Diretor é afastado de escola por comentar artigo de J.R. Guzzo em rádio no RS
Flávio Luíz Gabardo, diretor de uma escola da cidade de Jacutinga (RS), foi afastado de suas funções por ter lido um trecho de um artigo sobre o resultado das eleições em uma rádio local. O Partido dos Trabalhadores (PT) denunciou o professor alegando que ele teria expressado argumentos racistas ao trazer para os ouvintes a ideia do jornalista J.R. Guzzo de que as regiões Norte e Nordeste, com a maior quantidade de votos em Lula, estariam do “lado do atraso”. Ele está fora do cargo desde 4 de janeiro deste ano.
Em uma das participações em um programa de rádio local, ele leu uma parte de um texto de Guzzo, publicado pela Revista Oeste, intitulado “À Sombra da Corrupção sem Limites”, que analisa o resultado do primeiro turno das eleições realizadas em 2022. Um dos trechos lidos na emissora foi a parte em que Guzzo explica que Lula venceu com votos de eleitores das regiões Norte e Nordeste, que seria o “Brasil da senzala”. O articulista recorda também que o ex-presidente Jair Bolsonaro atraiu mais eleitores no Sul e Sudeste.
“O Brasil do progresso, entre Mato Grosso e Rio Grande do Sul, incluindo São Paulo e Rio de Janeiro, preferiu Bolsonaro. O Brasil da senzala, entre a Bahia e o Maranhão, ficou com Lula. Minas se dividiu e o Norte não tem votos suficientes para fazer diferença. Mas o fato é que a maioria está do lado do atraso”, escreveu Guzzo.
Depois disso, o Partido dos Trabalhadores (PT) local denunciou o professor à Secretaria da Educação do Rio Grande do Sul alegando que ele estaria veiculando ideias racistas ao ler o artigo. O órgão acatou a opinião do PT e afastou o diretor. Gabardo é diretor da Escola Estadual de Educação Básica Érico Veríssimo há 20 anos.
“Fazia dois comentários semanais numa rádio local. Nunca estive na rádio presencialmente, gravava os comentários pelo celular e os enviava pelo WhatsApp. Isso tudo fora do horário de trabalho na escola, visto que minha carga horária é de 40 horas semanais. E a escola funciona 60 horas por semana. Infelizmente, o PT selecionou parte do artigo de J.R. Guzzo que li em meu comentário e me denunciou à Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul. Acusaram-se de cometer crime racial. Instaurou-se uma sindicância contra mim. Estou afastado das funções de diretor. Ainda me proibiram de entrar na escola. Tenho um filho que estuda lá, e não posso entrar na escola para conversar com ele. Fui removido de todos os grupos de WhatsApp. Como diretor, fazia parte de todos os grupos das turmas da escola. Conversava com os pais, com os alunos. Infelizmente, nunca pensei que essa liberdade que tinha como professor fosse tolhida desta forma. Hoje, estou sendo acusado de um crime que não cometi. Apenas li parte de um artigo”, disse Gabardo à Revista Oeste.
“Por trás disso há um viés político, porque eu sou de direita (…). Eu não falei sobre esse artigo em sala de aula, eu falei em uma rádio. Eu não recebia salário, eu fui convidado. Se eu cometi crime lendo o artigo, então todo mundo que leu o artigo cometeu crime. Querem me prejudicar”, airmou.
O filho do professor e pessoas da cidade organizaram um abaixo-assinado contra a denúncia por racismo, na semana passada. A moção de apoio ao diretor da escola teve mais de 1.400 assinaturas, sendo que a cidade de Jacutinga (RS) tem 3.600 habitantes. Ele relatou que esse abaixo-assinado será entregue com outros documentos em sua defesa. “Isso foi em um sábado e domingo. Se esperássemos 15 dias, ia ter mais de 2 mil pessoas, metade da população da cidade. Fomos na praça central do município e muitas pessoas queriam assinar”, disse o filho do professor, Lucas Gabardo.
A Secretaria de Educação do Rio Grande do Sul não quis comentar a denúncia e somente informou que existe um Processo Administrativo Disciplinar (PAD) que tramita junto à Procuradoria-Geral do Estado (PGE). “O professor foi afastado de suas atividades até que ocorra a devida apuração dos fatos”, informou em nota.
Leia o trecho do artigo que culminou no afastamento de Gabardo
Lula tem a seu favor a escrita das eleições anteriores — desde que o Brasil voltou a ter eleições diretas para presidente, nunca o candidato que teve maioria no primeiro turno deixou de levar também no segundo. Pode contar ainda com o resultado de Minas Gerais; quem ganha em Minas, diz o retrospecto, ganha no Brasil. Não é garantido: escrita só vale até ser quebrada, como invencibilidade de time de futebol. Além disso, também Bolsonaro pode esperar pelo passado, já que nunca um presidente no exercício do cargo deixou de ser reeleito. Mas o fato é que a maioria, tal como foi registrada pelo sistema de apuração do ‘tribunal’ eleitoral, tomou a sua decisão. É perda de tempo julgar a qualidade desta decisão; o resultado é o resultado. O Brasil do progresso, entre Mato Grosso e Rio Grande do Sul, incluindo São Paulo e Rio de Janeiro, preferiu Bolsonaro. O Brasil da senzala, entre a Bahia e o Maranhão, ficou com Lula. Minas se dividiu e o Norte não tem votos suficientes para fazer diferença. Mas o fato é que a maioria está do lado do atraso. Ela achou que é uma boa ideia colocar de novo na Presidência da República um cidadão que foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pela justiça do seu país. Fazer o quê?