A mulher tem conquistado cada vez mais espaço no cenário empresarial brasileiro, sendo responsável por diversas iniciativas inovadoras e bem-sucedidas em diferentes áreas de atuação. A presença feminina no mundo do empreendedorismo é fundamental para a construção de uma sociedade mais igualitária e diversa, trazendo novas ideias, perspectivas e soluções para os desafios do mercado.
No movimento lojista percebemos a maior presença em cargos de liderança, a atuação marcante na criação de empresas e startups, a participação em programas de aceleração e incubação de negócios. Isso não acontece por acaso. A mulher tem uma visão multifocal e multidisciplinar, uma característica feminina que traz riqueza para o mercado empreendedor. Sem falar que as mulheres na liderança não criam ações só para si ou só para o seu negócio ou segmento, elas desenvolvem iniciativas para a rede toda, com facilidade de planejar, mapear os riscos e estabelecer parcerias, e com isso, os resultados são multiplicados.
A Federação Varejista do RS, criou em 2022 uma diretoria nova especialmente para dar o suporte e a visibilidade ao empreendedorismo feminino no nosso estado, na qual das 82 CDLs, 34 são lideradas por mulheres. No Brasil, segundo o Sebrae, as mulheres são responsáveis por mais de 30% dos negócios formais e informais.
A presença da mulher no mundo empresarial é fundamental para a construção de um mercado mais diverso, inovador e igualitário. A valorização das mulheres empreendedoras é uma conquista importante para a sociedade como um todo e deve ser celebrada e incentivada.
Neste especial, estamos abordando a presença majoritária delas nos escritórios de contabilidade de Encantado. Elas até podem ser lideradas por homens, mas, pelo que se constata, elas ganharam a confiança e o respeito e dominam o setor.
Ser independente e prover meu próprio sustento era o meu desejo
Venho de uma família onde as mulheres predominam (somos 3 mulheres) e meu pai foi um homem feliz e realizado, pois amado por quatro mulheres fortes (ou nem tanto) e diferentes entre si.
Por isso, guardo em minha memória lembranças da infância que certamente contribuíram para me tornar quem sou. Minha mãe era uma mulher a frente de seu tempo e sempre digo que deveria viver agora. Meu pai era um homem tranquilo, para quem a família sempre foi importante e sabia como poucos transmitir amor. Era um homem incrível.
Cresci em meio a um grande desafio, onde o casamento não era a coisa mais importante para uma mulher. Sempre fomos incentivadas a nos tornar independentes, por meio do estudo e da qualificação profissional. E seguimos à risca a orientação de meus pais, que, em palavras simples diziam: tornem-se independentes, sonhem e cresçam realizando sonhos.
Os anos passaram e encontrei o primeiro desafio: estudar e trabalhar para pagar a faculdade, sem jamais reclamar ou posar de vítima. Sempre, lá no horizonte estava meu desejo: ser independente e prover meu próprio sustento.
E veio o trabalho, a formatura, o casamento, o nascimento dos filhos, o divórcio, a faculdade dos filhos, três mudanças e hoje, presenteada com duas netas, meninas fantásticas, posso dizer que realizei mais sonhos do que acumulei decepções durante a vida. Sou apaixonada pela minha família, pelo meu trabalho, tenho poucos amigos, mas todos de longa data.
Em minha carreira profissional, o maior desafio foi a saída da zona de conforto para atuar em processos e funções até então desconhecidos, mas que foram fundamentais para descobrir capacidades que desconhecia. Em minha vida pessoal, o maior desafio foi o retorno às minhas origens, quando decidi retornar ao lugar onde passei a maior parte da minha infância.
Então, acredito que toda trajetória sempre contempla contratempos, perrengues, aflições, angústias, mas é preciso considerá-las positivas porque permitem que crescimento e aprimoramento, seja na condição humanitária ou profissional.
Talvez o segredo seja “não tenho e faço tudo o que gosto, mas gosto de tudo que tenho e faço.”
Em mais de 50 anos, apenas um homem foi contratado
Ao longo de mais de 50 anos, centenas de mulheres deixaram sua marca e sua contribuição profissional registradas na história e no acervo da Orgatec Contabilidade. Em todos esses anos, todas as mesas de trabalho são ocupadas por mulheres, à exceção dos diretores, André Bergamaschi, Gilberto Bresolin e o seu fundador, Décio Bergamaschi, cuja memória permanece viva nessa empresa que é uma das pioneiras no ramo de contabilidade de Encantado e região.
