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Empresários, trabalhadores e governos juntos na luta para reabrir as empresas atingidas pela catástrofe que atingiu o Vale do Taquari

Vista aérea do Parque Industrial da Fontana S/A na manhã de terça-feira (5). Tanques foram arrastados e novas instalações, projetadas para não serem acomentidas pela água, também foram atingidos.

Com as águas do Rio Taquari arrasando grandes áreas na região, a preocupação dos governos locais e empregadores com a manutenção dos postos de trabalho tornou-se uma realidade iminente. Um levantamento realizado pela Administração Municipal de Encantado em parceria com a Associação Comercial e Industrial de Encantado (ACI-E), estimou junto ao empresariado prejuízos de R$ 900 milhões.
Há empresas que já admitem a possibilidade de encerrar suas atividades devido aos danos sofridos. Dos aproximadamente 8 mil empregos formais do Município, 50% foram afetados direta ou indiretamente em mais de 1.400 empresas. Elas são responsáveis por 54% do total do Valor Adicionado local.
A recuperação demandará mais do que medidas emergenciais: será necessária uma estratégia coesa entre setor público, privado e a sociedade civil. O desafio é grande, mas a capacidade de resiliência e ação conjunta do povo gaúcho será determinante para reverter este cenário.
São milhares de pessoas que dependem do emprego e as empresas precisam que o governo disponibilize linhas de crédito e isenção de impostos para retomar as atividades. Prorrogar as dívidas, segundo os empresários, não será suficiente para garantir a retomada e A recuperação das empresas.
A reportagem do Força do Vale acompanhou o secretário de desenvolvimento do estado, Ernani Polo, no domingo pela manhã, na visita a duas das maiores indústrias de Encantado, duramente afetadas pela catástrofe do dia 4. Além delas, outras tantas acumulam prejuízos incalculáveis.

“O nosso ganha pão vem desta empresa”

Conforme o diretor Maurício Fontana ainda não há como avaliar os prejuízos. “Não temos noção do tamanho do estrago, estamos na fase da limpeza, levantando as condições dos prédios, equipamentos, pois fomos atingidos de forma catastrófica. Estamos neste local desde 1982 e nunca tivemos nada semelhante a esta ocorrência, nem nas cheias de 2020. Toda a fábrica foi atingida, incluindo setores que nunca haviam sido, como laboratórios e caldeiras, agora totalmente devastados”.
A Fontana, que completa 89 anos em outubro, tem no seu quadro 270 ‘CPFs’ que também estão preocupados. Vanderlei Zandonoto, trabalha há 27 anos na empresa e foi taxativo: “É o nosso ganha pão, estamos vendo que se perdeu praticamente tudo, espero que a empresa consiga se reerguer. Dependemos deste trabalho”.
A Fontana fez questão de agradecer o empenho de cada um dos colaboradores, fornecedores e clientes que estão juntos neste momento difícil. “Isso nos encoraja e nos dá a determinação necessária para fazer no mais curto espaço de tempo a retomada desta empresa. Com certeza, vamos contar com o apoio de todos os Órgãos Públicos, Governos Municipal, Estadual e Federal, pois esta será uma região sobrevivente da catástrofe. Lamentamos profundamente as mortes, e temos funcionários de Roca Sales, Muçum e Encantado que perderam seu patrimônio. Estamos perplexos por tudo o que aconteceu, mas também confiantes com o apoio que vimos recebendo e a certeza de que vamos fazer ressurgir esta região.”

O secreário de desenvolvimento do Estado, Ernani Polo, esteve em Encantado, acompanhado do vice-presidente da Federasul, Angelo Fontana e visitou o frigorífico da Dália, onde foi recebido pelo vice-presidente executivo Igor Weingartner e pelo supervisor Beto Crippa. Na Fontana, o secretário conversou com funcionários e a direção da empresa. Garantiu que medidas estão sendo tomadas para amenizar e viablizar a retomada das empresas.

