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“Jamais subestimar a dor das pessoas, independentemente de quais foram suas perdas”: afirma psicóloga ao abordar a saúde mental

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A resposta ao estresse após a tragédia das enchentes no Rio Grande do Sul será inevitável e afetará cada vítima de maneira única. Isso ocorre porque o impacto emocional é influenciado pelas experiências de vida, perdas sofridas e estado psicológico de cada indivíduo. A saúde psicológica de muitas pessoas foi exposta, pois está intimamente ligada aos seus bens e liberdades. 

Quando essas são removidas, ocorre uma desintegração emocional. Esse fenômeno será visível por algum tempo, devido aos desafios intensos que precisam ser enfrentados. Em entrevista ao Jornal Força do Vale, a psicóloga Gisele Santin, aborda os sintomas psicológicos, formas de luto e como ajudar uma pessoa que vive esse processo.

Quais são os principais sintomas psicológicos que as vítimas de enchentes podem apresentar a curto e longo prazo?

(G) É importante salientar que existem reações previsíveis e consideradas normais como reação a uma tragédia, ou seja, que não configuram um transtorno psicológico propriamente dito. Entre esses sintomas, podemos destacar tristeza, sensação de anestesia emocional, ansiedade, angústia, raiva, sensação de perda de controle, desespero e desesperança.

Também é muito comum as pessoas perderem a noção de tempo, apresentarem dificuldades de memória e concentração, dificuldades para dormir e isolamento social. Esses sintomas são típicos de um estresse agudo e tendem a diminuir após 30 dias do evento traumático.

A longo prazo, algumas pessoas podem vir a desenvolver o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). Em média, 20% das pessoas poderão desenvolver esse transtorno, que tem como principais características:

Presença de flashbacks: a pessoa pode reviver o evento traumático, tendo a sensação de que ele está acontecendo novamente.

Pesadelos recorrentes: sonhos perturbadores relacionados ao evento traumático.

Pensamentos intrusivos: pensamentos, memórias e imagens relacionados ao trauma que aparecem de maneira involuntária e angustiante.

Evitação: evitar lugares, pessoas e atividades que lembrem o trauma.

Hipervigilância: estar constantemente em alerta, tenso e vigilante.

Reações de sobressalto: irritabilidade, raiva ou comportamento impulsivo.

Na nossa região, também nos preocupa muito o aumento do uso abusivo de álcool e a possibilidade de aumento nos índices de suicídio.

Quais são as fases do luto que uma pessoa pode passar após perder entes queridos e bens materiais em uma tragédia natural? 

(G) O processo de luto é único e individual, portanto, comparações entre indivíduos e suas perdas não devem ser feitas. Toda manifestação de luto deve ser reconhecida como potencialmente geradora de sofrimento, independentemente da natureza da perda. É quem vive o luto que sabe da importância daquilo que foi perdido para sua vida.

Podemos entender o processo de luto como uma montanha-russa, onde o enlutado oscila entre se conectar com a dor da perda e com a esperança de reconstruir a vida. Algumas particularidades podem influenciar no processo de luto, como a magnitude e a duração do evento. Infelizmente, nossa região passa por um evento extremo, de grande magnitude e gravidade, com acontecimentos sucessivos, como enchentes repetidas, deslizamentos nunca antes vistos na região e dificuldades adicionais, como falta de acesso, falta de luz e água, e até de mantimentos básicos nos primeiros dias após a enchente. Sem contar que ainda estávamos em processo de elaboração do luto da enchente de setembro. Assim, faz-se de extrema importância um olhar de cuidado e atenção à saúde mental da nossa população.

Quais são as melhores práticas para ajudar alguém a lidar com o luto após uma tragédia?

(G) Jamais subestimar a dor das pessoas, independentemente de quais foram suas perdas. É fundamental fortalecer as pessoas individualmente, mas também é de extrema importância fortalecer o senso de comunidade, visto que estamos vivendo um luto coletivo, onde quase todo um Estado foi afetado.

Inicialmente, é fundamental garantir que as pessoas estejam em segurança e que tenham suas necessidades básicas atendidas. Isso inclui acesso à informação correta (como onde conseguir recursos, alimentação, cobertores, fazer cadastro e encaminhar os auxílios governamentais), e garantir o acesso aos serviços de saúde e assistência.

 

 

 

Gisele Santin é formada em Psicologia pela UNISC, possui mestrado em Educação, especialização em Terapia Cognitivo-Comportamental e formação em Terapia Comportamental Dialética. Atua como Psicóloga Clínica em consultório particular e como Psicóloga do CAPS da prefeitura de Encantado.

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