Em média, cerca de 40 mulheres compõem a equipe de trabalho da Orgatec (Organização Técnica e Contábil). À medida que uma sai, outra entra, e assim tem sido ao longo dos anos. Em mais de cinco décadas, apenas um funcionário do gênero masculino foi contratado e se mantém na equipe, condição que não é suficiente para a empresa perder o conceito de ser essencialmente feminina.
“Contratamos mulheres por sua natureza intuitiva. Elas possuem características que são essenciais para o desenvolvimento da nossa atividade, como resiliência e paciência, além, é claro, de sua competência, comprometimento e profissionalismo”, destaca o diretor, André Bergamaschi.
Para se manter no ramo de atuação e no mercado de trabalho com solidez, apesar dos desafios da atividade, a Orgatec não abre mão de dar oportunidade de crescimento e de valorizar as potencialidades de suas funcionárias.
Os diretores da empresa entendem que é necessário somar qualificação permanente aos pontos fortes inerentes à profissional mulher, em qualquer ramo de atuação.
“Nos dias atuais, a realização profissional é uma combinação de cada vez mais fatores; não é tarefa fácil, mas buscamos reconhecer e valorizar a dedicação de cada uma nas tarefas que lhes competem e na contribuição que dão ao grupo como um todo; seguiremos dando preferência às mulheres”, completa Bergamaschi.
Malaggi Contabilidade comemora 35 anos
No último 18 de fevereiro, a Malaggi Contabilidade comemorou com seus colaboradores 35 anos de atividade. A empresa, que é dirigida pelo casal Marinês e Roque, o filho Mauríco Malaggi e Tiago Luzzi, tem 29 funcionários, sendo 26 mulheres.
Trajetória
Roque conta que trabalhava no Banrisul e Marinês em um escritório de contabilidade. “Queríamos começar a nossa empresa. Ela estava grávida de seis meses da Alessandra e a gente planejava o segundo filho, que era o Escritório! O Maurício veio mais tarde”.
Propósito
Marinês lembra que o propósito do novo empreendimento era prestar um serviço diferenciado, e que começaram a trabalhar em casa. “Foi um início difícil, como é todo o começo. Um ano depois, transferimos o escritório para o centro e essa é a data que contamos como o início de tudo: 17 de fevereiro de 1988. De lá pra cá, evoluímos naturalmente enquanto prestadores de serviço e, acompanhamos o crescimento de nossos clientes e das comunidades onde temos nossos parceiros.”
A meta era conquistar 100 clientes. Quanto tempo levou para atingir o objetivo?
Atingimos a mete antes dos cinco anos de atividade. Atualmente absorvemos 30% do mercado local.
A visão de futuro da empresa está focada em que valores?
Ética, sigilo e valorização dos clientes e equipe de colaboradores norteiam nossos valores. Temos como missão contribuir com o desenvolvimento e crescimento das empresas com total comprometimento.
Temos como norma a atualização constante e permanente da equipe, em todas as áreas, e principalmente em informática e TI, embora o mercado não esteja acenando para surgimento acentuado de novas empresas.
Quem faz a contabilidade conhece a fundo a realidade das empresa. Com 35 anos de história, qual o perfil do empresariado local?
São muitos tipos de clientes e cada um é único. No entanto, observa-se claramente que o empresário se atualiza e acompanha as mudanças socioeconômicas do próprio segmento, principalmente se organizando nos processos e aperfeiçoando a gestão do seu negócio. O empreendedor precisa estar em constante evolução para crescer e/ou manter-se no mercado.
Na próxima semana comemoramos o Dia Internacional da Mulher. Por que os escritórios de contabilidade são ambiente predominantemente femininos?
Acredito que é próprio da mulher a organização e a adaptação a este tipo de trabalho , que é minucioso, exige muita atenção.
Colaboradora com mais tempo de casa
Evandra Beneduzi trabalha na Malaggi há 30 anos. Iniciou fazendo o serviço de rua e bancos. Depois, atuou no setor financeiro por oito anos, e finalmente, no setor contábil, onde está até hoje.
