“Encantado tem vagas abertas, mas falta de qualificação e trabalho informal dificultam ocupação de postos formais”
Encantado tem vivenciado um crescimento econômico acelerado, gerando uma grande demanda por trabalhadores. No entanto, o coordenador do Sine/Fgtas, Franklin Klunck Lisboa, destaca as dificuldades de encontrar candidatos adequados para as vagas, em um cenário que, segundo ele, envolve um conjunto de fatores.
Lisboa explica que a cidade, embora esteja expandindo, tem um crescimento populacional inferior ao ritmo das oportunidades de trabalho, o que leva a uma “baixa mão de obra”. “Encantado atrai trabalhadores de cidades próximas, como Roca Sales, Muçum, Vespasiano Corrêa e Nova Bréscia. Mesmo assim, ainda falta pessoal para algumas áreas específicas”, observa.
Um dos maiores desafios, segundo o coordenador, é a alta rotatividade dos trabalhadores nas empresas da região. Esse fenômeno gera insegurança entre os empregadores, pois os custos de contratação e demissão são altos. Além disso, ele menciona que muitos trabalhadores demonstram resistência em investir na própria qualificação. “É comum ver candidatos que resistem em se especializar ou estudar, o que limita as oportunidades de crescimento e reduz a competitividade deles no mercado”, comenta.
Outro fator significativo é a dificuldade de encontrar candidatos dispostos a trabalhar em horários fora do comercial, como fins de semana, turnos noturnos e madrugada. “As pessoas preferem fazer um horário comercial ou até optam por trabalhos informais extras após o expediente”.
Oferta diversificada e baixa média salarial
O mercado de trabalho de Encantado tem vagas para diversos perfis, de jovens a aposentados, e para candidatos com diferentes graus de habilidade e experiência. As oportunidades mais frequentes são para auxiliar de linha de produção, vendedores de loja, padeiros e auxiliares. “Existem ainda vagas para pedreiros, mecânicos e trabalhos em áreas manuais e de vendas, que têm grande demanda”.
Apesar da abundância de vagas, o salário médio em Encantado tende a ser inferior ao de cidades maiores da região. Contudo, Lisboa aponta que o salário é uma questão de perspectiva. “Para quem tem um padrão de consumo alto, todo salário será pouco”, avalia, destacando que a média salarial é ajustada ao custo de vida local.
Iniciativas para capacitação e inserção no mercado
Para enfrentar os desafios, a prefeitura de Encantado tem investido em diversas ações de capacitação, incluindo cursos gratuitos voltados a jovens e adultos. “Este ano, tínhamos uma meta de instruir 67 jovens entre 14 e 18 anos, mas conseguimos instruir 690”, comemora Lisboa, destacando o empenho do município em qualificar os futuros profissionais.
Além disso, Encantado conta com uma plataforma digital onde candidatos podem criar currículos e se inscrever gratuitamente em vagas. O Sine também realiza feirões de empregos — foram quatro eventos em 2024, com cerca de 250 vagas disponíveis em cada.
Impacto do Bolsa Família e trabalho informal na adesão ao emprego
Lisboa destaca que o Bolsa Família, embora essencial para muitas famílias, pode afetar a procura por empregos formais na cidade. “Como a família perde o benefício ao ultrapassar certo limite de renda, é comum que apenas um membro trabalhe de carteira assinada, enquanto outros optam pelo trabalho informal. Isso impacta o preenchimento das vagas”, explica o coordenador.
Para ele, é essencial conscientizar a população de que a saída do programa indica um aumento no nível de vida da família. “O aumento da renda formal melhora a qualidade de vida dos filhos e da família em geral”, comenta Lisboa, lembrando que a estabilidade proporcionada por um emprego formal oferece mais segurança a longo prazo. Em Encantado 674 famílias recebem o Bolsa Família.
Aumento do Bolsa Família desestimula busca por emprego, aponta estudo da FGV
A ampliação dos benefícios do Bolsa Família nos últimos anos tem reduzido a procura por emprego, especialmente entre mulheres, jovens e trabalhadores de baixa qualificação, revela um estudo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
O estudo, conduzido pelo economista Daniel Duque, analisou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), do IBGE, nos anos de 2019, 2022 e 2023. Antes da pandemia, os repasses do programa social não afetavam a participação dos beneficiários no mercado de trabalho. No entanto, com o aumento do valor dos benefícios — que triplicou em comparação ao período pré-pandemia —, houve uma queda considerável na participação de beneficiários no mercado formal. Esse efeito permanece em 2024, segundo os dados mais recentes.
Até o início de 2020, o Bolsa Família pagava, em média, R$ 200 por família. Durante a pandemia, o auxílio emergencial elevou o benefício para R$ 600, e, em 2021, o programa foi reformulado como Auxílio Brasil, com valores que chegaram a R$ 600. Em 2023, o programa retomou o nome original e o benefício médio subiu para R$ 700, ampliando o apoio, mas também o desestímulo ao emprego formal.
Os resultados indicam a necessidade de políticas que equilibrem o valor dos benefícios com incentivos que promovam a reinserção dos beneficiários no mercado de trabalho, de modo a evitar a dependência de auxílios sociais.