Caso Rafael: entenda o júri da mãe acusada de matar o filho em Planalto
Alexandra Dougokenski é acusada de matar o filho, Rafael Mateus Winques, de 11 anos, em maio de 2020. Corpo do menino foi encontrado 10 dias após desaparecer.
O júri de Alexandra Salete Dougokenski, acusada de matar o filho, Rafael Winques, em maio de 2020, recomeçou nesta segunda-feira (16), às 9h, no Salão do Júri da Comarca de Planalto, no Norte do Rio Grande do Sul, presidido pela juíza Marilene Parizotto Campagna.
Alexandra está presa e responde por quatro crimes: homicídio qualificado (motivo torpe, motivo fútil, asfixia, dissimulação e recurso que dificultou a defesa), ocultação de cadáver, falsidade ideológica e fraude processual. Entenda os principais pontos deste julgamento:
1. Quem foi ouvido
O júri do Caso Rafael recomeçou com a previsão de que 11 testemunhas sejam ouvidas em plenário. Na segunda-feira (16), primeiro dia do julgamento, depuseram Ana Maristela Stamm, ex-professora de Rafael; o delegado Ercilio Raulileu Carletti, que conduziu as investigações na época do crime; e o delegado Eibert Moreira Neto, que começou a participar do caso após a polícia do local encontrar o corpo. No segundo dia, foram ouvidos Delvair Pereira de Souza, ex-namorado de Alexandra; Anderson Dougokenski, filho de Alexandra e irmão de Rafael; e Rodrigo Winques, pai da vítima. Prestaram depoimentos também a professora Ladjane Ravagio; a mãe de Alexandra e avó de Rafael, Isailde Batista; Alberto Moacir Cagol, tio de Rafael e irmão de Alexandra; e a perita criminal Bárbara Zaffari Cavedon. No terceiro dia de júri, houve interrogatório da ré Alexandra Dougokenski. Após essa etapa, os jurados assistem ao debate entre acusação e defesa, antes de se reunirem para definir se a denunciada é culpada ou inocente.
2. O que disseram as testemunhas
Ana Maristela Stamm, ex-professora de Rafael, afirmou que o menino era muito inteligente, disciplinado e querido, mas muito quieto. Ela lembrou que, durante as buscas por Rafael, foi algumas vezes à casa de Alexandra. Disse que a mãe do menino não parecia aflita com o desaparecimento do filho e “se mostrava tranquila”.
O delegado Ercilio Raulileu Carletti, que conduziu as investigações na época do crime, destacou que ao fim do inquérito não restou dúvidas para a polícia de que Alexandra havia matado o filho. “Tenho certeza absoluta que foi ela [que matou Rafael]. Se não tivesse certeza não teria indiciado ela”, disse. Ele lembrou que, no dia da reconstituição do crime, Alexandra reproduziu o nó duas vezes e com relativa tranquilidade.
O delegado Eibert Moreira Neto, que passou a acompanhar o caso em razão da pequena equipe disponível em Planalto, disse que todas as hipóteses foram investigadas pela polícia, porém todas elas foram “totalmente” afastadas, como a de que Alexandra encobria outra pessoa ou contava com ajuda de terceiros. Ele ainda destacou a participação da ré na constituição do crime, que foi tensa, mas por motivos que o chamaram a atenção: “Na nossa concepção ela estava assim por conta da morte do Rafael. Mas ela deixou claro pra gente que estava daquele jeito porque a casa estava fora de ordem”, contou.
Delair Pereira de Souza, ex-namorado da ré, destacou que via Rafael como um filho e que a dinâmica do crime só poderia ser explicada por Alexandra, já que teria sido ela a responsável pelo assassinato. Ele afirmou que a ré nunca se mobilizou para procurar Rafael durante o desaparecimento e que ela mudou diversas vezes sua versão do que aconteceu. “Já está mais do que na hora dela falar a verdade”, disse.