“Eu era uma moça quando iniciei. Tinha apenas 19 anos e muitos objetivos para alcançar. Tudo era novo e jamais imaginei que ficaria tanto tempo na empresa. Para mim, é um orgulho estar no escritório Malaggi. Eu aprendi absolutamente tudo o que sei aqui, e sempre tem algo novo e desafiador para aprender. Criei amizades e vínculos que são para a vida toda, e posso dizer que passou muito rápido. Eu tenho muita gratidão e respeito pelo Roque e pela Mari.“
“Meu trabalho é parte da minha família”
Minha trajetória na Baldo iniciou no dia 1º de março de 1978. Na época, o bairro Lago Azul era deserto, as comunicações e o acesso eram péssimos. Algum tempo após, chegou o telefone com discagem direta. Na sequência veio o telex, depois o fax, que facilitaram os contatos para o desenvolvimento das atividades.
As máquinas de escrever eram manuais e a chegada da máquina elétrica, com fita corretiva, foi uma emoção. Os formulários de controles eram mimeografados, que foram substituídas pelo xerox. Com o passar do tempo, tudo foi se tornando obsoletos. Os jovens, provavelmente, nunca ouviram falar destes meios de comunicação e equipamentos.
Também ocorreram várias enchentes, que interrompiam o acesso repentinamente, obrigando-nos fazer a travessia de barco, que por vezes acabava se tornando uma aventura divertida.
Meu primeiro registro na Baldo foi como auxiliar de escritório, após secretária e hoje Gerente Operacional de Comércio Exterior. Como éramos poucos funcionários na época, fazíamos frente a várias atividades, atendendo as necessidades que iam surgindo. A empresa foi evoluindo, as exportações crescendo e foi necessário definir as funções, quando acabei me dedicando mais à operacionalização do Comex, que já vinha me identificando com dinâmica.
Pela longa trajetória, tive oportunidade de acompanhar o crescimento da empresa, vivenciando várias dificuldades que foram surgindo no caminho, porém sempre tive a certeza da superação, pela seriedade e competência dos diretores. Tenho muito orgulho de fazer parte desta história, onde sempre fui muito respeitada e valorizada.
Hoje, considero a Baldo como parte da minha família e tenho enorme carinho pela direção, seus familiares e colegas, cujo vínculo tem me dificultado pensar no encerramento das atividades. Como ninguém é eterno, tão pouco insubstituível, a sucessão terá que acontecer em algum momento. Neste sentido, o setor conta com mais duas pessoas, que também estão se empenhando para desenvolver as atividades com muita seriedade e comprometimento.
Para finalizar, deixo um recadinho aos jovens que estão ingressando no mercado de trabalho: Conquistas só se conseguem com seriedade, comprometimento e muita dedicação. Nada é milagroso”.
Por enquanto somos os olhos do Matheus
Salete Maria Chiarello Dalla Lasta começou a trabalhar no setor contábil em 1970, na Farinha Orquídea, em Bento Gonçalves. Ali tomou gosto pela atividade e dez anos depois formou-se bacharel em Ciências Contábeis.
Em Encantado, primeiro trabalhou na extinta Malharia Loneze e, à noite, em casa, fazia a contabilidade da Casa Bertozzi.
“Em 1996 abrimos o escritório aqui no centro e tive a felicidade de ver meu filho Matheus seguir no mesmo ramo. Tem um bom tempo que ele assumiu o comando do escritório e faz isso com muita propriedade”, diz Salete.
A equipe é formada por sete pessoas, cinco mulheres e dois homens. Dilaine, a esposa de Matheus, é formada em administração de empresas e trabalhou por quase 20 anos na Orgatec. No ano passado integrou-se à equipe para ser os olhos do Matheus, temporariamente, pois ele está com sua visão comprometida. Ela lembra que no antigo trabalho atuava no setor contábil, e agora seu olhar é geral. “Vim para somar. O que facilita meu trabalho é que o Matheus está trabalhando do meu lado, então somos um o suporte do outro”.
“As mulheres são mais pacientes, organizadas, intuitivas e proativas e esses são requisitos determinantes para trabalhar numa área que requer tantas habilidades”, justifica Matheus Dalla Lasta, ao fato da contabilidade ser um ambiente onde predominam as mulheres.
O contador lembra que antes de cursar Ciências Contábeis, chegou a cogitar a faculdade de fisioterapia, mas a facilidade com os números, com as palavras, a influência materna e um escritório em plena atividade foram decisivos na escolha.
