhorar o sistema de atendimento nos pronto-socorros do mundo, o último lugar que deve ser usado para defesa será o ouvido de uma pessoa com dor.
Frase
“Todo mundo é capaz de dominar uma dor exceto quem a sente”– William Shakespeare