Reflexos da tragédia

“O maior problema que o ciclone extratropical causou à Dália foi no frigorífico de suínos, porque foram atingidos o sistema de geração de energia, de geração de frio, os bancos capacitores e os painéis elétricos e eletrônicos” destaca o presidente executivo da Dália Alimentos Carlos Alberto de Figueiredo Freitas.
Conforme o executivo são condições essenciais para o funcionamento do frigorífico e, por isso, “o retorno às atividades somente ocorrerá quando concluído o conserto. Enquanto isso, os suínos dos associados estão sendo comercializados com outras indústrias do segmento. No Complexo Lácteo e no Frigorífico de Frangos, os problemas se resumiram à falta de energia elétrica e aos reparos de motores e equipamentos danificados pela invasão das águas. Sabemos que estamos vivendo um período difícil, com muitas incertezas, porém, com uma convicção: precisamos buscar alternativas que nos permitam a reestruturação, pois temos consciência, como empresa socialmente responsável, que a nós cabe continuar gerando renda e emprego para possibilitar que a região volte à normalidade, mesmo que distinta da que vivíamos antes da catástrofe”

Desastre natural

“Nossa cidade e região foi atingida pelo maior desastre natural já ocorrido no RS, quando a água chegou a locais nunca atingidos, causando perdas humanas e destruição. Por isso, a primeira ação foi oferecer apoio e conforto às famílias que perderam entes e, em seguida, às que perderam suas casas e pertences” declarou o presidente do conselho da Dália Alimentos, Gilberto Piccinini.
“Mais do que nunca, precisamos reconhecer a solidariedade obtida na última semana, vinda dos mais distantes municípios do estado, como também da comunidade local e regional, com menagens de apoio, carinho e motivação, além de doações diversas e trabalho voluntário. Para os funcionários da Dália Alimentos atingidos, estamos nos organizando internamente para buscar os itens necessários às suas perdas patrimoniais e itens fundamentais ao recomeço.
Esta será uma tarefa árdua, mas da qual não nos permitimos isentar, porque são nosso maior patrimônio, junto com os associados. A estes, especialmente os que foram atingidos, não vamos medir esforços para enfrentar toda a gama de dificuldade que se apresentar, para retomar as atividades de nossas indústrias, especialmente do frigorífico de suínos, o mais afetado, e trazer a vida ao normal.
Nenhum de nós está sozinho nesta jornada, que sabemos, será espinhosa. Mas também estamos cientes de que juntos, poderemos obter desta tragédia algumas lições que nos serão úteis no futuro. O tempo será nosso aliado nesse caminho”.

Panorama

A maioria das empresas atingidas são de pequeno porte, com destaque para os Microempreendedores Individuais (MEIs), com até dois empregados, e as Microempresas, com até 9, que juntas somam mais de mil estabelecimentos. Nesta faixa, os prejuízos variam R$ 10 mil a R$ 130 mil.
Em valor total, o prejuízo é maior nas indústrias de médio porte, que possuem entre 100 e 499 funcionários. Foram 16 acometidas pela água, totalizando um prejuízo de R$ 240 milhões.
O cenário preocupa também as grandes empresas. Duas das principais indústrias da região, que juntas empregam mais de 2 mil funcionários, estimam um prejuízo total de R$ 160 milhões.

Demandas

Dentre as demandas mais comuns entre as empresas afetadas, estão a necessidade de capital de giro, reposição de estoque e matéria-prima, conserto e aquisição de máquinas, além de melhorias e construção de prédios.

Retomada

Ao Força do Vale, o Prefeito Jonas Calvi expressou sua preocupação com a situação e reforçou o compromisso da Administração em auxiliar as empresas e, consequentemente, os trabalhadores afetados. “Estamos trabalhando para minimizar os impactos dessa tragédia e garantir a retomada econômica de Encantado”, afirmou.

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