Em julho, Matheus enfrenta nova cirurgia, e desde já ficam as orações e a torcida pelo reestabelecimento da sua visão.
“Aqui eles começaram a conquistar seu espaço”
Com 31 anos de história, trabalhar com prazos curtos e sob pressão continua sendo o desafio das irmãs Naide e Nádia Locatelli, juntas à frente do escritório de contabilidade que leva o sobrenome de ambas.
Neste cenário, durante muitos anos, as equipes de trabalho foram construídas a partir de um critério primordial: ser mulher. Isso porque, na visão de Naide e Nádia, as mulheres têm, em geral, mais condições de sobreviver às adversidades do dia a dia, de lidar com os desafios que o trabalho exige, assim como têm muito foco e criatividade.
Entretanto, segundo as contadoras, isso não desmerece a atuação dos homens, que, segundo eles, têm mais facilidade de manter o equilíbrio emocional. “O ponto fraco de trabalhar apenas com, e entre, mulheres, é essa questão emocional; a gente se desestabiliza com mais facilidade diante de questões envolvendo relacionamentos interpessoais e demais situações humanas, acho que porque o nível de empatia também é mais elevado”, explica Naide. “No entanto, esse perfil não chega a comprometer a qualidade do trabalho em si, apenas exige mais esforço para manter o foco“.
Perceber os pontos fortes dos homens e dar a eles oportunidade de trabalho no escritório que, durante 29 anos, contratou apenas moças e mulheres, foi o passo diferenciado na história do Escritório Contábil Locatelli. O privilegiado foi Luan Schaeffer, o primeiro bendito fruto entre as mulheres. Ele chegou há pouco mais de um ano e de cara sentiu qual seria seu principal desafio: se adaptar não à pressão do trabalho pelos curtos prazos, mas à interação com as colegas de trabalho.
“Foi muito estranho, porque eu não me encaixava em nenhum assunto que não fosse sobre trabalho”, recorda. Com o tempo, o dia a dia de Luan foi se tornando mais leve, com a acolhida das colegas e das líderes, cuja empatia fizeram toda a diferença para o clima organizacional.
Assim como Luan foi o primeiro funcionário homem no escritório Locatelli, o escritório Locatelli foi sua primeira experiência apenas com mulheres. “Trabalhar com elas é uma outra perspectiva; difícil no começo, mas a gente se adapta”, ilustra, em meio a risos.
A fiel escudeira
Junto com Naide e Nádia está Luciana Mirela Buffon. Ela atua no grupo de funcionárias há 29 anos e, como funcionária mais antiga, acompanha as evoluções tecnológicas, legais e comportamentais. “Acredito que nós, mulheres, somos mais resilientes para o exercício de qualquer função, principalmente nos serviços administrativos, onde estamos diretamente expostas a novos e crescentes desafios”, explica. “E vamos além!”, completa.
Para Luciana, comemorar o Dia da Mulher é dar-se conta do quanto cabe à mulher equilibrar os espaços em que atua. “Além de todos os esforços e desafios do mercado de trabalho, conseguimos conciliar trabalho, casa, família, filhos; nossa habilidade feminina nos faz sermos verdadeiras guerreiras”, conclui.
O treinador e seu time de craques
“Bendito entre as mulheres”. Esse é o papel do contador e professor aposentado José Carlos Gonzatti no escritório JC Contabilidade situado na rua João Lucca, 1570 no centro de Encantado.
O escritório tem mais de três décadas de serviços prestados e o grupo mantem vínculo estreito com seus clientes, em atendimento personalizado e direto.
A esposa Marlene e a filha Bruna, também contadoras, fazem parte do time que conta com mais oito profissionais com formação na área contábil. Conforme Zé Gonzatti, como é conhecido na comunidade, as mulheres tem maior facilidade de comunicação, “elas são diretas, conseguem fazer várias tarefas ao mesmo tempo, visualizam o conjunto sem deixar de cuidar dos detalhes e ainda são precisas e intuitivas”.
Bruna Gonzatti Schuh seguiu a profissão dos pais. Mãe de dois garotinhos, ela, como todas as mulheres que trabalham fora, concilia a maternidade e a profissão, ambas motivo de satisfação e realização: “O ambiente de trabalho é fundamental para o rendimento de cada um, e aqui somos uma família, todos se ajudam e assim tudo fica mais leve e prazeroso”.