Anderson Dougokenski, filho de Alexandra e irmão de Rafael, disse que Alexandra “foi meu pai e minha mãe e sempre vai ser” e que só gostou de Rodrigo Winques, pai de Rafael, no início da relação do padrasto com a mãe Alexandra. Ele alegou que Rodrigo o abusava sexualmente: “Foi o cara que terminou com a minha vida. Eu fui abusado várias vezes por ele”. Disse ainda que, após a morte de Rafael, ligou para o padrasto para saber do paradeiro do irmão e ouviu de volta “que Rafa?”.
Em um depoimento curto, a professora Ladjane Ravagio disse que Rafael “sempre foi muito reservado e aparentemente gostava da mãe”. Isailde Batista, mãe de Alexandra e avó de Rafael, afirmou que a filha seria uma “mãezona” e que “Rafael nunca chamou aquele homem [Rodrigo] de pai”. Alberto Moacir Cagol, tio de Rafael e irmão de Alexandra, disse que a ré era uma boa mãe para os filhos e que tanto Rafael quanto Alexandra chamavam o pai de menino, com quem ele não demonstrava desejo de morar, de “Demo”. Por fim, a perita Bárbara Zaffari Cavedon relatou que Alexandra não conseguiu carregar o boneco representando Rafael durante reconstituição do crime por conta das dimensões do manequim, mas que detalhou como teria posicionado a corda no corpo de Rafael.
3. O que disse a mãe de Rafael, que é ré do caso
Alexandra Dougokenski responsabilizou o ex-companheiro Rodrigo Winques pela morte do filho. Segundo ela, Rodrigo chegou até a residência em um veículo e amarrou Rafael com uma corda. Ele estaria acompanhado de um outro homem a quem Alexandra disse não conhecer. Alexandra afirma que foi o ex-companheiro Rodrigo Winques quem colocou o corpo de Rafael na caixa em que o menino foi encontrado 10 dias depois.
“Me disse [o ex Rodrigo Winques] a todo momento que se eu contasse alguma coisa [que o ex teria matado o filho] ele ia voltar e matar toda a minha família. Que ia me deixar sozinha, que eu não ia ter ninguém, e eu só ia depender dele”, disse a ré.
Em diversos momentos do interrogatório, Alexandra afirmou que Rodrigo Winques e o filho Rafael tinham uma relação ruim. Ela disse que o filho Rafael a salvou da morte em pelo menos duas oportunidades. Na primeira, segundo ela, Rodrigo teria a agredido com um soco e a ameaçado com um garfo, mas teria sido impedido pelo menino.
”A outra vez foi numa tarde. O Anderson tinha saído, acho que tinha turno inverso na escola, para fazer algum trabalho. O Rodrigo veio com uma faca para cima de mim porque eu não quis ter relação com ele naquele momento. Tava só o Rafael ali e eu não achava conveniente quando ele queria ter relações quando meus filhos estavam em casa. Ele pegou uma faca e veio para cima de mim. O Rafael viu e se jogou e ficou em cima de mim”, contou Alexandra.
Ao ser questionada pela juíza Marilene Parizotto Campagna sobre os medicamentos encontrados pela perícia no organismo do menino, Alexandra disse que ministrou “uns dois dias antes” do ocorrido. A magistrada também perguntou a Alexandra por que ela decidiu, depois de dez dias, indicar a localização do corpo de Rafael e assumir a autoria do crime. Ela disse que não aguentava mais ver o outro filho, Anderson, definhando.
4. O que disse o pai de Rafael
O pai de Rafael, Rodrigo Winques, solicitou que Alexandra Dougokenski não estivesse na sala durante o depoimento. O homem afirmou que ajudava financeiramente o filho quando podia e que viu Rafael no início da pandemia, semanas antes da morte do menino. Rodrigo contou aos jurados que Alexandra dificultava o contato dele com o filho. A testemunha também negou ter problemas com o antigo enteado, Anderson. Questionado sobre o porquê de nunca ter pedido a guarda de Rafael, Rodrigo Winques alegou que “pedir é uma coisa, levar é outra”.